Cafeína

11 Comments


«Mana, eu estou muito feliz por ter voltado à minha casa, à minha terra. E vim para ver todos os meus amigos, um por um. Afinal, fui apenas aprender que um homem é donde se sente bem; ou pelo menos, donde não se sente perdido. Simplesmente. Para lá de eu ter o direito de escolher a terra onde quero viver, assim como não escolhi a terra onde eu nasci, tenho o direito de viver na terra onde tenho direitos. Não são os outros, Mana, que me vão dizer de que terra sou. Sobretudo, qual a terra que me assenta bem à cor da pele e dos olhos ou ao apelido que tenho.»

Mário Lúcio Sousa, in Adão e as Sete Pretas de Fuligem,

Fotografia de Henrique Delgado; promoção da peça «Adão e as Sete Pretas de Fuligem»


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11 comentários:

Carlos Parreira disse...

Após longa ausência estou de volta ao convivo do margoso. De facto este texto tem muito de actualmente do que se verifica-se no mundo contemporâneo, mas precisamente sobre a discriminação “racial” ou da mutua tolerância cultural. Pois eu digo que “um homem é donde se sente bem … donde não se sente perdido”, despojado da sua própria existência.
A pior coisa que pode acontecer à uma pessoa é sentir-se perdido na terra onde vive, não ser reconhecido, renegado à margem das vivencias sócias, ser Ultrajado, até que chega a sua morte social.
Termino com esta frase que acho que, não é um grito de revolta, mas sim, àquilo que vais na alma do autor. Se estiver enganado, que me corrigem!
“Tenho o direito de viver na terra onde tenho direitos.” “Não são os outros, Mana, que me vão dizer de que terra sou. Sobretudo, qual a terra que me assenta bem à cor da pele e dos olhos ou ao apelido que tenho”

Unknown disse...

Odair, belo comentário. Aquele abraço!

JonDays disse...

Adorei este texto... que maravilha!! Sinto que podia ter sido eu a escrevê-lo...

Anónimo disse...

É a tal identidade cultural, não adianta teres nascido numa terra se não te sentes pertencente à ela, e só sentindo isto para te sentires bem e te achares no meio do povo desta terra.

Abraço!

Fonseca Soares disse...

Para além da actualidade, um texto lindo, e uma encenação estonteante! Direito à escolha! Direito ao respeito! Gostaria muuuito de rever! A começar pela leitura desse belo texto do Lúcio que estará disponível a partir de amanhã.

Unknown disse...

JonDays: concordo!

Sisi: por isso também eu penso que muitas vezes, podemos criar raízes noutro lugar. Uma transplantação identitária. Aconteceu comigo.

Teatrakacia: Ah que saudades do nosso Adão, não é Tchá?

Anónimo disse...

Obrigado pelo texto.
Tocou bem dentro. (It touched me real deep)
Somos todos cidadoes do mundo e mais nos que estamos longe da terra querida e temos que fazer de lar essas terras que aos poucos nos vao moldando, mudando, fazendo trocar a linguagem.

Mas nesta blogo-esfera, somos todos do mundo e dos amigos que escolhemos e alegra-me estar na presenca de"amigos" tao ilustres

Sara
(desculpa la o portugues que ja esta meio "mariado" e o teclado sem acentos)

Unknown disse...

Exactamente, Sara, nesta blogo-esfera, somos todos cidadãos do mundo.

Alex disse...

Pouco importa DE onde somos, ou AONDE estamos (meras contingências), mas o que SOMOS. Eu sou e estou aonde SOU! Neste momento p. ex, estou no café, sinto-me do café, logo UM CAFEANO. Portanto, um BLOGOCIDADÃO sem passaporte (Thank's God!)! (Esta é para a tua basofaria João. Mas é sincera!)

No geral concordo com a reflexão. No entanto, discordo de uma ideia aí expressa por Mário Lúci(d)o (por mau entendimento, talvez). Muitas vezes, quantas(??), SOU também (d)esse lugar de perdição, e (d)esses lugares aonde me sinto perdido, e até, por puro prazer, (d)esses lugares por onde me perco deliberadamente. Nesta matéria de pertenças, aprendi que é preciso ir por aí pelo mundo, para, perdendo-nos, e perdendo a ganga que nos cobre o SER, nos descobrirmos, (re)encontrados, outros. Noutros lugares, e nos outros desses lugares, encontrar também o meu lugar. Digam lá Vasco e João, se não é assim?! Vivos e lúcidos, numa inimaginada, e imprevista partilha. Eu pertenço à estranheza, ao desafio com que me olho todos os dias, e a este desejo de ir ao encontro do que não conheço. O SER de cada um de nós são lugares gémeos à espera de se (re)encontrarem um dia na luz alta e brilhante que imana das diferenças. Tenho aprendido que é preciso perdermo-nos, para nos encontramos. Como Sócrates, ou mestre Agostinho da Silva, também eu sinto-me, CIDADÃO DO MUNDO. Um apátrida militante.

Anónimo disse...

Ah Adon, Adon... Bons velhos tempos...

Unknown disse...

ZCunha, eu acho que o termo «perdidos» que o ML utiliza não vai no sentido de nos sentirmos perdidos por vontade própria, mas no sentido de naõ nos «encaixarmos» em nenhum lugar. Por preconceitos, por questoes sociais, etc.

Jota, saudades, saudades. Do Preta e dos panos da Mana!