Declaração Cafeana

36 Comments




A Margarida Fontes, não sei se como leitora atenta se como jornalista (se é que se podem separar estas duas vertentes), escreve no seu blogue (aqui) não saber ou não entender a natureza das entrevistas que tenho vindo a realizar para o jornal A Nação com outros criadores nacionais, confessando não descortinar se as entrevistas são feitas estando eu «como jornalista ou como alguém que entende de cultura.» O debate é pertinente e Fontes incentiva que este seja feito no âmbito dos blogues. Pois muito bem: vamos a isso.

Em primeiro lugar, como escrevi num comentário ao post da jornalista, o enquadramento destas conversas está perfeitamente definido no início da rubrica Dôs, onde se pode ler: «Uma conversa quinzenal entre João Branco e um artista cabo-verdiano, em tom descontraído, sobre a arte, a vida e as nossas pequenas inquietações.» e foi pena a jornalista ter escamoteado esta parte. Naturalmente, não faço as entrevistas enquanto jornalista, não o sou e nunca me assumi como tal. Faço as entrevistas enquanto criador. Por isso o título «Dôs». Dois artistas, frente a frente, falando de cultura e de criação artística. Inclusive, eu até prefiro o termo «conversa» ao de «entrevista» e penso, modéstia à parte, que o conjunto destes depoimentos podem dar pistas interessantes a quem se interessa por estas coisas da cultura. Incluindo a jornalistas competentes como a Margarida.

Agora, foi pena que não se tivesse comentado aquilo que realmente interessaria comentar, do meu ponto de vista: não a pergunta feita, mas a resposta dada pelo artista plástico Alex Silva quando este questiona a falta de preparação e especialização na área do jornalismo cultural. em Cabo Verde, onde artistas nascem quase que por geração espontânea nas antenas das rádios, nos ecrãs de televisão ou nas páginas dos jornais Certamente que não é com uma disciplina no meio de um conjunto vasto de outras disciplinas duma licenciatura de jornalismo que alguém se vai especializar seja lá no que for.

Por outro lado, se o jornalista tem que estar minimamente preparado para ser, por exemplo, editor de um caderno de economia ou de desporto, não vejo porque não o tenha que ser no que diz respeito à vertente cultural. A especialização faz-se também, mas não só, nas universidades. Hoje o que não faltam são mestrados em Jornalismo Cultural. Com o processo de Bolonha em curso, o normal , parece-me, é que haja um tronco comum na licenciatura e que depois cada um siga para o ramo para o qual sente que está mais vocacionado. Como na medicina ou na advocacia, por exemplo. O importante, creio, nesta como noutras profissões, é que haja uma vontade permanente de aprender, de ser cada dia melhor naquilo que se faz e não ficar apenas a olhar por cima do ombro em defesa de interesses corporativos que muitas vezes escondem mais os problemas do que servem a classe que procuram proteger.




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36 comentários:

pura eu disse...

Especialização pode passar ao largo da universidade. (esta não é toda a problemática) Redacções organizadas fazem bons jornalistas...bons editores... é uma arma poderosa.

interesses corporativos? eu??
E essa tua fixação imparável de convencer o mundo crioulo de que os jornalistas berdianos não alcançam a douta cultura ilhéu? É inocente?

Unknown disse...

Por acaso nem me estava a referir directamente a ti, mas se a carapuça serve, o problema aí já não é meu. Quanto à tua generalização, não sei onde é que a lês. Falar «os jornalistas cabo-verdianos» é metê-los a todos no mesmo saco e isso eu nunca fiz nem nunca farei. Portanto, nada de colocar na minha pena conclusões que só tu consegues descortinar.

Abraço

argumentonio disse...

João, pertinentíssimas questões e oportuno debate, oxalá prossiga em ambiente de elevação para despertar genuíno interesse e reflexão aprofundada, de conteúdos e resultados positivos

sem encómio, o último parágrafo é constitucional e deveria estar escritos nas Constituições oficiais

forte abraço

;_)))

Anónimo disse...

A grande maioria dos Jornalistas de Cabo Verde são preguiçosos, nunca preparam as estrevistas; Dá pena ver in loco as conferências de imprensa em que parece que ninguém se prepara ou sabe dos temas para fazer perguntas aprofundadas,

O caso da Margarida Fontes é enigmático, pois apesar de ter óptimas ideias para programas, continua apegada a um conjunto de palavras/expressões completamente arcaicas no jornalismo e nas técnicas de comunicação de hoje.

Já agora quem é aquela senhora que faz o programa a entrevista na TCV? Dá pena, está sempre a leste de tudo e aquilo parece um programa feito em Marte.

