A todos os clientes do Café Margoso, boas saídas, melhores entradas e um
magnífico 2009




Nome:Inês Branco
Nacionalidade: Cabo Verde

No dia em que completa 3 anos de idade.



Triste forma de terminar o ano...




Uma criança da comunidade muçulmana de Malta protesta contra as acções bélicas que Israel programou e está a executar na faixa de Gaza

Fotografia de Darrin Zammit Lupi / REUTER

Fonte: 20 minutos



Um balanço com azul para fechar


1. Não é bem um balanço do ano. Mais ao estilo de notas soltas, divaga-se aqui sobre o estado do Estado e da cidadania, a diversos níveis, escolhendo pegar nalgumas temáticas e sectores da sociedade que tem sido tema recorrente aqui no Café Margoso. Para reflectir, discordar, discutir, comentar, ir e voltar.

2. Cultura: o monstro adormecido, o diamante por lapidar, virou prioridade. Organizam-se fóruns, convocam-se os artistas, inauguram-se obras prometidas, dão-se conferências de imprensa, abrem-se sites, promovem-se galas, atribuem-se prémios e homenagens, discursa-se em cabo-verdiano. Tudo isso está muito bem. Mas é preciso questionar, sempre. Para que servem os fóruns? Como formar, incentivar e promover os artistas? O que fazer com as infra-estruturas inauguradas para além da já habitual privatização irresponsável ou promoção de uma auto-sustentabilidade desprovida de senso e contrária até ao discurso político? Nas conferências de imprensa e nos sites comunica-se o quê e para quem? As galas e os prémios são importantes e depois, o que fazer com o talento reconhecido? Onde está a política cultural? Falta cimento e sustentação a esta agitação toda, essa é que é essa. Sinal laranja, de preocupação.

3. Forças Armadas e Segurança: continuo sem entender para que servem as FA, nos actuais moldes. Mais de 90% das notícias de jornais sobre este sector são sobre sargentos que querem subir de posto; tenentes que almejam ser capitães; capitães que desesperam pela promoção ao posto de majores; os majores que acham que já deviam ostentar o título de coronéis; e estes a defender que é preciso que seja criada a superior categoria de general, por questões de compatibilidade protocolar com homónimos estrangeiros. E pergunta-se, para que serve tudo isto? Cabo Verde é um país em guerra? Com inimigos próximos ou desejosos de invadir o país? Para que serve o serviço militar obrigatório nos actuais moldes? Falta o que fazer a estes homens, e o país com tantos desafios pela frente. E o inimigo morando na nossa própria casa. Sinal vermelho, de desleixo.

4. Comunicação Social: mais jornais, mais televisão, mais rádios. Está melhor? Em alguns aspectos sim, mas muitos dos pecados originais continuam a ser cometidos. Falta de isenção, colagem político partidária demasiado evidente, ausência quase total de um jornalismo de investigação, televisão do Estado com os mesmos vícios e falta de qualidade de sempre, laxismo, desânimo, falta de perspectivas, jornais de referência com meses de férias, televisões privadas que fazem formações e anunciam aberturas sem ninguém se preocupar se à posteriori isso acontece de facto. Muita irresponsabilidade. Não sou jornalista, portanto como consumidor falo. E o cliente tem sempre razão. Ou não tem? Sinal laranja, de alerta.

5. Educação: apesar das polémicas, a Universidade de Cabo Verde aí está, institucionalizada, reitorada, instalada, programada e orçamentada. Cometeram-se erros? Inevitável. Qual o resultado hoje? Cabo Verde tem a sua Universidade Pública. Como todos os projectos estruturais e emergentes tem muito caminho para fazer, mas pelo menos já meteu pé na estrada. É uma realidade. Falta algo que me parece fundamental: controle de qualidade do ensino, não só na pública, mas sobretudo na privada. Só S. Vicente tem "pólos universitários" que nunca mais acaba! Quem controla tudo isto? Que ensino superior está a ser promovido em Cabo Verde? Os filhos dos nossos governantes estudam por aqui mesmo ou ainda vão para o estrangeiro? Sinal verde, de esperança.

6. Turismo: estão-se a cometer cá dentro os erros já mais do que diagnosticados noutras latitudes. No tipo de turismo promovido, no género de construções autorizadas, na mentalidade alimentada, nas questões ambientais não controladas, nos investimentos facilitados, nos terrenos vendidos ao desbarato. Sendo o turismo hoje um dos principais impulsionadores da economia nacional não deveríamos já estar a fazer diferente? Não deveriamos aproveitar o privilégio de ver quanto errados estavam os nossos vizinhos e fazer diferente? Se são os próprios vizinhos a vir cá dizer isso, não se percebe que não se seja mais criterioso e rigoroso em certos aspectos. Sinal laranja, de circulação em terreno movediço.

