"Alguns usam a estatística como os bêbados usam postes: mais para apoio do que para iluminação."

Andrew Lang - escritor escocês




Pela primeira vez, este ano, comemora-se o Dia Internacional do Jazz. Em Novembro de 2011, durante a Conferência Geral da UNESCO, a comunidade internacional proclamou 30 de Abril como "Dia Internacional do Jazz". Ao dedicar um dia ao Jazz, pretende-se sensibilizar a comunidade internacional sobre as virtudes do jazz como uma ferramenta educacional, uma força de paz, de unidade, de diálogo e de uma cooperação reforçada entre as pessoas.

"São muitas as histórias que cercam a origem da palavras “jazz”. São muitas as lendas que tentam traduzir a palavra “blues”. Numa delas, uma mulher conta que, ao retornar da igreja, numa manhã de domingo, deitou-se na cama e olhou para o teto com um sentimento tão profundo, uma tristeza tão atroz, e este era um sentimento tão blue… O blues virou lamento, virou ruminação, choro contido… O jazz é um género que se destaca dos demais pelo improviso e por uma escala musical de DNA negro. Diferente da escala europeia, a matriz do jazz tem uma blue note, uma nota blue." (fonte: aqui)

Seja o tradicional som de New Orleans, seja através da voz rouca de Louis Armstrong ou das interpretações de divas como  Ella Fitzgerald ou Billie Holiday, dos improvisos de Milles Davis, Dizzy Gillespie ou Duke Ellington, o jazz há-de estar sempre presente. Hoje, é o dia do jazz. Dia de música. Dia de magia.

 









A propósito do Dia Mundial da Dança, cá estou eu dando o meu melhor, em pleno Teatro Rivoli (cidade do Porto).








Foi solicitado ao Café Margoso a divulgação deste festival de curtas-metragens, com a razão principal de que "gostaríamos muito de contar com filmes cabo-verdeanos em nossa mostra.". Numa altura em que o panorama audiovisual crioulo parece estar a rejuvenescer, eis o desafio lançado aos nossos produtores e realizadores. As inscrições estão abertas até ao próximo dia 12 de Maio. Nu bai!


MOSCA 7 – Mostra Audiovisual de Cambuquira
11 a 15 de julho de 2012
Inscrições abertas
até 12 de maio

A MOSCA - Mostra Audiovisual de Cambuquira é uma mostra de filmes de curta-metragem focada na difusão da produção audiovisual brasileira e na formação de público crítico. Além da exibição de filmes, a programação conta com debates, oficinas, exposições, clubinho e café da MOSCA.
Cambuquira está localizada no Circuito das Águas mineiro e abriga o Cine Elite: antigo cinema da cidade que permaneceu fechado por aproximadamente 20 anos e foi revitalizado em 2001 pelo Espaço Cultural Sinhá Prado, onde acontece a MOSCA. A mostra chega a sua sétima edição em 2012.

A inscrição de filmes para participar da seleção da MOSCA 7 pode ser realizada gratuitamente pelo site www.mostramosca.com.br

Podem ser inscritos filmes de ficção, documentário, animação, vídeo experimental, infantil e vídeo coletivo; com duração de até 30 minutos. O caráter competitivo da MOSCA 7 se dará através do Júri Popular.  Os espectadores poderão votar nos curtas ao final de cada sessão e eleger o “Melhor Curta da MOSCA 7 – Júri Popular”, 1º, 2º e 3º lugares.

Os três primeiros colocados receberão prêmios em serviços de empresas da área audiovisual. 




Vivemos numa época triste. Não há ideais a não ser aqueles que possam engordar a nossa conta bancária. Hoje não há coragem, há desvios conforme as conveniências. Hoje não há luta, há defesa de grupos de interesses políticos, partidários ou económicos. Como escreveu a actriz Milanka: "esta nossa geração desgraçada tem a responsabilidade de despoletar a nossa revolução, aquela que merecemos, pois já não nos resta muita coisa. Temos que reinventar os nossos próprios modelos, nunca esquecendo aqueles que antes de nós acreditaram na igualdade do povo!"