Rosana Almeida... melhor nem falar. Como é que ainda a deixam apresentar programas e o telejornal. è toda cheia de tiques e acha-se o centro das atenções quando o pivot dos telejornais devem ter uma presença séria. A figura dela inspira cuidados, pois , tem tudo menos seriedade.
Que é feito da Matilde Dias? Um bluff completo!?

O jornal A Nação e os seus Zig Zags escritos pelo PAICV, A semana e os seus Vips inventados da Uau, O Expresso parece meio perdido no meio de tudo!

Já leram o jornal Já??

Pelo amor de Deus Margarida e João; Em Cabo Verde não se faz jornalismo, existem um bando de individuos que trabalham em orgãos de comunicação social.
è mais que legitimo que faças as entrevistas. a qualidade delas não é assim tão liquida . Uns sim outros não. Ponto final.

Maria Cardoso

Cesar Schofield Cardoso disse...

Acho muito bem que os jornalistas se sintam picados pela questão. É saudável que saiam à defesa da dama e resolvam pôr os pontos os is. Seria gratificante se todos os jornalistas do país viessem aqui dizer o que pensam, seja civilizadamente, como está a acontecer até agora, ou desabridamente, aos berros, deselegantemente, cada um a reagir da maneira como sabe e pode. Mas que reajam. Que façam alguma coisa. Que mostrem como a coisa deve ser feita. Que contraponham a afirmação da ausência de jornalismo cultural

A minha questão é: existe um jornalismo cultural em CV? A mim não me interessa se o jornalista é especializado em jornalismo cultural ou não; interessa-me é que alguém o faça. Necessariamente terá que se interessar pela Cultura, ter a história da arte contadinha, que perceba as grandes questões culturais de outras épocas e de agora, que saiba o que se passa em Londres, Veneza, S.Paulo, mas também Dakar, Bamako, Maputo, que saiba perscrutar as políticas culturais(?), que entreviste, escreva, publique, viva e respire Cultura.

A minha questão é: quem está seguindo a Cultura neste país? Quem é capaz de ligar Praia.Mov (puxando a brasa pra minha cavalinha), com Mindelact, com o actual movimento Hip-Hop da cidade da Praia, por exemplo. Quem está se interessando pelo criação neste exacto momento que escrevo? Sabiam os jornalistas que, os grupos CV que vão actuar no Mindelact, para grande orgulho nosso, fazem sacrifícios vergonhosos para lá chegar? Sabiam que, para ter a oportunidade magna de estar no Mindelact, paguei sempre as minhas passagens aéreas e estadia? E vós jornalistas, já tiveram a curiosidade de tirar umas férias e assistir todas as peças e workshops do Mindelact? Estão conscientes que vai acontecer um festival de cinema no Sal? Sabem o porquê do Palácio da Cultura Ildo Lobo, mesmo com uma pessoa formada e competente à frente, não sai da cepa torta?

Pois pessoal, muito para além da formalidade técnicas das matérias, há problemas quase que ridículos a se prolongarem. Estamos tão anacrónicos com o que se passa no mundo, que parece um exagero referí-lo. Se são jornalistas ou não, o que precisamos é de gente que se interesse pelo assunto, que sinta na pele o que sentimos, que sofra uma noite acessa de ensaios, que experimente em pessoa a estupidez que faz corrente por aí.

Cesar Schofield Cardoso disse...

E ainda uma nota positiva aos dois blogues, que trouxeram a questão. Oxalá haja debate.

Anónimo disse...

Auto intitular-se a única jornalista cultural (pelo menos é o que deixa transparecer) não será um pouco demais? Só porque (com todo o respeito pelo movimento) passa a vida a puxar o saco aos Claridosos e à história com palavras arcaicas, que a impedem de passar a mensagem ?

Afinal meus amigos a Cultura e o debate jornalistico, em torno do que é ou deve ser a abordagem do jornalismo cultural, passa pelo (mal) dos jornalistas promoverem tudo o que quer ser artista, ou passa pelo (mal) dos ditos e auto-intitulados grandes acharem que eles é que são a Cultura e por isso abominam as abordagens e aquilo a que chamam de fábrica de artistas na TV e nos jornais.

Não deixo de concordar que, por exemplo, já repararam que todos os cartazes de festivais são ditos de luxo, quando na verdade, este Verão, tivemos praticamente todos os artistas, em todos os festivais??? (falta agora o Sal, mas é vira o disco e toca o mesmo, excepto o Ky mani Marley e Mo kalamity e Buraca Som Sistema o que é que houve de novo este ano?

Um punhado de artistas que estão nas maos do mesmo dono que actuam em todos os festivais e o povo consome, adora e pro ano há mais!!

