Declaração Cafeana

2 Comments



Muita coisa tem acontecido nestes últimos tempos, dentro e fora de portas. A aprovação do novo programa do Governo, a morte de Bin Landen, os pré-candidatos (publicamente assumidos) às eleições presidenciais que se posicionam em cerimónias públicas procurando dar-se a conhecer melhor ao eleitorado, os casos do futebol com as vitórias de uns e as derrotas de outros, a subida do custo de vida, água, electricidade, pão, as visitas dos deputados aos seus círculos eleitorais para "sentir o pulso", mais congressos e encontros e mesas redondas e diagnósticos e workshops e ateliers de capacitação, violência que mata mais de uma dezena de crianças no Rio de Janeiro, terramotos e desastres nucleares, crise, crise, crise, crise, o mundo em movimento.

Já o disse e reafirmo: este é um espaço pessoal tornado público. Não são coisas incompatíveis. Partilho poesia, actividades culturais, muito mais meus amores que dos meus ódios. Ódios que, felizmente e por natureza própria, os tenho poucos e quanto os tenho, duram quase nada. Se gosto de um filme, como por exemplo, o inatacável Fala com Ela, de Pedro Almodovar (na imagem), é muito provável que escreva sobre isso. Sem querer dizer com isso que não haja quem deteste o mesmo filme. Normal. Ou sobre os artistas de Cabo Verde, que merecem o maior respeito e admiração, tendo em conta que a criação artística é, ainda hoje, uma espécie de desporto radical que muito raramente trás riqueza material ou sossego espiritual. 

Como encenador e homem do teatro reafirmo que é, sobretudo, através da minha arte, a arte cénica, que dou conta do que me inquieta e é através do teatro que procuro o meu lugar na sociedade. Não tenho, nem quero ter vocação para ser um "fazedor de opinião", muito menos um intelectual, sem desprimor para quem o seja ou tenha ambição de o ser. Por outro lado, nem penso que a minha opinião valha seja o que for, porque é apenas isso, uma opinião. Que neste âmbito da blogosfera, das crónicas no jornal ou na rádio valem o que valem e eu penso, sinceramente, que valem pouco. Nem todos podem ter a pretensão de se acharem dignos de serem ouvidos "pela sociedade". Ou que esta esteja, suspensa, esperando que  se abra a boca ou liberte a pena para dizer ou escrever a sua sentença sobre os assuntos correntes relatados no último telejornal. Já dei para esse peditório. 

Dizem que a audiência trás responsabilidade, mas desde há muito deixei de me preocupar com isso. Que as pessoas esperem de mim um bom trabalho na próxima peça ou que me exijam uma programação de qualidade no próximo festival mindelact, é perfeitamente legítimo. Essa sim, é a minha função, enquanto artista, encenador ou produtor da área do teatro. De resto, tento olhar com o máximo de atenção o que se passa à minha volta, aprender com os outros, procurar sinais, cada vez mais raros, que nos dêem alguma esperança no futuro próximo, e seguir em frente. Sendo o teatro uma arte do colectivo por excelência, e não tendo eu tendência para fazer monólogos encenados por mim próprio, sou "obrigado" a aprender o oficio da partilha e do trabalho com os outros, seja com o actor que está a contracenar do meu lado, o elenco que dirijo, o cenógrafo que faz o cenário, o iluminador que ajuda a dar vida à cena, a figurinista que veste os personagens, o designer responsável pela imagem do nosso trabalho colectivo no exterior. E todas estas pessoas, trabalham para tantos outros. Aqueles que nos vêem. O público. Os públicos. 

E é quanto baste. 



You may also like

2 comentários:

Anónimo disse...

Essas imagens engraçadas são do filme de Almodovar....um dos melhores fimes que já vi.

jessica disse...

Pode não se considerar um fazedor de opinão, mas eu adoro o seu blog e penso que é escrito de forma clara, corente e que qualquer pessoa pode entender. contrariamente a outro que exibem o conhecimento que têm....no seu caso, acho que parilha o que sabe e eu, apesar de querer ficar anónima, tenho aprendido muito consigo.

O seu blog tem servido para aprofundar os conhecimentos que tenho sobre a pintura, filmes, livros, etc. e o que mais gosto em si é que tem coisas de vários estilos o que mostra que não tem a pretenção realmente de formatar as pessoas.

ADOROOOOOOOOOOOOO. pARABÉNS