Antes a cantiga era uma arma, hoje é entretenimento. Antes a cultura era alma do povo, hoje é factor primordial de crescimento económico. Antes a criação artística era alavanca para mudança de mentalidades, hoje é o caminho mais directo para a massagem dos nossos egos. Dizem-se, sabem-se, ouvem-se as maiores barbaridades de altos signatários do poder, da oposição, dos candidatos a poleiros e cadeirões almofadados e nós, que nos dizemos artistas, continuamos a assobiar para o lado, muito ocupados com os nosso estimados, geniais e insubstituíveis projectos. 

Onde estão os nossos hinos, manifestos, gritos? Não deixa de ser irónico, tristemente irónico, que o único sector artístico que coloca o dedo na ferida, seja conotado com a marginalidade urbana. Refiro-me aos grupos de rappers e hip-hop, claro. Desdenhamos os loucos das nossas cidades mas são eles que estão à frente do nosso tempo. Nós estamos parados. Neste dia em que se comemora mais um aniversário de uma revolução que foi abafada pelas mentiras mediáticas e pela passagem do tempo, devíamos reflectir sobre o que raio andamos aqui a fazer. 

Eu faço o mea culpa que me é devido. Com a minha arte tenho lutado para sobrepor o colectivo ao individual, a imaginação à banalidade, a exigência ao facilitismo, a humildade à arrogância, a entrega à paralisia cerebral. Mas podia fazer mais, devo fazer mais, tenho que fazer mais. Tenho que ser digno dos genes que herdei. Se não o conseguir, serei apenas mais um bluff e imerecedor da arte secular que abracei. 

Fotografia de Fredrik Ödman







O que é um fazedor de cultura?*

À melhor resposta, ofereço um café


* a propósito desta notícia






"A poluição sonora causada pela publicidade móvel em São Vicente atingiu hoje um novo ridículo histórico. Uma das empresas da especialidade passou a tarde a circular pelas ruas do Mindelo, anunciando-se a si própria. Pena que nesta ilha, que dá ao país tantos e tão bons exemplos de urbanidade, não haja a coragem necessária para, de uma vez por todas, se acabar com esta situação ridícula que põe em causa um dos mais elementares direitos da vida em sociedade: o direito ao sossego!"

Nuno Andrade Ferreira - Jornalista






        Sei que seria possível construir o mundo justo
        As cidades poderiam ser claras e lavadas
        Pelo canto dos espaços e das fontes
        O céu o mar e a terra estão prontos
        A saciar a nossa fome do terrestre
        A terra onde estamos — se ninguém atraiçoasse — proporia
        Cada dia a cada um a liberdade e o reino
        — Na concha na flor no homem e no fruto
        Se nada adoecer a própria forma é justa
        E no todo se integra como palavra em verso
        Sei que seria possível construir a forma justa
        De uma cidade humana que fosse
        Fiel à perfeição do universo

        Por isso recomeço sem cessar a partir da página em branco
        E este é meu ofício de poeta para a reconstrução do mundo

        Sophia de Mello Breyner Andresen, in "O Nome das Coisas"
         
        ...a propósito do Dia Mundial do Livro



No próximo dia 27 de Abril, sexta-feira, os alunos do 14º Curso de Iniciação Teatral voltam ao palco do Centro Cultural do Mindelo para apresentar o espectáculo "Pará Moss - Stand Up Comedy". Vinte e dois números de stand-up comedy, um formato que pode trazer alguma rentabilidade para quem mostrar ter talento para esta difícil arte de fazer rir o outro falando na primeira pessoa. E neste grupo de gente corajosa há muito talento. 

Quem estiver no Mindelo, não perca!







Lamúria: S.f. lamentação interminável e importuna; choradeira; queixume.

O famoso sociólogo anarquista deu, desta vez, um tiro no pé. Não foi a primeira vez, nem será a última, por muito que lhe admire a coragem e o estilo. É a vida.





Acabou de ser noticiado que a empresa líder do sector dos combustíveis em Cabo Verde anunciou um lucro em 2011 num valor próximo dos 800 mil contos, 16% acima dos ganhos obtidos no ano anterior. 

É agradável ver como as empresas nacionais conseguem dar a volta por cima da crise, apesar dos aumentos sucessivos dos preços dos bens de primeira necessidade (incluindo os próprios combustíveis, com duas subidas nos últimos dois meses).

Claro que uma coisa não tem nada a ver com a outra.