Sim, é preciso haver mais Cultura em vez de puro entretenimento.

Mas, não queiram chamar a Cultura toda a VOCÊS, porque a cultura transcende muito mais que video - instalações, fotografias comuns e relatos históricos!

Há cultura no povo, no batuco, no funaná e nos jovens rapers dos bairros mais profundos e de jovens talentos bem escondidos.

Agora sim, também é verdade que qualquer um grava um CD, é a coisa mais fácil e acessível com meia dúzia de tostões.

Haver jornalistas culturais não é uma questao de formação, necessariamente.

E sim, Cesar há jornalistas que sabem que de 14 a 17 vai haver um festival internacional de cinema no Sal e que sabem o que se passa em Bamako ou em Londres!

A pertinencia é o que é que isso interessa ao povo, quando na verdade todos nos obrigam a vender audiencias, time-sharings ou páginas dos jornais?

Agora se quiserem criar uma revista especializada Cultural para um público específico, isso é outra coisa.

Vejam a Cultura como um todo e não como uma elite. O mal é precisamente esse e continua a ser.Nao queiram trazer modelos europeus do que é ou deve ser o modelo de jornalismo cultural. Deixa o país encontrar o seu próprio modelo porque a questão da abordagem ao povo para o poderes formar, aos poucos, é que interessa.

pura eu disse...

João, isso de carapuça nunca me serviu... a minha reacção é objectiva, nunca pessoalizada.
Bem, o debate está lançado, e como já se disse aqui, só faria sentido continuar se tivéssemos mais jornalistas a dizerem da sua justiça: até porque algumas questões aqui avançadas são estruturais e ultrapassam o querer e o interesse do jornalista...
Não querendo repetir o que disse no post, apenas reforço que nenhum jornalista conseguirá fazer questões de fundo sobre todas as matérias, e aí entra de novo a necessidade das redacções se organizarem no sentido de terem profissionais a dedicarem-se a determinadas matérias, quais sejam cultura, economia, e outros. Esta é uma das parte de toda a problemática...
Isso de seguir ( e perseguir) os interesses eu tenho os meus, e nunca parei de os perseguir... além do Mindelact, e outros, sei bem dos eventos e das iniciativas que genuinamente me interessam...
A Margarida Fontes desconhece (em convivência) as tecnicas arcaicas do jornalismo: teve como professores (e tutores) gentes como Wilson Gomes, Marco Palácios, André Setaro, André Lemos, Fernando Conceição, e muitos outros (quem se interessa pelo campus sabe do que estou a falar). Se adentre Maria Cardoso... e não se atrapalhe com a forma (do seu ver)....

Anónimo disse...

Todo o mundo puxa a brasa à sua sardinha! O joão que só fala do Mindelact, no blog, nas crónicas dos jornais, na rádio....o césar que parece ter ficado bloqueado no Praia moov(isso foi quando mesmo?acho que naltura nenhuma da minhas duas filhas tinha nascido), os jornalistas tugas que andam para aí sempre sensiveis a qualquer comentário e claro a margarida que se acha o máximo no jornalismo(a margarida fontes é a jornalista da tcv que faz os programas de história, certo?) Os cartazes dos festiveis são todos óptimos porque os jornalistas que deveriam fazer análises criticos não fazem, A TCV que deveria promover muzica de qualidadi só passa lixo, a RTP africa também é uma enorme fábrica de clichês... a verdade é que ao contrário do estrangeiro onde existem sempre grande referências no jornalismo, pessoas que são admiradas e respeitadas pelo profissionalismo e seriedade aqui em Cabo Verde a figura dos jornalistas confunde-se com meninos de recado, idiotas perfeitamente manipuláveis e postos ao serviço dos partidos e de grupos de interesse!
Margarida ninguem precisa saber com quem estudaste, pois a verdade é que não deves ter aprendido muito!
Voilá
Maria Cardoso

Unknown disse...

Só falo no mindelact? Isso é que é memória selectiva!

pura eu disse...

Maria Cardoso, cria um blog e puxa a brasa para a sua sardinha, e prepare'se que há'de aparecer uma outra Cardoso pronta para o ataque anónimo. É exactamente assim...

Anónimo disse...

O Fonseca Soares escreve uma cena fixe no blog da Margarida em relação as entrevistas do João no jornal número dois do PAICV:
-"E o ‘Dôs’ tem sido tudo menos uma conversa. Dando uma achega em relação à recorrente crítica em forma de pergunta, da tal ‘facilidade’ dada a artistas, o que falta é uma outra coisa: a crítica."

Sem dúvida que esta é uma das lacunas do João Branco como jornalista. As perguntas são tão grandes como as respostas e nelas estão contidas as respostas que espera ouvir do entrevisto(A).

