Plágio 09: «La Amistad» e a nova escravatura

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Foi publicado um magnífico texto no espaço do Virgílio Brandão quando, a propósito da visita do navio Amistad a Cabo Verde, o autor escreve sobre as novas formas de escravatura. Não posso deixar de plagiar e registar aqui no Margoso.


Então cá vai:

«A euforia com que se vê a candidatura de Barack Obama a candidato a Presidente dos Estados Unidos é, também, uma demonstração de que a comunidade negra mundial ainda não se libertou do estigma racial e que vêem no Senador do Illinois não como uma pessoa com um projecto mas sim como um redentor da alma da escravidão. Mas este recôndito dream jaze numa falácia pois tal resgate é somente aparente – a escravidão é, ainda, uma realidade em muitos países do mundo, quer na forma tradicional quer na moderna.»

«A passagem do La Amistad por Cabo Verde terá servido, espero, para as pessoas pensarem que o tempo da escravidão não terminou – mudou de forma, mas em substância é a mesma e persiste. Os locais naturais de passagem são e continuam as mesmas – Cabo Verde tem esse destino histórico ditado pela sua estrutura geomorfológica e não pode escapar a isso. O passado é importante, mas o presente e o futuro são-no ainda mais

(...)

«A forma como se tratam os imigrantes ilegais em Cabo Verde não é, em substância, diferente daquela a que Sengbe Pieh (conhecido como Joseph Cinquez) e os seus 52 companheiros do La Amistad foram tratados pelos norte-americanos, ao darem à costa em Long Island, Nova Iorque, no dia 24.01.1839.»

«Será que o povo migrante de Cabo Verde teve tempo e vontade de reflectir sobre isso? Ou o povo das ilhas terá revisitado um outro passado e ficado entretido na festa e, siderado p´vzita d´mercône, pensou que vapor d´Sul tinha chegado, uma vez mais, ao Porto Grande?»

«Temos de parar um pouco, como povo e nação, e pensar no essencial, isto é, nas pessoas, na sua dignidade e nos (nossos) valores que devem nortear as politicas migratórias. Não temos, certamente, de pensar (como o referido representante [?] da nação cabo-verdiana) de forma eurocêntrica, como se fôssemos europeus, e nem temos, necessariamente, de ser guardiões dos portões da Europa.»


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16 comentários:

Alex disse...

Não me canso de recomendar o Bloque Terra Longe. Um dos espaços obrigatórios de visita para quem não se limite a olhar o mundo pela "espuma dos dias". Virgílio é um intelectual, um pensador atento e pertinente. O seu espaço é um dos poucos entre nós onde as ideias são tratadas com o rigor, profundidade, e a exigência que merecem, sem cedências de nenhuma ordem, expondo-se sem limitações, complexos, ou piscadelas d'olho.
O teu Post, para além de pertinente, é uma justa homenagem ao VB, que merece o destaque. Aplaudo e associo-me.
TERRA LONGE, Blog com Selo de Qualidade, e visita obrigatória. Para que não digam que não sabiam nem conhenciam.
ZCunha

Anónimo disse...

...escravatura podé ter acabode na papel(nalguns pais ainda é pratica corrente), mas somente formas de escravatura é que modernizà, e ês ta presente na tudo pais de mundo com nomes diferente, e camuflagens de tude tipo ,com causas e consequências,destaque pa consumismo,globalização,comunismo, capitalismo,guerras,medias,moda,ditaduras,falsas democracias,uffff e mais , mais ,mais lista ca ta cabà hoje, é sô pensa num palavra que logo el têm haver que escravatura, ou seja nun dado momento de nôs vida nô é escravo de qualquer coisa...

Valdevino Bronze disse...

Um questão bastante pertinente:

Polémico, constrangedor e fere susceptibilidades(...)

Continuando a ser básico, aqui vai uma frase que pelo menos 90% dos Cabo-verdeanos já ouviu :
- Não faças aos outros o que não queres que te façam a ti...

Finalizando, na minha "basindade" acho que no ka devia escontá ne nos imigrante ques coza k nos emigrantes te sofré lá fora...aliás, devia sirvi de exemplo pa nô fazé o contrário.

Anónimo disse...

Pois João, faz pouco tempo mesmo que eu vi no Telejornal da TV Record, um caso (de entre 2000 e tal que descobriram)de escravatura à moda antiga (com direito à senzala e tudo)no Brasil, e isto para não falar das formas mais subtís que acontecem no dia a dia. em determinadas situações uma simples denúncia (onde a justiça ñ deixa a desejar) pode pôr fim ao problema, mas infelizmente muitas vezes falta informação da forma de o fazer, daí o receio das pessoas, que indirectamente acabam compactuando com a situação.

Anónimo disse...

em vez de pagiar, devias dar o link para onde foi publivada esse texto cheio de lugares comuns.

Unknown disse...

Anónimo, o link está feito no post, onde está o nome do Virgilio. Estás pouco atento. Será da azia?