A Fox divulgou a primeira imagem de Anthony Hopkins caracterizado como Alfred Hitchcock: o actor interpretará o famoso realizador britânico no filme "Hitchcock". O argumento do filme remonta os bastidores da produção do clássico suspense "Psico", de 1960, com base no livro "Alfred Hitchcock and the Making of Psycho", de Stephen Rebello.

Mas o filme promete mais: a actriz americana Scarlett Johansson dará vida à célebre Janet Leigh, que é assassinada no chuveiro, numa das cenas mais famosas da história do cinema. De acordo com a revista "People", as filmagens começaram na última sexta-feira, 13 de Abril e a estreia está prevista para 2013.

Pela imagem, estou cá com uma daquelas sensações que Hopkins protagonizará um papel que lhe valerá, no mínimo, mais uma nomeação para os Óscares.




Quando escrevi esta semana um post sobre o Projecto Amelie alguém me lembrou de algo que estaria acontecendo na cidade da Praia, um pouco diferente mas com o mesmo espírito. Centrado no Facebook e criado por Catarina Fernandes Cardoso, o movimento Troca Kuaze Tudo pretende que as pessoas façam isso mesmo: trocas. As mais variadas. O "kuase" fica ao critério de cada um!

Eis as simples regras do movimento (o termo "movimento" é da minha responsabilidade):

"O Troca Kuase Tudo é um grupo destinado à troca de coisas, tempo, serviços e competências, destinado a qualquer pessoa que se encontre na área da Cidade da Praia - Cabo Verde. 

Regras de funcionamento:

1- As trocas serão sempre feitas sem recorrer a dinheiro.
2- A troca terá de ser justa - bens ou serviços devem ser trocados pelo equivalente para que nenhuma das partes se sinta lesada
3- Quando a troca se efectivar é importante dar feed-back acerca da mesma aqui no grupo para que se saiba que a pessoa é confiável e o produto/serviço foi disponibilizado nas melhores condições."


Parece que não, mas encontram-se situações muito curiosas. Por exemplo, um membro anuncia: "troco levar crianças à praia aos Domingos por móveis antigos." Um outro, com a maior naturalidade, anuncia que a troco de um empréstimo de uma bicicleta duas vezes por semana, "troco por lavar o carro... ou cuidar (passear) de cães."

Genial. Quem estiver na Praia e quiser aderir, a página no Facebook é aqui.





O mestre Paulino Vieira retratado pelo artista Miguel Levy. Belo!

(Galeria completa dos trabalho do artista, aqui)






O Quarto Escuro

A partir de um quarto escuro podemos definir três atitudes humanas.

Num quarto escuro um homem procura alguma coisa. É um cientista.
Num quarto escuro um homem procura uma coisa que não está lá. É um filósofo.
No mesmo quarto escuro um religioso procura uma coisa que não está lá e exclama: Encontrei!


História recolhida por Jean-Claude Carrière in "Nova Tertúlia de Mentirosos"





Dois aumentos nos preços da electricidade em menos de dois meses. Já se está a ver à custa de quem é que o buraco financeiro da Electra vai ser coberto. Isto não só deixou de ser justificável como está próximo de se tornar pornográfico.





      Faz-se luz pelo processo
      de eliminação de sombras
      Ora as sombras existem
      as sombras têm exaustiva vida própria
      não dum e doutro lado da luz mas no próprio seio dela
      intensamente amantes loucamente amadas
      e espalham pelo chão braços de luz cinzenta
      que se introduzem pelo bico nos olhos do homem

      Por outro lado a sombra dita a luz
      não ilumina realmente os objectos
      os objectos vivem às escuras
      numa perpétua aurora surrealista
      com a qual não podemos contactar
      senão como amantes
      de olhos fechados
      e lâmpadas nos dedos e na boca

      Mário Cesariny, in "Pena Capital"



A não perder, esta exposição organizada por Diogo Bento.





Desde as estrondosas vitórias eleitorais de Onésimo Silveira nas suas primeiras batalhas autárquicas que os candidatos procuram utilizar a mesma fórmula de vitimização sustentada num abandono das autoridades centrais em relação a S. Vicente. A força do então autarca estava alicerçada nessa assunção de que estaríamos perante um político que estava ali para colocar os interesses da ilha acima de tudo e de todos. Tanto foi assim que quando o até então invencível autarca volta para concorrer contra Isaura Gomes, mas desta vez a defender as cores de um partido instalado nesse mesmo poder central que tanto havia atacado, se viu derrotado de forma inapelável.

