Um café com... Mário Matos

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O sociólogo Mário Matos escreveu uma interessante crónica no site do jornal A Semana, a propósito do ALUPEC, que merece alguma discussão. Em primeiro lugar porque eu não sabia que o ALUPEC estaria (ainda) em processo de experimentação. Ou seja, estava convencido que estamos perante um facto consumado.

Aqui ficam algumas frases, ditas na primeira pessoa:

«O ALUPEC, enquanto proposta, está, por definição, na fase de experimentação. Tem sido só por definição. Tem-se confundido uso generalizado com experimentação. Esse último vocábulo releva da epistemologia e implica, no caso vertente, a adopção prévia de protocolos de experimentação e de observação. Só se encontra aquilo que se sabe, à partida, se quer procurar...»

«Há um protocolo ou protocolos concebidos para estimular e nortear o uso generalizado do ALUPEC em condições de experimentação? Protocolos que permitam identificar, recolher e sistematizar as dúvidas, as críticas, as propostas e sugestões dos utentes do Alfabeto nos diferentes contextos?»

«Veja-se a esse propósito as inovações estimulantes na poética de Káká Barbosa, na variante de Santiago.»

«Haverão medidas programáticas de promoção e estímulo à escrita do cabo-verdiano? Onde param os “cinco minutos de kriolu” que o fórum parlamentar sobre a língua cabo-verdiana, do mandato anterior, propôs para a Televisão e a Rádio Públicas? Tem havido a preocupação do lançamento de estudos de acompanhamento em relação ao uso generalizado da LCV nos SMS dos telemóveis e na Internet, sobretudo por parte de jovens cabo-verdianos, em todas as partes do Mundo?»

«Seria um erro crasso considerar que o ALUPEC já passou pelo crivo da experimentação só porque parece ter uso generalizado.»

Nota final: numa das peças escritas por Mário Lúcio Sousa editada na recente colectãnea pela Associação Mindelact, «24 horas na vida de um morto», o autor escreve em crioulo. Aliás, é a única das 5 peças escrita na língua cabo-verdiana. Mário Lúcio adopta (e explica, no próprio livro) o que designou «uma escrita de compromisso», tendo em conta as variantes do crioulo. Não segue as indicações «oficiais» alupequianas.

Por isso disse na apresentação da obra, e digo-o agora: o país teria muito a ganhar se os académicos, os estudiosos e os linguistas saissem dos seus gabinetes e fossem falar com os artistas, que utilzam a lingua como ferramente de trabalho.


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2 comentários:

Alex disse...

Bem, lá vou eu meter pitróli na fogueira. Eu bem esperei, esperei, esperei, a ver se alguém beliscava o assunto, mas afinal nada. Estou desapontadíssimo com o respeitável público deste estabelecimento. Proponho que feches as portas por um dia, em sinal de protesto.
1) Acho lamentável que este Post esteja quase a deslizar para as catacumbas do Café, e ninguém pegue nele.
2) Este é um dos aspectos em que a Blogosfera mais me irrita. Fica tudo pelo 'algodão em rama', num jogo superficial de 'toca e foge'. Assuntos que deveriam exigir tomadas de posição ficam por aí aos Deus dará, esquecidos, abandonados, ófãos, enquanto TODA A GENTE FINGE QUE NÃO VÊ.
3) A minha posição está resumida no Blog "Cartas anónimas escritas por mim". A minha reacção ao artigo do Mário Matos no 'A Semana' e a este Post do João, será publicado brevemente em espaço próprio, porque são merecedores de atenção.
4) Concordo em parte com muito do que diz Mário Matos, mas a minha perplexidade é que, antes da crítica espistemológica que ele faz, e que é uma crítica metodológica básica, há a crítica formal e processual, com que todo este processo tem sido conduzido, entenda-se imposto, de forma muito pouco séria, e com critérios de duvidosa cientificidade.
5) Para já fica apenas o meu apelo, que os escreventes em Crioulo opinem sobre este assunto, em todos os momentos que tenham oportunidade para o fazer, caso contrário ele irá passar, mais uma vez, quase silenciosamente (como é desejo de alguns). Apelo à rebelião ortográfica, à indignação cultural, à guerra a todas as formas serôdias e complexadas de nacionalismos que lhe está subjacente.
Voltarei.
ZCunha

Unknown disse...

ZCunha, estive estes dias todos a interrogar-me sobre porque raio um assunto tão nosso, tão premente, tão urgente, tão sério, não estaria a merecer comentários dos cafeanos que por aqui andam. Confesso que fiquei surpreso. E considero o teu comentário extremamente pertinente. é preciso, urgentemente, encontrar bases para uma escrita de COMPROMISSO, e não para uma escrita de IMPOSIÇÃO. Digo eu.