Plágio 05: sobre Bento Oliveira

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Adoro o trabalho do Bento Oliveira. Aliás, adoro o Bento Oliveira. Um ser humano doce, sonhador, talentoso, generoso, volátil. Trabalhei com ele na peça «Auto da Compadecida» (ver aqui), e espero vir a trabalhar com ele muitas outras vezes.

Abraão Vicente, no programa da exposição que Bento apresentou na cidade da Praia escreveu, Djinho publicou no seu blogue. Gostei do que li, e por isso, cá vai o plágio.

Então cá vai:

«Entre o trabalho e o sonho, mas também, entre a memória e o esquecimento, entre o momento e o movimento, entre Bento e a sua condição existencial de mediador. Mediador do não dito, mandatário da imanência das coisas e das estórias. Como persuadir os olhos que vêm que as linhas, as cores, as formas, a matéria no papel, do papel, no corpo da obra é apenas pretexto. Nunca linha, cor, forma, matéria, corpo, mas apenas subterfúgio, empréstimo do tempo à substância para que a obra seja coisa de se ver. Por fim, como dizer em poucas palavras que aqui se reinventa a natureza das coisas e que o mimetismo além de metáfora é linguagem.

A obra de Bento nasce de um exercício de síntese, de procura minuciosa de sentido nos signos, mas também o inverso: do signo nos sentidos. A economia de recursos em cada composição surge, não como escassez de presságios, mas sobretudo como predição de que a cada momento pictórico corresponderá um exacto estado místico encarnado por objectos, que claramente, se disfarçam de gente e dão sentido à narrativa.

Bento Oliveira, como artista cabo-verdiano é fiel ao imaginário, aos símbolos e à riqueza espiritual da sua cultura, remetendo declaradamente as coordenadas espaciais do seu âmago como ser para um espaço preciso: 15 17 N (Santo Antão). Por outro lado, como artista universal e contemporâneo, reinterpreta as noções de tempo e dialecto, negando a narração fechada dos factos, mitos, ícones e clichés rotulados como o “tipicamente cabo-verdiano”.

A obra de Bento é a mais recente afirmação da inovação nas artes plásticas cabo-verdianas que se atesta não na recusa da tradição, mas na sua definitiva renovação. A linguagem plástica de Bento estende-se da pintura e desenho à gravura, à escultura, à instalação e à performance, o que o torna um artista de características únicas dentro do panorama das artes plásticas cabo-verdianas.»

Imagem: pormenores do trabalho de Bento Oliveira, na peça «Auto da Compadecida




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