O Jornalismo nacional cheira mal, cheira a preguiça, a comodimos. Não se entende essa revolta constante dos jornalistas que de facto só dependem deles mesmos para serem bons! O jornalismo nacional é um deserto. Onde se vêm as grandes reportagens na TV e nos jornais? Até os bloguers fazem melhor...alguns!

A Nação onde o João trabalha é um jornal completamente vendido ao PAICV, A Semana nem tendo como um dos donos o Primeiro ministro consegue fazer bom uso das informações privilegiadas que recebe, o expresso anda enterrado na demagogia mpdista...enfim e os jornalistas coitados são todos, sem excepção, fazedores de fretes!

mas va lá, façam-me o favor de não perder o bom humor Ah!

MC

Fonseca Soares disse...

Na minha opinião, ‘não existe Jornalismo Cultural em Cabo Verde’, assim como não existe Jornalismo económico, por exemplo. Convém realçar antes de mais que, nesta matéria especialmente, a realidade no mundo tem estado a adaptar-se constantemente à evolução das sociedades e das tecnologias que a enformam. Universidades que se adaptam criando especialidades antes inexistentes, como é o caso do jornalismo cultural. Orgãos de comunicação social que, na procura de melhor atingirem os seus ‘receptores’, se organizam como podem… criando redacções especializadas. Acredito absolutamente que o nosso futuro desaguará nas ‘especializações’. Mas, em Cabo Verde, ainda estamos muuuuito longe. A nossa realidade, são redacções ‘pressionadas’ pelos ‘donos’ (que vão desde Governos, Partidos, a grupos económicos, religiosos…) sem a vontade e nem os meios necessários – humanos, financeiros – que ‘tratam’ o que ‘mais interessa ao respectivo’, normalmente a política e interesses económicos e de grupos… e só depois - se não lesar o ‘dito cujo’ - podem acabar de encher o espaço, com outras matérias. E é aí que entra o cultural. Estúpida e aleatóriamente, o envio de um jornalista que, na hora, toma conhecimento da matéria e não pode preparar mínimamente a sua ‘prestação’. Ou consoante a sorte e/ou a ‘influência’ dos criadores em questão, o destacar de um jornalista mais ‘dotado/interessado’ na matéria. Sem esquecer a tal outra limitação, que é um mal global das ilhas nos tempos que correm: a preguiça, mãe de todos os outros vícios. Reitero: estamos longe, e não se vislumbram muitas vontades... O futuro passará por decisões mais acertadas, investimento sério, melhor organização, mais conhecimento… e mais trabalho de jornalistas formados e especializados, em redacções a funcionarem de forma séria e profissional, de acordo com as normas e regras.
'Sonho que um dia...'

Fonseca Soares disse...

Na minha opinião, ‘não existe Jornalismo Cultural em Cabo Verde’, assim como não existe Jornalismo económico, por exemplo. Convém realçar antes de mais que, nesta matéria especialmente, a realidade no mundo tem estado a adaptar-se constantemente à evolução das sociedades e das tecnologias que a enformam. Universidades que se adaptam criando especialidades antes inexistentes, como é o caso do jornalismo cultural. Orgãos de comunicação social que, na procura de melhor atingirem os seus ‘receptores’, se organizam como podem… criando redacções especializadas. Acredito absolutamente que o nosso futuro passará pelas ‘especializações’. Mas, em Cabo Verde, ainda estamos muuuuito longe. A nossa realidade, são redacções ‘pressionadas’ pelos ‘donos’ (que vão desde Governos, Partidos, a grupos económicos, religiosos…) sem a vontade e nem os meios necessários – humanos, financeiros – que ‘tratam’ o que ‘mais interessa ao respectivo’, normalmente a política e outros interesses económicos e de grupos… e só depois, se não lesar o ‘dito cujo’, podem acabar de encher o espaço, com outras matérias. (continua)

Fonseca Soares disse...

JB, sub-dividi este comment, pois deu-me um erro após o envio...(continuação)E é aí que entra o cultural. Estúpida e aleatóriamente, o envio de um jornalista que, na hora, toma conhecimento da matéria e não pode preparar mínimamente a sua ‘prestação’. Sem esquecer esse outro mal que abunda nas ilhas nos dias de hoje: a mãe de todos os outros vícios: a preguiça. Ou consoante a sorte e/ou a ‘influência’ dos criadores em questão, o destacar de um jornalista mais ‘dotado/interessado’ na matéria. Reitero: estamos longe e não se vislumbram vontades inequívocas. O futuro passará por decisões mais acertadas, investimento sério, melhor organização, mais conhecimento… e mais trabalho de jornalistas formados e especializados, em redacções a funcionarem de forma séria e profissional, de acordo com as normas e regras.
‘Sonho que um dia…’

Unknown disse...