Por outro lado, o conhecido candidato a tudo e a todas as eleições de Cabo Verde do chamado partido charneira também veio com o mesmo discurso durante várias campanhas misturando umas pitadas de sentidos apelos aos pobres e remediados desiludidos com as grandes forças políticas e conseguiu com isso vereadores, deputados e algum capital político que tem vindo a desbaratar à mesma velocidade com que não toma posição sobre coisa alguma e se disponibiliza para concorrer a uma eleição seguinte, abandonando os cargos anteriores para os quais havia sido eleito. 

E se há algo que tem caracterizado o eleitorado de S. Vicente no historial das eleições é o de ser imprevisível podendo, em eleições próximas, dar vitórias a lados opostos da barricada partidária. Por isso vejo com alguma ironia essa tentativa actual dos candidatos ao cadeirão da Praça da Igreja voltarem com a mesma cantilena de que todos os males que afectam a ilha tem responsáveis de fora. Pode pegar com alguns mas duvido que convençam a maioria. É que corremos o risco de estarmos tão habituados a deitar as culpas nos outros que nos esquecemos de olhar para nós próprios. E isso, sim, seria a morte do Mindelo enquanto cidade capaz, orgulhosa, criativa e ousada que todos queremos que não deixe de ser.     





Que legenda para esta imagem?

À melhor legenda, ofereço um café 






Fotografia de Roberto Palladini






Uma boa semana pa tud gent!





O mundo anda deprimido, já o sabemos. Só ouvimos falar de crise, do stress, de violência. A humanidade caminha no fio da navalha e um pequeno mal entendido pode gerar uma discussão que acabe em tragédia. Por essas e por outras, achei esta ideia uma pequena (grande) delícia .


Inspirado por movimentos espontâneos como o “Zé Frank Chill Out Song”, os “Abraços Grátis” ou os “Improve Everything” – que já percorreram várias cidades realizando missões surpresa em espaços públicos - o designer português Martim Dornellas decidiu fazer estes pequenos gestos na cidade de Lisboa, de acordo com uma auto-proposta para mudar o mundo e criou o Projecto Amélie. “Basicamente, estas acções destinam-se a mudar o dia-a-dia de algumas (mas basta uma) pessoas. Proporcionar-lhes um pequeno aconchego no caminho para o trabalho ou conversa quando chegam a casa”, revela o autor.

"Pequenas acções que tenham como objectivo mudar o mundo, ou os pequenos mundos em que vivemos. Acções desinteressadas, que façam alguém sorrir, sentir-se melhor, emocionar-se, etc. Qualquer coisa que mude o dia a dia de algumas (mas basta uma) pessoas." Esta a proposta de Martim, à qual muitos habitantes de Lisboa tem dado respostas criativas e divertidas. Em sinais de trânsito, nos postes da rua, nas cabines telefónicas, nas portas dos WC's públicos, qualquer lugar é bom para um gesto ou uma frase que possa, pela surpresa, provocar um sorriso nalgum desconhecido. 

Não seria interessante, fazer isto na Praia ou no Mindelo?


Leia mais: aqui
Sítio oficial do Projecto Amélie: aqui







"Eu sei que vou. Insisto na caminhada. O que não dá é pra ficar parado. Se amanhã o que eu sonhei não for bem aquilo, eu tiro um arco-íris da cartola. E refaço. Colo. Pinto e bordo. Porque a força de dentro é maior. Maior que todo mal que existe no mundo. Maior que todos os ventos contrários. É maior porque é do bem. E nisso, sim, acredito até o fim. O destino da felicidade, me foi traçado no berço."

Caio Fernando Abreu - escritor

Imagem: "Head Le Sacre", de Pina Baush







Hoje, 14 de Abril, é Dia Mundial do Café.


"Só quando o café atinge o estômago é que tudo se precipita: as ideias avançam como regimentos de um grande exército sobre o campo de batalha e esta finalmente se inicia. As recordações chegam a passos marcados, como os alferes do batalhão, a cavalaria das comparações avança impetuosa, a galope. E eis a artilharia da lógica com suas carruagens e munições. E eis que os pensamentos geniais e repentinos se precipitam para o combate como atiradores de elite".