7. Obras Públicas: aqui um sector em plena expansão, muito graças à estrondosa vitória diplomática que representou o MCA. A evolução neste sector é inquestionável. Portos, Aeroportos, estradas, tudo isto está muito certo, mas é mais importante ainda não esquecer que quem utiliza tudo isso são pessoas. As pessoas em primeiro lugar, devia ser o lema. Sinal verde, de contra factos não há argumentos.

8. Blogosfera: um ano muito bom, como tem sido dito em vários locais. Criou-se o sentido de colectivo, que me parece extremamente positivo e de realçar. É tão claro que é mais o que nos une do que o que nos separa, mesmo que haja quem veja nisto uma maçonaria cuja vivência tem como único objectivo a promoção pessoal de uns quantos. Defendo que esta insinuação não faz qualquer sentido. Este será o princípio de uma nova era na participação cívica? Estou convencido que sim. Sinal verde, de acção participada.

9. Justiça: um ano negro que terminou da pior forma com a libertação de criminosos por motivos meramente processuais. E aqui todos são culpados. Todos. O Governo porque actua menos do que devia, a Oposição porque questiona da pior maneira, os deputados porque não se entendem num assunto de importância radicalmente superior aos seus interesses pessoais ou partidários, e ainda os magistrados, os juristas e, já agora, os cidadãos que exigem pouco e calam muito. Sinal vermelho, de vergonha.

10. Economia: elogiada até por quadrantes avessos ao actual poder, a Ministra das Finanças é já apontada como possível (e desejada) sucessora de José Maria Neves no cargo de Primeiro-Ministro de Cabo Verde. Percebe-se porquê. Naquela que é quase sempre uma das áreas mais contestadas, no arquipélago navega-se em calmas águas. A concertação social está a funcionar, a inflação controlada, a despesa pública vigiada, os salários pagos a tempo e horas, as reservas cambiais estabilizadas, os indicadores económicos longe do vermelho e a avaliação feita pelos tutores FMI e Banco Mundial tem tido sinal mais. Continuo sem perceber como é que os combustiveis continuam tão caros e desfazados do actual preço no mercado internacional e um pouco receoso desta aparente imunidade de Cabo Verde a uma crise global. Estaremos a Leste do Paraíso ou a Oeste do Inferno anunciado? Sinal verde, de acalmia, apesar de tudo.

11. Sonhos: termino com os sonhos de José Maria Neves, que é um poço de confiança e ainda bem que assim é, porque como já disse aqui, se ele não acreditar, quem acredita? Cabo Verde será, pois, "Praça Financeira Internacional", "Plataforma de Serviços", terá uma "Hub Internacional de Transportes", um "Centro Tecnológico Mundial" e, last but not least, as ilhas serão tranformadas num poderoso "Centro Internacional de Entretenimento Cultural". Cá por mim, que sempre acreditei que o sonho comanda a vida, estou a torcer para que tudo corra pelo melhor. Sinal azul, porque se Obama he can, nós também we can!


Mindelo, 31 de Dezembro de 2008





O facto de o Supremo Tribunal ter ordenado, por falhas processuais suas, a libertação de um dos responsáveis por aquele que terá sido o crime mais hediondo do Cabo Verde independente, é uma causa, um sintoma, a explicação visível para que o Vital Moeda se queira ir embora ou simplesmente uma grande pouca vergonha que reflecte o estado lastimável da nossa Justiça?


À melhor resposta, ofereço um café


O Mais di Nôs 2008


Cristina Duarte
20%

Comentário Margoso: o Jornal do Hiena ficou a curta distância e disputou até ao último fôlego esta distinção. O facto de já ter sido nomeado para melhor blogue nacional de 2008 serve de prémio de consolação. O meu voto foi para o actual Presidente da Câmara Municipal da Praia, por ter destronado o auto-considerado-impossível-de-derrotar-actual-especialista-em-sociologia-das-multidões e ex-Presidente da Câmara Municipal da Praia.


O Menos di Nôs 2008


Electra
26%

Comentário Margoso: aqui a disputa foi menos cerrada, mas mesmo assim os curtos circuitos do actual líder da oposição garantiram-lhe um pouco honroso 2º lugar. O meu voto foi para a Electra, empresa cabo-verdiana de água e luz, só para poder colocar uma fotografia com o decote da outra Electra, a Carmen.