A forma parcial e sectária como a MC classifica os jornais nacionais é também ela consequência do jornalismo nacional. Claro que esta sua critica não é extensível ao Expresso das Ilhas, Liberal ou ao Já... Porque será?

À mulher de César não basta sê-lo...

Anónimo disse...

João,
Aqui a questão não é o jornalismo. Não é por não haver bom jornalismo económico (onde nem as unidades monetárias são respeitadas) que deixa de haver economia, e não é por não haver jornalismo cultural que deixa de haver cultura. O que tu criticas é algum jornalismo de eventos, que promove eventos, um lançamento, um festival, mas isso há em todo o lado, e qual é o problema?
Vamos ao fundamental, acho que sofres uma maleita muito contemporânea no meio artístico - o que não é comunicado nos média pura e simplesmente não existe. Se a arte não estiver suportado no efeito amplificador da comunicação não existe, talvez seja válido para a arte mais efémera.
Queres por força deitar a arte na cama com o jornalismo. Ele que até é amante de muita rameira, por agora, talvez não a ache a moça de muito interesse. Paciência, continuar a trabalhar.
Abraço,
Paulo

PS: Onde anda a Matilde?

Unknown disse...

Não sei onde leste opiniões minhas que te permitam afirmar o que afirmas, Paulo. A minha opinião sobre isto é muito simples: para se fazer qualquer tipo de trabalho, há que se estar preparado para ele. É tão simples quanto isso e aplica-se ao que aqui se designou de «jornalismo cultural».

Anónimo disse...

Companheiros,

Tenho estado a acompanhar com vivo interesse este debate sobre o Jornalismo Cultural. Antes de mais, é sempre louvável que, para além da dispensável troca de mimos, se abordem questões como a Cultura e a Comunicação, afinal produtos de primeiríssima necessidade. Ouso dizer que o debate ficaria mais conforme, porque mais objectivo e fluido, se fosse resumido à sua centralidade: o Jornalismo Cultural. Where is the beef? Cadê o bacana de tal corte, companheiros? Vamos limpar a carne das suas gorduras (aqui dos egos inflamados) e das suas nervuras (ali dos dizeres ofensivos), desossá-la mesmo (alhures dos anónimos da opinião) para que fique mais tragável, e centrarmo-nos no filet mignon: a Cultura e a Comunicação. Como é que as rádios, as televisões, os jornais, as revistas, os blogs expõem e disseminam a Cultura? E como é que a Cultura tem estado a reestruturar e a reformatar os jornais, as revistas, os blogs? As potencialidades de parte a parte estão à vista e tendem a uma harmonização, à luz do respeito pelos campos de actuação. Um sábio, conhecido meu, costuma dizer que o drama de se ter a faca e o queijo na mão é a possibilidade de se cortar o dedo. Não querendo ser “sangrento”, antes pelo contrário, achando que qualquer debate carece de moderador, queria, reconhecendo as razões (e as não razões) de uns e de outros, chamar a atenção sobre os ganhos de irmos mais directamente ao ponto. A mediatização das realidades antropológicas, ilustradas, patrimoniais (materiais e imateriais) e performativas, bem como das manifestações culturais e folclóricas, carece, ao meu modesto ver, de maior profundidade, análise e especialização. Igualmente, reconheço que os produtores, agentes e os activos da Cultura não têm estado a potenciar, a ampliar e a optimizar parcerias no campo mediático, um hiato cujo ónus também recairia sobre a cadeia produtiva da Cultura. Importa, entretanto, irmos aos diagnósticos, aos estudos de campo e aos levantamentos das realidades. Estes recursos, muitas vezes, nos obrigam a refazer opiniões e a reformular triagens, despindo-os dos preconceitos e das bizantinices. Isso, para além do sexo dos anjos…

Com as sandálias do pescador,

Filinto Elísio

Anónimo disse...

concordo e discordo com muito do que aqui foi dito.
devo, no entanto, recordar que há e houve bons jornalistas em CV, alguns mesmo sem qualquer formação para além da formação da experiência e do dia-a-dia.
de facto, hoje o sector está enfermo e não há como contornar esta realidade. mas há luz ao fundo do túnel. nada de perder as esperanças. por exemplo, com ou sem especialização, quando oiço (na rádio) ou vejo (na tcv) o multifacetado MARCO ROCHA sei que estou na presença de um EXCELENTE profissional. acho, por isso, injusto certas generalizações aqui feitas. Também a MATILDE DIAS é outro desses exemplos. sejamos razoáveis e abstenhamo-nos de só ver o copo meio vazio. tenho dito.