Honoré de Balzac











Nasceu há 100 anos o fotógrafo Robert Doisneau, o autor de um dos beijos mais famosos da história. Mas também o homem que melhor retratou a alma de Paris durante o período da ocupação e no pós-guerra, que fotografou artistas famosos, como Picasso, e muitas das suas imagens ficaram como ícones do século XX.






O jornalista e blogueiro guiniense António Aly Silva falou, barafustou e espalhou informação sobre mais este triste acontecimento na Guiné-Bissau. Os militares procuraram-no, espancaram-no e levaram-no preso para parte incerta. Vamos espalhar a mensagem de solidariedade, em nome da liberdade de informação e expressão.

Aqui fica o seu último e sentido texto escrito pouco antes de ser preso. Publicamos também, com a vénia à Rádio Morabeza, excertos da sua última entrevista.




O Pior da Guiné-Bissau são... os Guineenses

"Mais de um milhão de guineenses estão reféns de militares... guineenses. Temos sido sacudidos e violentados, usurpam e tolhem-nos os nossos direitos, até o mais básico. Até quando mais a comunidade internacional vai tolerar que gente medíocre - alguma classe política, e militar faça refém todo um povo? A história endossará uma boa parte da responsabilidade à comunidade internacional.

Ajudem o povo da Guiné-Bissau; não os abandonem, agora, mais do que nunca. Tiveram todos os sinais de que uma insurreição era possível, ainda que desnecessária. Nada justifica o levantar das armas, é intolerável o disparo de armas pesadas numa cidade com mais de quatrocentas mil pessoas. É criminoso, acima de tudo. Tiveram tudo para estancar a hemorragia e a orgia de violência. Sabem há muito que este é um país que nasceu, cresceu e vive sob laivos de militarismo.

Agora, tudo está calmo. Não há tiros, nem feridos nas urgências e menos ainda corpos na morgue resultado de mais uma brutalidade da canalha. Não se sabe quem morreu - espero e desejo que ninguém tenha sido morto. Um país é o último, e único, refúgio seguro para o seu povo. Foi traumatizante ver mulheres e crianças a chorar; é triste ver homens e jovens a fugir de homens e jovens como eles. É desolador. Estou abatido, e, sobretudo cansado. Não tenho sequer forças para gritar.

Olho e registo tudo. Depois escrevo, na certeza de que alguém me vai ler e comungar dos mesmos sentimentos. O meu blogue, hoje, foi já acessado por mais de 50 mil pessoas. Ficará para a estatística. Teria preferido uma visita por dia, a ter de suportar cem mil pares de olhos tristes e enevoados: estão a matar-nos, estão a destruir as famílias, a tornar as crianças violentas.

O pior da Guiné-Bissau, meus caros...é o guineense!

Um abraço a todos,

António Aly Silva"

O blogue de António Aly Silva: aqui
Um blogue para seguir a passo e passo os acontecimentos na Guiné-Bissau: aqui

Última Hora: "Acabo de ser libertado, depois da coronhada que me cortou a orelha de cima abaixo. Um abraço e obrigado a todos quantos manifestaram a sua solidariedade perante esta gritante injustiça. Amanhã publico as fotos. Deus abençoe a Guiné-Bissau. António Aly Silva". 

Menos mal. Um abraço aqui do Café Margoso.







Hoje, 13 de Abril, é Dia Mundial do Beijo. Nem sabia que isso existia mas ficamos a saber dados importantes como por exemplo o facto de durante o beijo, o corpo produz substâncias 200 vezes mais poderosas do que a morfina, em termos de efeito narcótico. Bem me parecia que eu era algo próximo do toxico-dependente! 

Exercitar dezenas de músculos, libertar endorfinas, combater a depressão, diminuir o stress, queimar calorias: tudo isto resulta de um beijo apaixonado: "É o teletransporte para um paraíso", foi a melhor expressão que já li vindo de especialistas sobre o assunto.

Ah e aprendi também que a ciência que estuda o beijo chama-se filematologia.

