Declaração Cafeana

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A menina a que todos chamam de gorda, passa dias sem comer para perder peso. O menino apelidado de burro, quem sabe tenha problemas de aprendizagem. A menina dita feia passa horas arrumando-se para que colegas a aceitem. O menino que é provocado e gozado na escola, pode receber maus tratos em casa e esse comportamento só estará a contribuir para destruir sua auto-estima. A isto chama-se bullying e é uma realidade em muitas escolas de Cabo Verde.

A minha filha Laura, de 13 anos, que frequenta o Liceu Ludgero Lima, em S. Vicente, contou-me vários episódios de arrepiar, de violência física e psicológica de alunos contra alunos. Alguns destes acontecimentos tem lugar à vista de todos e ninguém faz nada. Outras vezes, os alunos queixam-se em casa mas não são levados a sério. Se for rapaz, é apelidado de ter sido pouco macho por "não ter respondido à altura"; se for menina, é apelidada de devassa, porque o mais certo é ter acontecido aquilo por causa "do seu comportamento atrevido."Raramente casos destes chegam às directorias das nossas escolas. Porquê?

Na semana que passou, num liceu do Rio de Janeiro, Wellington Menezes de Oliveira, de 24 anos, ex-aluno, invadiu a instituição de ensino e disparou contra alunos. Principalmente meninas. Todas com idades compreendidas entre os 12 e os 14 anos. Deixou uma carta onde, entre outras informações, afirma ser virgem. Não custa nada imaginar o que aconteceu na cabeça deste psicopata. Matou 12 crianças, 10 meninas e 2 rapazes. Outros encontram-se no hospital em estado muito grave. Atirou para matar. Na cabeça ou no tórax. O Brasil chora. Eu tremo e temo.

Continuemos a ignorar o que se passa nas nossas escolas e um dia a desgraça bate-nos à porta. Não pensemos na forma como andamos a educar e a acompanhar as nossas crianças e um dia seremos confrontados com casos desta envergadura. Algo semelhante já tinha acontecido, por exemplo, nos Estados Unidos (lembrem-se do filme Elephant, referenciado aqui e da reflexão que motivou, aqui). No Brasil foi a primeira vez que um caso destes aconteceu.

E nós, estamos à espera do quê para abrir os olhos?



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2 comentários:

Sisi disse...

Pois é João o Bullying, não só em Cabo Verde, não tem sido encarado com a atenção que merece. Deste um exemplo do Liceu (onde por regra toma proporções mais graves, por se tratar de adolescentes), mas acontece também nas escolas primárias. Fiz um estágio, onde durante 9 meses estive a trabalhar com crianças entre os 9 e 10 anos e no módulo onde abordamos o tema, ouvi na 1ª pessoa relatos de crianças vítimas e também agressoras e não fazes ideia das coisas que fazem umas as outras...dá mesmo medo e pior que os professores, e outros funcionários das escolas não dão conta, até porque na maioria das vezes fazem-no às escondidas e escolhem "bem" as suas vítimas (crianças que andam sozinhas, sem aut-estima...enfim, a escolha é pensada). Os pais por sua vez, nunca levam a sério naquela de "ser coisas de criança" e não têm noção que atigindo proporções extremas há crianças que até se suicidam, que a consequência máxima do Bullying. É preciso mesmo as escolas e famílias começarem a encarar as coisas mais de frente, porque afinal das contas não deixa de ser um crime só porque acontece num recinto escolar com adolescentes/crianças.

Carla disse...

em Cabo Verde, além de esse problema não ser levado a sério há outras coisas que acontecem nas nossas escolas que são de arrepiar, também.
na escola onde estuda a minha filha, por exemplo, há dias aconteceu algo
porque a escola fica longe da cidade, alguns pais pagam táxis para levar e trazer as crianças. há alguns dias um taxista, querendo "conquistar" uma adolescente da escola, deixou que ela dirigisse o táxi. resultado: ela embateu no muro da escola.felizmente não houve vitimas, mas achei no mínimo estranho a direcção da escola não denunciar o taxista (quando havia testemunhas do ocorrido) e fingir que nada se tinha passado.