Cláudio Lima

cauca disse...

Vou meter a minha colher nesta sopa e digo que o gosto não é lá grande coisa...sal a mais. É pena que os atingidos limitam (limitaram) a simplesmente meter a cabeça na area (entre as pernas. Isto de especialização é um facto é uma necessecidade para que haja mais interesse, maior qualidade, mas é em tudo e em todas as areas do serviço seja ela pública ou privada. É claro que ninguem quer estar nessa de és pedreiro mas podes fazer uma mesa, és electricista mas podes pintar esta casa. Isto é o "ser ou não ser" e em Cabo Verde temos o que temos porque somos o que somos.Mas a tecla que vejo a sofrer mais neste piano é o do PROFISSIONALISMO que penso ser o mais importante.

Filinto Elísio disse...

Companheiros,

Tenho estado a acompanhar com vivo interesse o debate sobre o Jornalismo Cultural. Antes de mais, é sempre louvável que, para além da dispensável troca de mimos, se abordem questões como a Cultura e a Comunicação, afinal produtos de primeiríssima necessidade. Ouso dizer que o debate ficaria mais conforme, porque mais objectivo e fluido, se fosse resumido à sua centralidade: o Jornalismo Cultural. Where is the beef? Cadê o bacana de tal corte, companheiros? Vamos limpar a carne das suas gorduras (aqui dos egos inflamados) e das suas nervuras (ali dos dizeres ofensivos), desossá-la mesmo (alhures dos anónimos da opinião) para que fique mais tragável, e centrarmo-nos no filet mignon: a Cultura e a Comunicação. Como é que as rádios, as televisões, os jornais, as revistas, os blogs expõem e disseminam a Cultura? E como é que a Cultura tem estado a reestruturar e a reformatar os jornais, as revistas, os blogs? As potencialidades de parte a parte estão à vista e tendem a uma harmonização, à luz do respeito pelos campos de actuação. Um sábio, conhecido meu, costuma dizer que o drama de se ter a faca e o queijo na mão é a possibilidade de se cortar o dedo. Não querendo ser “sangrento”, antes pelo contrário, achando que qualquer debate carece de moderador, queria, reconhecendo as razões (e as não razões) de uns e de outros, chamar a atenção sobre os ganhos de irmos mais directamente ao ponto. A mediatização das realidades antropológicas, ilustradas, patrimoniais (materiais e imateriais) e performativas, bem como das manifestações culturais e folclóricas, carece, ao meu modesto ver, de maior profundidade, análise e especialização. Igualmente, reconheço que os produtores, agentes e os activos da Cultura não têm estado a potenciar, a ampliar e a optimizar parcerias no campo mediático, um hiato cujo ónus também recairia sobre a cadeia produtiva da Cultura. E não falo da dimensão amplificadora e propagadora, senão aquela mais socializadora e pedagógica, no eixo informação - formação. Importa, amiúde, irmos aos diagnósticos, aos estudos de campo e aos levantamentos das realidades. Estes recursos, muitas vezes, nos obrigam a refazer opiniões, a reorientar empirismos e a reformular triagens, despindo-os de fluídos menos benignos. Isso, para além das nossas predileções…

Com as sandálias do pescador,

Filinto Elísio

Unknown disse...

Nestas alturas como esta, dá gosto ter um blogue como o Café Margoso. E precisamos tanto, tanto, de debates descomplexados sobre tudo e mais alguma coisa! Oh se precisamos!

Nuno Andrade Ferreira disse...

Sejamos francos: o jornalismo cabo-verdiano tem, como o jornalismo de muitos outros países, um longo caminho a percorrer.

Sobre a especialização dos jornalistas, ela não se consegue através dos cursos de comunicação social /jornalismo / ciências da comunicação existentes nas universidades nacionais ou estrangeiras.

A técnica jornalística, nua e crua, aprende-se nas redacções e, quanto muito, nas formações profissionais de centros altamente especializados.

Em Cabo Verde, a classe devia estar a lutar, ao invés de perder tempo com questões laterais, pela instalação de um centro de formação, com uma forte parceria com um congénere de outro país, que visasse assegurar a formação inicial e continua aos jornalistas.

Como em tudo, o jornalismo é uma profissão em permanente evolução, mas é preciso que haja quem se dedique a acompanhar e a ensinar essa metamorfose.

Depois, e para mim isto é fundamental, existe um grande e profundo constrangimento, que muitas vezes é ignorado: o financeiro.