Imagem: "The Kiss", de Rodin







Ensaio sobre a Má Língua

1. Eduardo Prado Coelho, eminente pensador português, escreveu um dia: “A má-língua, o escárnio e mal-dizer sobrepõem-se sempre à euforia da descoberta. Coleccionam com mais facilidade as reservas do que são capazes de apreciar os méritos. É aquele tipo de lucidez que não consegue ver em relação a si que o excesso de lucidez é um excesso de estupidez. Alguns cronistas e comentadores fazem disso alimento." Infelizmente, este é um mal de todos os lugares e nenhum país se pode gabar de ter a patente desta característica social. O que acontece em Cabo Verde, e que coloca uma espécie de lente de aumento na arte de falar mal da vida alheia de forma hipócrita e irresponsável, é a nossa pequenez. Existem bairros de S. Paulo, metrópole brasileira, que tem mais população que o arquipélago inteiro e esta matemática faz com que vejamos como autóctone um problema que, no final das contas, é universal. 

2. Mas que custa, custa. Mais a uns do que a outros, naturalmente. Se há um defeito que admito me tem trazido imensos dissabores ao longo da vida é esta permeabilidade absurda que carrego nos ombros relativamente ao que é dito e falado sobre a minha actividade profissional ou vida pessoal. Continuo sem conseguir entender o que motiva essa gente que faz do seu desporto diário favorito carregar as suas energias negativas sobre as costas do vizinho sem que este nenhum mal lhe tenha feito, directa ou indirectamente. Continuo a procurar reflectir e entender sobre esta temática mas é um facto que continua a ser-me difícil conviver com esta realidade. E, como é óbvio também, este é um infortúnio que não sendo intrínseco muito menos é apenas de hoje. Sempre houve, sempre haverá. O que nos faz chegar à conclusão que esta tendência sádica de lançar veneno ao próximo por vias travessas é algo inerente à própria natureza humana. 

3. Chegamos, pois, a este ponto. A má-língua, cuja melhor tradução crioula está resumida no termo riola, é como vimos, humana e universal. Está em todo o lado e sempre existiu. Imperadores e escravos, homens e mulheres, políticos e varredores do lixo, ricos e pobres, afortunados e azarados, competentes e incapazes, altos e baixos, bonitos e feios, professores e alunos, novos e velhos, predestinados e vencidos, pretos e brancos, nobres e plebeus, todos estão sujeitos a ela. Como instrumento ou enquanto vítimas. Daí a terceira característica da má-língua que não podemos negar: ela é completamente transversal na sociedade de cada tempo e de cada cultura, por mais que estas ou aquelas cultivem a harmonia, a paz e o amor entre os homens. Escusado será lembrar, mais ainda neste período de Páscoa, que a mais famosa vítima da má-língua foi o próprio Jesus Cristo que segundo reza a história acabou crucificado porque um dos seus discípulos falou para além da conta. Mas como muito bem sabemos, nem todos terminam com um peso na consciência tal que justifique uma corda no pescoço sendo que, antes pelo contrário, muitos parecem se alimentar de cada patada que dão naqueles que os rodeiam. 

4. Escrevi uma vez, a propósito da montagem da peça “Sapateira Prodigiosa” de Garcia Lorca, que a riola crioula provoca mais danos sociais em Cabo Verde do que o consumo da droga ou do álcool, do que a violência doméstica ou a corrupção administrativa. Muitos destes problemas evocados acabam por estar a jusante da riola e são dela consequência directa ou indirecta. Parece-me fundamental que tenhamos consciência disso. Um dos maiores problemas é a má-lingua chegar de onde menos se espera. De anónimos, estranhos ou pessoas desconhecidas acaba por ser inevitável que mais dia menos dia sejamos vítimas dessa maledicência. O pior é quando vem de conhecidos a quem demos a mão, de educandos a quem transmitimos os nossos conhecimentos da melhor forma que sabemos e podemos, de companheiros de luta com quem partilhamos estrada, de amigos de quem esperamos um ombro em vez de uma garra, ou até de familiares próximos. 

5. Sendo certo que a má língua está em toda a parte, em todo o lado, que pode vir ou atingir qualquer um e que é algo que sempre existiu, também não é menos certo que a crueldade e intensidade com que ela se manifesta em determinados caldos sociais varia substancialmente. No nosso Cabo Verde temos que estar prontos para este embate porque o rácio não é favorável para quem gosta de viver na paz. É um peso que carregamos. Um peso demasiado grande para a nossa dimensão. Há quem diga que a indiferença é a melhor arma para neutralizar os males que a má língua possa causar mas eu não concordo com esta perspectiva. A melhor arma está na educação cívica, na consciencialização colectiva, na criação de um ambiente favorável para que todos possam crescer e evoluir sem favorecimentos escusos ou pouco claros. O que melhor dá luta à má língua é, precisamente, a boa língua. Sim, é de amor que falo. 

