Declaração Cafeana

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Miguel Pinheiro é um actor português com vasto currículo que um conjunto interessante de coincidências acabou por fazer chegar ao Mindelo, com um inovador projecto teatral que desenvolve na zona de Ribeira de Craquinha, a que deu o nome de "Min-delo". "A partir da exploração corporal de algumas técnicas teatrais de tradição europeia será construída uma performance de dança, música e teatro que irá ligar a periferia ao centro da ilha de São Vicente: uma ponte humana, e performativa, que irá envolver artistas, comunidade e crianças do Mindelo (centro) e da Ribeira da Craquinha (periferia), numa comunhão de corpos e vontades em procissão experimental até ao centro da cidade", pode-se ler na sinopse do projecto, na página oficial do artista.

Chegou sem saber muito bem ao que vinha, com os ouvidos cheios de murmúrios sobre a existência de alguém no Mindelo que não permitia que ninguém além dele próprio desenvolvesse qualquer tipo de actividade teatral em Soncent e arredores, mas como homem inteligente que é, lá pensou que não havia de ser assim tão mau, afinal Cabo Verde é país livre e democrático... Além de que, segundo o próprio Miguel escreve, interessava-lhe sobretudo "um teatro fortemente ligado com a vida. Um teatro que explora as potencialidades e os limites de cada um, que quebra com os estereótipos físicos e sociais, que estimula a auto-consciência e a capacidade crítica, que deseja, que procura, que descobre... que seja vida, isto é: grinhessim, tem de existir agora e existir no Mindelo." E por isso veio, de peito feito, pronto para enfrentar a besta (eu, claro), se preciso fosse.

Gosto de gente assim. Bem preparada, que podia estar a desenvolver outro tipo de projectos aparentemente mais "contemporâneos" junto da nata do teatro físico europeu, mas que se arrisca nestas periferias cujo conhecimento real só se pode ter estando, vivendo, respirando o mesmo ar dos que por cá se encontram. Acabou por verificar que não há aqui patrões ou usurpadores, mas apenas gente que gosta muito de teatro, com alguns equívocos típicos dos pequenos locais que tão facilmente como surgem se desfazem e que o importante mesmo é construir, pondo a mão na massa. É isso que tem feito, com os heróis de Ribeira de Craquinha, também com os actores que tem participado na oficina teatral que ministra no centro da cidade e por isso lhe agradeço e vou avisando o pessoal para estarem atentos, já que mais cedo do que se pensa, a periferia vai invadir o centro. No bom sentido da palavra. Como sempre acontece com aqueles que estão na arte para aprenderem a ser mais humanos.

Fotografia e textos "sacados" da página oficial de Miguel Pinheiro. (aqui)




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