Café Concerto

5 Comments

O escritor e investigador António Tomás
vai estar por aqui na sexta-feira, dia 25 de Janeiro
a apresentar e lançar o seu livro.

A não perder!


«O Fazedor de Utopias -
uma biografia de Amilcar Cabral»


Vamos ver, ouvir & comentar!

Horário: às 18:30
Local: Biblioteca do Centro Cultural Português - IC, em S.Vicente





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5 comentários:

Anónimo disse...

Os que já leram o livro avançaram boas dicas acerca do livro. Mas vamos ser os mesmos de sempre a assistir e a comprar livros. Kb

Unknown disse...

KB, o maior problema foi quando deixou de haver «vernissage» - comes e bebes - nos lançamentos! O público diminuiu drasticamente...

Abraço

Anónimo disse...

Oh João por estas bandas costumam colocar na mesinha cuscus, pasteis de milho, queijinhos, e outros inhos da terra.... é pá vejo sempre os acostumados maxilares (escassos)a vernissagiando licores em punho.
A malta quer é beberete a sério não importa o livro. Abrç Kb

Unknown disse...

Oh kaka, bem que se diz que no Sul há mais dinheiro que no Norte! Aqui já não se fazem dessas coisas... podem não querer o livro, mas pelo menos ficam ali uns minutos, ouvem umas coisas interessantes, pode ser que comprem mesmo o livro lançado e certamente, além de um estomago mais aconchegado, acabarão por ter uma cabeça um pouco menos vazia.. Ou sou eu que sou demasiado optimista? Blogabraço!

Marta Lança disse...

Li e recomendo vivamente! estou ansiosa para saber a opinião dos caboverdianos sobre este livro que vos dirá tanto!
Aqui vao umas dicas sobre o António Tomás que escrevi para um jornal angolano.Desculpa ocupar tanto espaço e muitos beijos para todos os amigos do Mindelo.
ANTÓNIO TOMÁS – desconstruindo utopias