Crónica publicada no jornal A Nação

Foto de Dariusz Klimczak





Ontem morreu um jovem da Ribeira Bote esfaqueado por um elemento de um gang de uma outra zona. O choque habitual. Os gritos e sofrimento dos familiares e amigos. Algo que, infelizmente, vem sendo rotineiro na nossa cidade. Mas o inusitado aconteceu depois: mais elementos do gang que provocou o crime atacaram o cemitério à pedrada durante o próprio funeral. As pessoas correram e fugiram. O jovem morto só pode ser enterrado horas depois. 

Bem, se já chegamos na época em que os cemitérios são invadidos e transformados em campos de batalha quando se enterra mais uma vítima da violência urbana, então é porque descemos mais um pouco neste poço sem fundo a que alguns gostam de chamar desenvolvimento.

Como o meu amigo que relatou o acontecimento escreveu: "se alguém souber onde S. Vicente se perdeu, que me diga porque eu vou por aí. E digam-me, porque tenho pressa!"


Imagem: pintura "Canibais Preparando a sua Vítima", de Goya




Começa hoje. Gosto do conceito. Do programa e do profissionalismo.
Só não gosto de não poder lá estar! Parabéns a todos os promotores.










Aleluia. Até que enfim que alguém se lembra que os responsáveis municipais podem dar um fim a este inferno na terra. No Mindelo, já é quase impossível andar na rua sem ser incomodado por estes carros a anunciar festas, paródias, concertos, mettings partidários ou produtos de mercearia. Alô, alô, torre de control, alô, alô, Câmara Municipal de S. Vicente. Por todos os anjinhos, sigam este exemplo! Tem a suprema vantagem de a Praia e o Mindelo serem duas câmaras com a mesma cor política e portanto, nem o partidarismo agudo de que padece a nossa sociedade poderá ser justificação para continuar com esta inércia, relativamewnte a este assunto. 

Aplausos. Desta vez, ruidosos!




"Entre os crioulos, a fronteira entre o elogio sincero, verdadeiro e merecido, e a bajulação é bastante ténue. Num rasgo de inveja e egoísmo inveterado, coibimo-nos de elogiar descomplexadamente o outro porque pensamos que ao elogiá-lo estamos a diminuir a nossa pessoa perante o sujeito elogiado. O elogio constitui um gesto de elevação e de coragem cívica embora corramos sempre o risco do elogiado se mergulhar no vislumbre e na típica "basofaria" crioula destilando complexos de superioridade vários." 

Suzano Costa - Cientista Político






Não exagero: praticamente todas as semanas ouço, por vias directas ou indirectas, relatos de violência sexual contra crianças ocorridas no Mindelo. Meninos ou meninas. Crianças de cinco, seis, sete, oito, nove anos e até bebés. Isto para além do que se vai sabendo pela comunicação social que também nos relata, com uma frequência assustadora, os tenebrosos casos que vão acontecendo um pouco por todas as ilhas de Cabo Verde. 

E o maior problema parece ser o medo ou a apatia dos educadores (?) destas crianças e das próprias autoridades. Ou a morosidade e mão leve da justiça. Não há crime mais hediondo do que este. Mas continuamos a assobiar para o lado como se não fosse nada de especial. Continuamos a fazer a festa permanente e a promover esta morabeza de pacotilha. 

O mais preocupante é que estas acções ocorrem quase sempre por via de adultos que são muito próximos das crianças: professores, familiares mais ou menos distantes e até progenitores. Mas neste caso particular, somos todos responsáveis. Continuamos a calar e a pactuar com situações como estas e seremos cúmplices de toda uma geração perdida. 

Há que estar alerta. Denunciar. Sem apelo nem agravo. Não pode haver perdão para quem faz coisas destas. Não pode.




"De todas as taras sexuais, não existe nenhuma 
mais estranha do que a abstinência." 

 Millôr Fernandes (1923 - 2012) 

 Este vai fazer cá muita falta.






