Café com duas faces

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Há pouco mais de dois anos, quando de forma inesperada a minha mãe faleceu, desloquei-me a Portugal acompanhado da minha filha Laura, com quem ela tinha uma ligação muito forte. A morte ocorreu no dia 15 de Agosto e as cerimónias fúnebres tiveram lugar dois dias depois, precisamente no dia de aniversário da Laura. Sempre vi isto como um sinal de continuidade, a neta que continua a avó, tal era a força do que as unia e as semelhanças que as caracterizam. A morte e a vida ligadas, como sempre acontece.

Ontem, foi um dia tremendo para Cabo Verde, o da despedida de Cesária Évora. Com choros, cânticos, lágrimas e a alma profundamente ferida. Foi também o dia de aniversário da minha mulher, meu amor meu grande amor, e por isso vi-me mais uma vez confrontado com a situação de partilhar, numa mesma hora, a dor provocada pela morte com a celebração da vida. Queria ter feito mais, abraçado melhor e por isso me penitencio, Jana. 

É estranho e mexe com as nossas entranhas. A tristeza e o vazio convivendo com a vontade de celebrar uma vida, o amor e a pessoa luminosa que partilha connosco todos os nossos dias e noites. Mas é também resultado da nossa existência e da nossa passagem pelo mundo. Estaremos sempre em contacto com essa outra realidade, que não é outra, afinal, mas tão natural como a própria vida. 

Ilustração: "vida & morte", de Klimpt



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4 comentários:

Manu Moreno disse...

Vida e' moda'l um onda di mar, ki ta forma di-lonji markadu na se' tempo singular(kada um ku dicel) ki na lepete'-lepete' e' ta tchiga si momento di PRATI-KARATAPUMBA-CHUAAA.
PRATI = morti
KARATAPUMBA = konsolancia
CHUAAAAAA = Amor/Felicidade...
Dja bu navega na primeru e segundo momento e goci li, ti inda bu sta na CHUAAAAAA, por isso aproveital e bu mantel forti.

Kel Abxom Forti!
ManuMoreno.

Anónimo disse...

Sou filha de uma cabo-verdiana e resido em Portugal. A Cesária fazia e faz parte de mim, de muitas formas. Para mim há a Cesária que eu ouvia quando era miúda e que associo ao crioulo da minha avó, que também era de São Vicente; depois há a Cesária da juventude, que era um dado adquirido, pacífico e incontornável; a Cesária da juventude adulta, redescoberta, reiventada; e há a Cesária de hoje, a que, no meu íntimo, se situa na esfera do Belo, do Belo real, palpável, sensitivo e profundamente humano. É dessa forma que ela permanece e prossegue a recriar-se em mim.

Manu Moreno disse...

Oi djonga, nada de natal...!?!... Kuze ki sta passa...nta spera ma bus proximo e nen bo ka sta doente!

Feliz Natal ao nosso kafessal....!

Kel abxom di kuraxom!!!!!
ManuMoreno

Anónimo disse...

As saudades que Cize nos deixa não têm explicação, é saudade de quem se despede de um familiar querido. Sim, porque Cize "era de família", fazia parte do nosso imaginário colectivo, parte de Cabo Verde, da nossa caboverdianidade, e aprender a viver sem essa parte é doloroso, qual ferida aberta na alma, que talvez o tempo ajude a cicatrizar, quiçá, oxalá...Difícil, difícil, será viver sem ela, ser cabo-verdino sem ela, que Deus nos ajude a todos.

Bem haja Cize!

Pimintinha