Cafeína comentada

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"Cada um deverá ter, pelo menos, o mínimo indispensável para não ficar na estrada, porque o homem não vive de graça. Daí até afirmar-se, por exemplo, que é o bem-estar resultante da riqueza e abundância que permite ao homem dar realidade ao seu temperamento criador, e seja esse bem-estar a condição indispensável para a produção de obras duradoiras, vai uma grande distância. Isso aplica-se àqueles que olham o mundo de longe, que lhe fogem ao contacto, trancados na imaculada torre de marfim. A arte, por exemplo, não é só a expressão, o que produz o esteta frio, distante e inacessível - é, sobretudo, o que salta faiscante do fogo da vida, da luta, dos deseesperos e dessas verdadeiras humanas alegrias. É o que tem sangue porque ao mesmo tempo é vida e vive. Os mais profundos e autênticos impulsos criadores provêm da dor e do inconformismo, do ódio, do amor e da revolta., em suma, da compreensão, que é o produto das mais duras experiências."

Manuel Lopes - Os meios pequenos e a Cultura


Comentário: cruzei-me com este texto do claridoso Manuel Lopes quase por acaso. Foi escrito à meio século, fala de meios pequenos, dos preconceitos relativamente à criação artística e à cultura e a importância destes bens essenciais para a sociedade, mais ainda em meios pequenos. É espantosa (e devo dizer, assustadora) a actualidade deste texto. Ou o mundo dá mesmo muitas voltas e acabamos por ir parar aos mesmos lugares de sempre ou nunca muda, embora pareça o contrário. Continuaremos a dar conta deste pensamento de Manuel Lopes, em futuras ocasiões. Há muito, muito para partilhar.




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1 comentário:

Unknown disse...

Manuel Lopes, a 50 aos de distancia, fala, claro, de outras gentes, outras agruras, outras exigencias que, nem por isso, cerceavam ao homem o dom da criação
artistica, a sua vitória na luta pela sobrevivencia, às vezes...Entretanto, quero crer que a criação se tenha emburguesado não por culpa dos artistas mas porque não é nenhum pecado viver um pouco melhor do que os criadores anónimos de antanho!