Café com cartão amarelo

11 Comments


Como a grande maioria dos cabo-verdianos segue com (muito) mais entusiasmo o futebol português, a nível de clubes, do que o que se joga por aqui, publico um exemplo que explica porque é que nos inúmeros programas de televisão lusa em que se discute o tema, dois terços do tempo é para falar das arbitragens (destaques meus):

«O jogador da equipa visitada, Micolli, desmandou-se em velocidade tentando desobstruir-se no intuito de desfeitear o guarda-redes visitante. Um adversário à ilharga procurou desisolá-lo, desacelerando-o com auxílio à utilização indevida dos membros superiores, o que conseguiu. O jogador Micolli procurou destravar-se com recurso a movimentos tendentes à prosecução de uma situação de desaperto mas o adversário não o desagarrava. Quando finalmente atingiu o desimpedimento desenlargando-se, destemperou-se e tentou tirar desforço, amandando-lhe o membro superior direito à zona do externo, felizmente desacertando-lhe. Derivado a esta atitude, demonstrei-lhe a cartolina correspectiva.»

[Extracto do relatório do árbitro português Carlos Xistra relativo à apresentação do cartão amarelo ao jogador Micolli, encontrado aqui]


Comentário Cafeano: e depois admiram-se de os árbitros serem tão maus! É que como os homens desacertam tanto, a gente tem só vontade de amandar-lhes àquela parte, porque ficamos todos destemperando-nos e assim não há nada que desisóle a arbitragem do lodaçal em que está atolada. É preciso destravar este estado de coisas!



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11 comentários:

argumentonio disse...

Man, da malta do pontapé que se havia de esperar?

é claro que não é um texto literário e isso já desculpa muita coisa no que respeita à expressão escrita

e também não se poderá relacionar, de causa e efeito, os pontapés na gramática com a qualidade e justiça na apreciação dos lances e na aplicação das regras da modalidade

por outro lado, revela um grau de iliteracia para além do que julgamos ser a média nacional - mas talvez o problema seja mesmo o nosso irremediável desconhecimento da miséria cultural e de instrução que por aí grassa - lembro-me sempre do Saramago dizer, agastado com a infeliz inevitabilidade, que a leitura e a escrita serão sempre coisa de elites...

certo é que o baixo nível cultural que o extracto faz induzir terá os seus reflexos na aprendizagem, na celeridade da apreensão de conceitos complexos, na capacidade de adaptação à mudança - também da bola mas a pontapé de mais fino recorte, o filósofo Artur Jorge esclarecia a sua preferência, enquanto treinador, por atletas mais cultos: aprendem mais depressa! - para além, naturalmente, das óbvias dificuldades de comunicação em torno de um discurso estruturado e escorreito, com recurso a vocabulário próprio de um dicionário de língua portuguesa

por fim, quer dizer, por agora, o que me parece grave, bem mais grave que o arrevezado relatório arbitral, é a indiferença dos destinatários daquela comunicação: perdoa-se ao árbitro que não saiba ler nem escrever ou as dificuldades que revela na expressão escrita; mas como esquecer a ignorância revelada nos leitores a quem tais relatórios se destinam, dirigentes e responsáveis?

e desses (i)responsáveis brotam decisões com impacto significativo, aí sim, o analfabetismo justifica ou contribui para explicar muitos atropelos à justiça e ao bom senso, como os casos da tresleitura dos regulamentos para se qualificar quem eles pretendem em vez do clube com melhor critério de desempate à luz do que está escrito, para absolver corrupções veladas e contumazes, para alterar regulamentos de modo a legitimar a impunidade da fraude e para perpetuar os grandes a roubar aos pequenos...

agora futebol, futebol, é o golo do Ronaldo a colocar o MU nas meias finais, eis um genuíno arremesso de verdade desportiva!!!

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Tchale Figueira disse...

Porra! parece um daqueles livros de alguns escritores que escrevem e não se entende porra nenhuma. Caso do Odju D,aga do Manuel Veiga.

Unknown disse...

Argumentonio, a verdadeira iliteracia, eu diria mesmo o mais puro analfabetismo que invadiu a sociedade portuguesa em virtude de uma lavagem cerebral feita à escala de um Mundo Novo de Huxley, é pensarem que de cada vez que o FCPorto perde (ou empata) isso favorece a (vossa) verdade desportiva. Uma tristeza. Seja como for, por enquanto que esse for o estado de coisas, é sinal que continuamos a ganhar e somos a única equipa que tira esse país da vergonha. Mas essa verdade custa a aceitar, não é?

Tchale, :)))))))

Anónimo disse...

Resta saber se o texto corresponde à realidade....

Anónimo disse...

Excelente texto do árbitro, num português à moda antiga! Gostei.

Discordo, quando o João Branco fala da vergonha europeia. A vergonha vai para o futebol da Itália, França, Holanda e Alemanha cujos países batem Portugal em tudo e menos no futebol.

Unknown disse...

Está bem. Levar 12-1 nuns oitavos de final da CL não é vergonhoso...

Anónimo disse...

Hum, será nesse dialecto que a ALUPEC foi beber...? Nós herdamos só coisas boas.Viva Portugal! Viva Cabo Verde! Viva quel dent reganhód ne Nhó Josê Jardim...

Lily disse...

Ora bem, a coisa é simples...o Sr. Carlos Xistra apenas se inspirou na história da Cátia Vanessa, achando que teria o mesmo "desenrolar". E reflecte também o "desenrascanço" português..em tempos de crise ele pensou que não dando para a arbitragem, este texto poderia ser uma rampa de lançamento para um novo estilo literário!

Unknown disse...

Anónimo, hehehe

Lily, sem dúvida!

Arsénio Gomes disse...

Como o jogo jogado deixa muito a desejar, a malta passa a semana inteira a discutir a arbitragem.

Até parece que quando assistimos a um jogo, vamos para ver o árbitro.

argumentonio disse...

sorry, pensei que o tema fosse mesmo a (in)capacidade de expressão escrita que o extracto do relatório exibe

de resto, estranho o acinte laudatório do FCPorto e do «vossas» atribuidor de uma generalização categórica de todo desajustada porque o meu comentário não contém nada que permita semelhante catalogação

e tanto se me dá que o FCPorto ou qualquer outro clube perca ou ganhe em futebol ou seja em que modalidade for - o que me custa é que tão ferrenhos adeptos se abstraiam até à ignomínia das vitórias ou derrotas fraudulentas

o lance a que me referi, do futebolista português Cristiano Ronaldo, é em honestidade admirável em qualquer parte do mundo - e se houver honestidade não custa nada a aceitar !!!

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