Alex disse...

ENTROU-TE UM ELEFANTE NA LOJA, João? Cuidado com os cristais. Ah,ah,ah,ah,!!!!...
ZCunha

Unknown disse...

Zcunha, não ponhas a culpa no Elefante que ele anda por aqui e ainda se zanga connosco!

Anónimo disse...

Decididamente coloco em questão a minha capacidade para escolher nicknames... Joao que tal fazer uma "sondagem" pra me encontrar um nome,digamos ,consensual ? eh eh brincadeira

Unknown disse...

Hehehe definitivamente, o teu registo blogueiro não está fácil!

Anónimo disse...

Caro João Branco,
Confesso ser um frequentador assíduo do blog Terra Longe do Virgílio Brandão, e considero o texto “ ‘La Amistad’ e a nova escravatura” um dos melhores textos do Brandão, não que os outros não estejam à altura desta, mas porque de uma forma tão arrojada e perspicaz ele abordou um tema muito delicado e que poucos têm ousado tocar publicamente. Todos nós sabemos, penso eu, de que a segurança apertada e toda a parafernália que os nossos polícias têm utilizado para escoltar os imigrantes ilegais têm sido excessivas. Essas pessoas, nada mais fazem do que fugir da miséria e da desgraça que, muitas vezes, grassam os seus países em busca de uma vida melhor. Essa atitude temerária por parte desses migrantes tem levado a morte de muitos deles em pleno alto mar. Saem à noite rumo a uma ignota rota e enganados por algumas pessoas que lhes prometem levá-los até as Canárias são abandonados nas nossas águas.
O que tem tornado lugar-comum é a retórica, de alguma comunicação social e não só, de que os imigrantes da costa da Guiné, da Nigéria ou Gana, os deportados dos E.U.A, e as nossas “crianças de rua” são os responsáveis pela insegurança e criminalidade em Cabo Verde. Essa análise mediática e apressada tem apontado as pessoas que atrás mencionei como os bodes expiatórios dos males sociais de Cabo Verde. Acho que em vez disso temos que ter em conta e focar os nossos problemas internos, os nossos desequilíbrios e fragilidades sócio-económicas, a falta de emprego etc. Há que investir mais na educação, saúde, cultura por exemplo, e outras formas de desenvolvimento que possa criar postos de emprego, que não sejam exclusivamente os de transformar algumas ilhas em campo de golfe.
Retomando o texto do Brandão sobre a passagem da réplica do “La Amistad” a Cabo Verde e a forma como se tratam os imigrantes ilegais em Cabo Verde, é de notar que a comitiva do La Amistad foi recebida na nossa capital e na Cidade Velha com toda a “pompa e circunstância” e em clima de “quase apoteose”, nada contra e achei louvável a iniciativa. Todavia, defendo que temos de tratar também os imigrantes do nosso continente – aqui não estou a referir somente aos imigrantes ilegais mas aos legais também - que vivem e trabalham no nosso torrão dignamente, pois acho que eles são, muitas vezes – para não dizer quase sempre, mal recebidos e acarinhados. Espero que nós os cabo-verdianos possamos fazer jus à palavra “morabeza” que tanto utilizamos, e que não a tornemos oca. Para além disso, infelizmente muitos cabo-verdianos chamam a esses imigrantes pejorativamente de “mandjaco”, um dos grupos que - juntamente com os balanta, papel, mandinga, fula, bijagó, jalofo, portugueses, judeus ou genoveses - deu ao cabo-verdiano o seu colorido genético e cultural. Temos de ter a consciência do que fomos, do que somos, e do que podemos fazer para alterar a situação vigente. Mas, como diria Goethe: “ O homem de acção não tem consciência, só tem consciência aquele que contempla”. Sim, temos que contemplar e não só, temos que reflectir e agir tenazmente para que os nossos irmãos africanos sejam tratados condignamente pelas nossas autoridades e pelo nosso povo.
Abraços!
Ruben.

Unknown disse...

Rubem, belo e pertinente comentário. Um forte abraço.

Alex disse...

Ruben? Por onde tem andado o meu amigo??? A casa não é minha, mas seja sempre bem vindo. Saravá! Boa malha!

Sr X, sorry. Mas a trombada (salvo seja) era para outro. Não mudes nada, às vezes os equívocozinhos até que são sááábi. Aliás o 'marfim' da tua presença é já inconfundível.

Abç's aos 3
ZC

Unknown disse...

ZCunha, não me parece que o nosso Hiena/Elefante/ou seja lá o que for vá perder o seu bom humar. Saravá!

Anónimo disse...

Olá Alex! Obrigado e já sabes, com a devida permissão do João, o café já é da malta. É só rasta cadera i senta :)
Tenho andado por aí com algumas ocupações... mas todos os dias religiosamente dou uma espreitadela no Margoso.
Um forte abraço pa bo ma João.
Ruben.

Unknown disse...

Ruben, tens toda a razao. O café é vosso! Abraço!