É impressão minha ou estas subidas constantes no preço dos combustíveis fazem parte de uma estratégia genial muito bem delineada com os nossos parceiros da China e da Holanda no sentido de se fazer de Cabo Verde um país limpo, todo ele funcionando a energias renováveis, tendo em conta que mais dia menos dia vamos ter uma população inteira a andar a pé ou de bicicleta e melhorar dessa forma ainda mais os nossos já de si extraordinários índices de saúde pública?

À melhor promessa, ofereço um café




É pra rir ou pra chorar?



Esta nova subida dos preços dos combustíveis é de bradar aos céus. Porque isto já se sabe como funciona: logo de seguida vem os aumentos da luz, água, telecomunicações e bens de primeira necessidade. E como é que vamos viver com o que se ganha em Cabo Verde?

Comparando o preço gasolina com o ordenado mínimo nacional, temos os seguintes exemplos:

Itália:  201$70 / 750 Euros
Grécia: 201$50 / 876 Euros
Suécia: 200$80 / não tem (deve-se ganhar muito mal...)
Holanda: 196$90 / 1.446 Euros
Portugal: 195$00 / 485 Euros

Cabo Verde 192$80 / uma empregada doméstica, ajudante das lojas dos chineses, empregado de mesa de um restaurante ou recepcionista de algum hotel ou residencial pode ganhar entre 45 a 130 Euros / mês. Para estes últimos valores, já são considerados muito bem pagos. Não existe ordenado mínimo nacional.

Polónia: 154$40 / 359 Euros
Andorra: 145$55 / 929 Euros
Bulgária: 144$40 / 148 Euros
Roménia: 142$20 / 161 Euros

Ou seja, resumindo, Cabo Verde tem um preço de gasolina ao nível de uma Holanda, por exemplo e nos ordenados está bem abaixo de uma Roménia, um dos países mais miseráveis da Europa.  Somos mesmo um país de contrastes.


Nos próximos tempos, o Café Margoso vai andar agitado. Com ou sem cafeína. Mas sempre com humor. Crítica. Poesia. Amor. Procurando a excelência e o bom gosto. 

Sirvam-se!

Imagem: cortesia do Café dos Loucos

          Não
          O Cristo não morreu
          Não pode ter morrido
          Há dois mil anos
          Como contam.

          Ontem ainda
          Ele foi assassinado
          Em cenário
          Latino-americano
          Por actores nacionais
          E estrangeiros.

          Hoje mesmo
          Ele é assassinado
          Em versão internacional
          Para uso mundial
          Exportada em caixotes
          Bem embalados.

          Amanhã com certeza
          Ele será assassinado
          Na minha ilha
          Na minha pequena - céus!
          Como se fosse possível
          Obrigar o sol a engolir a lua

          Para a cuspir
          Na latrina como um escarro
          Impertinente
          Drenar o leite
          Nas mamas da fêmea
          Cortar a água com a faca

          De cortar o pão
          Meter na prisão
          A palavra dos poetas
          Secar o mar
          Impedir as estrelas
          De dormitar no seio do universo.

          Não
          O Cristo não morreu
          Não pode ter morrido
          Há dois mil anos
          Como contam.

          Se o assassinaram
          Há dois mil anos
          Como contam
          Como continuar a assassiná-lo
          Em toda parte e no mesmo sítio
          Dois mil anos depois de morto?

          Quem é que nunca acaba de morrer
          Que morto
          Em toda a parte
          Em todos os dias
          A cada hora
          A cada instante

          Renascer
          Em toda parte
          Todos os dias
          A cada hora
          A cada instante
          Barbado ou barbeado

          Com outra ou a mesma cor
          Segundo o país
          O gosto
          A moda
          A época
          As circunstâncias?

          Não
          O Cristo não morreu
          Não pode ter morrido
          Há dois mil anos
          Como contam.

          Crucificado
          Linchado
          Enforcado
          Guilhotinado
          Eletrocutado
          Fuzilado

          Segundo o país
          O gosto
          A moda
          A época
          As circunstâncias
          O cristo não morreu.

          Mário Fonseca – poeta

          Fotografia de Dariusz Klimczak





Não sejas estúpido de fazer coisas destas sem protecção. Excelente campanha!



Preparação de Imagem




Não é por nada, mas só agora reparei que o Café Margoso caminha a passos largos para o bonito número de vinte mil comentários. Nada mau!