A pequena economia nacional, pouca dada a grandes investimentos publicitários, inviabiliza ou condiciona, de maneira altamente estrutural, o surgimento de projectos de comunicação social sérios e rigorosos, com um grau de independência relativo, que permita assegurar um jornalismo diferente daquele que temos agora.

Finalmente, à margem de tudo isto (e muito fica por dizer), a qualidade do trabalho realizado e apresentado ao público - o público, e não a vaidade pessoal, é o destinatário da mensagem jornalística - dependerá sempre da atitude do próprio jornalista.

Um jornalista interessado, actuante, pro-activo, actualiza-se, consulta, investiga. Adequa a técnica e a linguagem ao passar dos tempos.

Perdemos muito tempo a olhar para o nosso umbigo. É preciso levantar a cabeça e espreitar, no mundo, o que de melhor se faz. Esses sim devem ser os nossos exemplos.

Um bom jornalista, não é aquele que sabe tudo, não é aquele que é especialista em A, B ou C. O bom jornalista, é aquele que é curioso, que pergunta. Aquele que SE questiona.

Carla disse...

é né?
porque será que só os jornalistas cabo-verdianos é que não evoluíram? acho que estranho que sempre que aparece um debate qualquer sobre o jornalismo há sempre uma MC com o discurso: os jornalistas não prestam ,são vendidos etc.
Agora são estas mesmas MC´sda vida que não param de "babar o ovo" aos jornalistas para que a conferenciazinha do seu partido, Ong, Associação apareça no telejornal.
agora sobre a questão mesmo, não concordo com a ideia deixada aqui de não existem jornalistas que se preocupam com a cultura. em algumas redacções conheço alguns, que são mal aproveitados porque as redacções no geral estão mal organizadas.
precisamos sim de mais formação, seja nas universidades, seja pelo autodudactismo, enfim. precisamos sim.
o que que não concordo,é que tudo o que é feito no jornalismo cabo-verdiano seja em deitado a baixo, tratado como mero lixo e os jornalistas sempre como pessoas sem diginidade alguma, que se vendem por tuta e meia ou que estão porque não conseguiram fazer mais nada na vida. isso é injusto e tenho a certeza que só a crueldade e interesses obscuros de quem escreve pode justificar estes comentários.
tenho a certeza que existem jornalistas com potencial que com o tempo estarão melhor preparados.
ah, um ultimo desabafo: ou antes uma pergunta: o que melhorou no jornalismo cabo-verdiano coma enchente de estrangeiros nos orgãos nacionais?

Benvindo Chantre Neves disse...

Estou neste momento a escrever um textozito sobre o espectáculo do Alberto Koenig, no último sábado, no Auditório Nacional Jorge Barbosa. Um jovem de apenas 22 anos (filho de Mário Lúcio), cheio de talento! Acredito que venha a ser um grande nome da musica.

No espectáculo, algumas dezenas de cabeças (a grande maioria, adolescentes e jovens amigos do Alberto; nenhum órgão de comunicação social... Ok, é um jovem ainda sem nome, e a comunicação social correria o risco de o transformar em artista dessa noite de sábado para o dia de Domingo... Entendo!

O nosso jornalismo, assumo eu que sou jornalista (embora ainda foquinha)precisa ser mais pro-activo, dar um grande safanão em determinadas agendas e perscrutar outros horizontes, interessar-se e fazer interessar-se por outras áreas... com gosto, comprometimento, amor à coisa.
Claro que, com uma sociedade (uma audiência)menos acrítica, mais culta/interessada, menos trivial fará a carruagem andar com mais desenvoltura.

Estou a gostar deste debate
Abraço à todos

artiletra disse...

E,no meio desta discussão toda como foi possível não se ter falado do jornal cultural Artiletra. O «Dos» não estaria lá bem integrado?

Unknown disse...

excelente comentários. boa discussão. a referência ao artiletra é importante, neste contexto. sem dúvida.

Anónimo disse...

Nâo resisto a deixar aqui um pequeno contributo para o debate.

Penso que para melhorar o Jornalismo, em geral, em Cabo Verde, há que melhorar alguns aspectos, que no meu entender, sâo fundamentais:

- Os Jornalistas precisam de se consciencializar que nas funçôes que exercem é fundamental ESTUDAR sempre e muito; INVESTIGAR; estar bem actualizado sobre TUDO; acompanhar as noticias, desenvolvê-las; saber ESCREVER, e LER bem, pois a palavra é o seu principal instrumento. Nâo concordo com a opiniâo que vi aqui, de que os jornalista quando convocados a última da hora nâo conseguem dar cobertura a noticias. Penso que é um mau pressuposto, pois o Jornalista que se preze, está sempre preparado, ou devia estar, pois vive disso e vive para isso. Essa desculpa é de mau
profissional...