Perante uma plateia pan-africana Agualusa apresentava um novo escritor e o livro que tem feito saltitar a crítica por ser um africano a escrever com propriedade sobre estas coisas, “numa linguagem jornalística, apoiada numa investigação rigorosa,” e inaugural no discurso de dentro, pois dá “a ver um pensador e combatente africano numa perspectiva africana.” António Tomás acolhia os elogios com o seu ar calmo e ponderado, nesse momento de grande realização pessoal depois de tanta luta e sacrifício para um livro exigente como este dar à estampa. Nós, o público-leitor, queremos perceber a história dos nacionalistas africanos e agradecemos a António Tomás o resultado do seu esforço.
Foi ainda português que nasceu na Luanda de 1973, ano da guerra de Israel e Judeus, de Allende, do boom dos preços do petróleo, dos máximos níveis de produção de café e algodão em Angola e do assassinato de Amílcar Cabral, oito meses antes da declaração unilateral da independência da Guiné-Bissau. António, o mais velho dos rapazes lá de casa entre cinco irmãos, pai de Malange e origens de S. Tomé e mãe de Luanda, passaria a infância numa Angola socialista com filas para o pão e cartões de abastecimento onde se apontava os dois quilos de açúcar e de arroz, mas sem grandes discrepâncias sociais.
“A minha mãe era muito católica e queria-nos fora da política. Então quando os meninos da minha idade iam para os desfiles do 1º de Maio ouvir discursos do presidente, nós íamos para a Igreja. Em Angola na igreja exercitava-se democracia.” Foi lá que teve a primeira experiência jornalística num jornal de parede e onde organizou uma biblioteca. A vontade de ler começa com os despojos do colonialismo, devorando os livros deixados por portugueses. Na casa do vizinho, uma dessas casas abandonadas pelos colonos, descobre os policiais e a sua precisão.Na biblioteca do comissariado de Luanda, descobre os americanos: Hemingway e Faulkner. Mas é Sartre e o existencialismo a primeira marca funda da literatura.
Aos 16 anos escreve poemas e colabora na feitura de bd. Entra para a Alliance Française para ler mais, os jornais, ver ciclos de cinema, e tenta escrever um romance em francês, porque era a língua cuja aprendizagem tinha maior qualidade. “Percebi que queria escrever e o jornalismo era a forma mais próxima da prática da escrita”. Fez o curso médio de jornalismo enquanto trabalhava na ANGOP e na Rádio Nacional onde escrevia crónicas apaixonadas e o guião do mítico programa pela madrugada da Edite Vasconcelos “Boa noite Angola!”.
Depois prosseguiu estudos em Portugal, com uma bolsa da Gulbenkian estudou comunicação social na Católica. Conheceu o Agualusa que o convidou a escrever para o Público onde trabalhou na área da cultura sobretudo sobre temas africanos. “Tive sorte de encontrar pessoas que acreditaram em mim e me deram oportunidades. Acho que não deixa ninguém indiferente ver uma pessoa que se interessa por livros”. Sempre sentiu uma certa desadaptação em Angola por não ter quase ninguém para partilhar as coisas que gostava e em Portugal encontrou essa identificação. A sociedade portuguesa racista e conservadora revelava-se “quando saía do meio intelectual, apanhar um táxi, alugar uma casa”. Esteve uma longa temporada sem regressar a Angola, e durante esses anos 90 que via o país em guerra à distância, nem frequentava os meios angolanos, porque era muito doloroso. Depois surge o teatro, apesar de já ler Ionesco. Decidiu fazer teatro com dois actores angolanos, Miguel e Zézé Hurst, pois havia tão poucos e limitados papéis para actores negros. Um grupo de teatro com referências africanas era pioneiro em Lisboa. Escreveu o Museu do Pau Preto, peça com que foram a Cabo Verde. “Gostei do trabalho colectivo, entre nós e os actores. Era a primeira peça escrita, produzida, encenada, interpretada só por negros.” Ainda escreveu um espectáculo para Uma mesa e uma cadeira na Culturgest, e uma peça sobre Amílcar Cabral em conjunto com o casal Hurst.
Depois de um mestrado no Iscte, parte para os Estados Unidos para fazer o Doutoramento em Antropologia na Universidade de Columbia onde passou três anos e aprendeu muito em termos académicos. Mas antes disso ganhara uma bolsa “Criar Lusofonia” que lhe permitiu começar a sua pesquisa sobre Amílcar Cabral, uma figura que sempre lhe chamou a atenção. Seguiram-se viagens a Cabo Verde, Guiné-Bissau, Paris. Entrevistas, cartas e a documentação no espólio da Fundação Mário Soares. Cruzar os dados, construir o perfil desta figura-chave para a compreensão dos movimentos independentistas das antigas colónias africanas portuguesas. Muitos sofás emprestados por amigos onde descansava depois da febre de escrever páginas e páginas sobre uma vida tão atribulada e reveladora do contexto e época deste homem. Tudo para devolver ao grande público uma narrativa que as gerações mais jovens devem conhecer e as mais velhas lembrar.

É em 2007 que a editora Tinta-da-China, cujo catálogo exala vitalidade e qualidade, pega na fabulosa biografia que António Tomás lhes entrega, um “golpe de sorte” como diz a editora, para a tornar neste livro, pronto para as leituras devotadas. E assim nos chega O Fazedor de Utopias - Uma Biografia de Amílcar Cabral que tantos dados nos dá sobre um dos idealistas mais importantes da história recente do continente africano. Depois de tudo, Tomás diz que o mais importante legado de Cabral é “a humanidade, a sentimentalidade, a crença num futuro melhor” deste nacionalista que teve, como outros, que resolver a crise enraizada na sua própria identidade, de ser português e africano ao mesmo tempo, resolução que passava pela auto-determinação do seu povo num movimento alargado. Na descrição das práticas e conceitos da “guerra anti-colonialista”, percebemos a tentativa deste homem, que se dizia humanista, para fundar “um meio termo entre o ideal comunista de Mão Tsé Tung – o poder da classe camponesa – e de Ernesto Che Guevara – o poder da revolução de quadros”. Revela-nos o seu “sonho irrealista de defender a unidade entre guineenses e cabo-verdianos”, o lado prático do estratega e as qualidades éticas de pensador.
O livro irá ser lançado numa edição caboverdiana, na terra que tanto fez sonhar Amílcar Cabral. António Tomás passará o ano de 2008 em Angola a fazer trabalho de campo para a sua tese cuja escrita retomará nos EUA. A disciplina e a exigência consigo mesmo fizeram-no chegar até aqui, com a persistência de quem acredita, tal como Cabral, que o conhecimento e a cultura são formas eficazes de evolução das sociedades.