- Há que haver consciêcia que a remuneraçâo dos Jornalistas deve ser melhorada, como estímulo e reconhecimento pelo trabalho que realizam, de forma justificar o sério investimento numa carreira;

- O Jornalista nâo deve ter medo da noticia, nem de entrar em autenticos campos de batalha para a obter;

- O Jornalista deve ser ISENTO.

Penso que seguindo alguns desses mandamentos, o ambiente jornalistico pode melhorar um pouco.

Pimintina

afonso disse...

Pelo que saiba não existe nenhum jornalista no artiletra que para além de jornal também é revista e editora. Mas, isto de querer afastar os que têm feito melhor que os jornalistas começa a fazer má escola. Basta ver o que fizeram ao 180.º do Abrão Vicente.

Anónimo disse...

ADOREI a maria cardoso!! hahahaha
FIBRA meus caros!!!!
FG

Neu Lopes disse...

Não existe é jornalismo de nada. Isso é um país de tubarões e de experts em nada que sabem tudo.
Há hoje uma maior exigência para uma formação de melhores jornalistas. Mas quem ensina jornalismo num país em que "não há jornalismo"? Todas as rádios têm a sua forma de fazer rádio. Há televisões como a Tiver que tem muitos "jornalistas" que mais parecem crianças perdidas, mas mesmo assim conseguem ser melhores que os duma TCV com mais de 25 anos de existência. Há jornalistas que dão sua opinião em blogs pessoais, quer por causa de códigos deontológicos e todas as leis essenciais da comunicação social, quer por falta de coragem para enfrentarem o monstro global. Há muitos blogueiros armados em jornalistas que criticam o trabalho de quem passou anos a estudar para ser jornalista, mesmo sendo um jornalista medíocre (como é a maioria dos casos). Os jornais não saem da cepa torta e por mais que se faça vamos sempre estar a léguas de distância da realidade. Jornalistas preguiçosos? Há e aí vem mais. Basta ver muitos que estão a formar-se em jornalismo sem vocação, que falam mal, lêm e escrevem pior ainda.
Se houvesse uma selecção séria para que houvesse jornalismo sério nesse país, apenas meia dúzia de suspeitos do costume sobreviveriam. Rádio educativa: esta então devia ter mais cuidado com o nome que carrega. Bom, é melhor parar por aqui porque já comecei a aquecer os dedos e a cachola.

Carla disse...

vcs têm que parar com essa mania que "queremos afastar os que fazem melhor que os Jornalistas". não acredito que estas pessoas façam melhor.
1º - Não acho que o Abraão fazia melhor que qualquer jornalista no 180º. era um programa que qualquer jornalista podia ter feito. o que ele queria era entrar para a profissão. tudo bem: que entrarsse então pela porta da frente, seguindo as regras.
2- o JOão não é jornalista e acho que nem quer ser. o DÔs não é uma entrevista de um jornalistas mas uma conversas entre artistas ( parece-me).
3- existem leis que fixam regras para o exercicio de várias profissões neste país. Porque é que só as regras para o exercicio da profissão de jornalista é que não devem ser cumpridas????????????????

Unknown disse...

O Neu tocou num ponto importante. Vão ver como se está a ensinar comunicação social nalgumas universidades deste país e até se arrepiam.

carla, tens razão quanto a mim, e nunca é demais repetir o que está escrito, sempre, a cada edição, na rúbrica Dôs:

«Uma conversa quinzenal entre João Branco e um artista cabo-verdiano, em tom descontraído, sobre a arte, a vida e as nossas pequenas inquietações.»

às vezes parece que falo chinês....

Unknown disse...

Anónimo que me chamou arrogante: publico o teu comentário, sem tirar ou por uma virgula, no momento em que tiveres coragem para te identificar.

Fico à espera.

Paulino Dias disse...

Pessoal,

Excelente debate (tirando um ou outra referência menos feliz a tender para a pessoalização, que deviam ser evitadosa). Estou a aprender muito com tudo isso eh eh eh...

João,
Já vi que daqui a pouco também estarei em apuros por causa da coluna "Conversa com... (gestores)" no blog www.pordentrodasorganizacoes.blogspot.com
Antes que me venham ao de cima (eu que não sou jornalista, a querer "conversar" com gestores...), avanço desde já que só o faço para explorar uma determinada perspectiva da gestão - dar a conhecer as pessoas que estão à frente das empresas - perspectiva essa que não tenho encontrado em nenhum órgão de comunicação em Cabo Verde. Mas estou a aceitar ajuda de jornalistas (em jeito de voluntariado - o blog é sem fins lucrativos).

Abraços,
Paulino