O Mais di Fora 2008


Barack Obama
72%

Comentário Margoso: cabazada completa, como seria de esperar. Nem o salto fenomenal e o sangue crioulo de Nelson Évora ou a beleza estonteante da Scarlett deram a mínima luta ao futuro homem mais poderoso do Mundo. We can, sim senhor!


O Menos di Fora 2008


George Bush
59%

Comentário Margoso: mais outra goleada, sem surpresas. Nem o histórico episódio do fantástico sapateado o salvou da encomenda. Vai e não deixa saudades. Bai sampê bai!


E pronto. Foram dias de muita emoção e lágrimas. Resta-nos esperar para ver quais as surpresas que nos reserva 2009. Abraço Cafeano a todos os que participaram, às claques organizadas, aos fãs assumidos ou no anonimato, e muito especialmente ao rapaz que votou as 11 vezes no Ministro da Cultura para pior do ano, e nem é preciso dizer quem pode ter sido!




A Espanha tem sido um exemplo no que diz respeito à forma como as mulheres estão na política. Já se falou aqui da ministra Bibiana Aido, que é Ministra da Igualdade naquele país e tem um blogue activo, que utiliza como instrumento de comunicação com os cidadãos. Agora é a vez da ministra Carme Chacon, Ministra da Defesa, que se encontra grávida, mas sem qualquer impedimento de continuar no exercício das suas funções. Deve ser algo inédito, uma grávida, "passando revista às minhas tropas".




Para quem não esteve, foi assim:

1. Não esteve muita gente, mas quem foi ou levou bom vinho ou boa conversa, ou mesmo as duas coisas;
2. O ambiente criado pela boa música fez daquele um espaço (ainda) mais agradável;
3. Passaram na televisão gigante três filmes, "Buena Vista Social Club", "O Piano" e "Gato Preto Gato Branco". Depois não pude passar mais nada porque os prestáveis empregados do estabelecimento insistiram em ver a novela - que não deu naquele dia - e uma selecção dos melhores momentos do programa da SIC "Levanta-te e Ri", o que é um total paradoxo;
4. Nessa última hora tive que pedir para baixar o som da televisão umas 10 vezes;
5. A cada convidado que apareceu ofereci um copo de vinho tinto para brindar e um grão de café para fazerem com ele o que quisessem;
6. Vários temas foram sendo abordados, mas a corrupção foi o mais animado;
7. Os pasteis e brigadeiros oferecidos foram bastante apreciados;
8. Estiveram presentes duas mulheres grávidas - que se saiba - o que é sempre um bom prenúncio;
9. A máquina de café estava avariada nesse dia, o que não deixa de ser irónico, mas ninguém sentiu falta do líquido tendo o grão (e o vinho, já agora);
10. Ficou combinado repetirem-se sessões destas, fora de datas especiais ou então em aniversários de outros blogues;
11. Entre malta do Sul e do Norte, a coisa esteve bem equilibrada em termos de presenças, o que não deixa de ser notável, embora o período de festas seja o único responsável por isso;
12. Foram horas muito agradáveis e agradeço a quem se deu ao trabalho de lá ir;
13. Obrigado ainda à Eilleen pela força, à Bety pela logística, ao Nelson, Tchá, Elísio, Josi e Vera pela animação, ao estabelecimento e seus responsáveis pela autorização.


Prometo para alívio de quase todos (incluindo eu próprio!) não voltar a falar do aniversário do Café Margoso pelos menos nos próximos 350 dias, que isto já faz parte do passado. Agora é como escreveu o Zé Cunha: procurar manter um nível de criatividade e interesse deste espaço, que justifique esta tamanha lavagem de Ego a que assistimos nos últimos dias...

A gerência



“O Café Margoso, que eu chamo de “margós”, foi e é um estabelecimento de referência de 2008. Está sem dúvida de parabéns pelo aniverário, mas sobretudo pelo produto, pela clientela que gerou, pelas inconveniences todas, pelas manias e teimosias do dono.

O Café, para além do tranze que provoca, ajudou muitos dos frequentadores, sobretudo locais, a sentirem um cheiro que vem também do Sul.

Atacou e criou espaços aonde reinava alguma “ignorância” sobre especiarias típicas de outras latitudes.
Ajudou a clientela a conhecer produtos mais ao largo.

Acho que o requinte do Café Margoso está sobretudo nesta capacidade para olhar para o lado e sentir todos cheiros que interessam.

Um forte abraço, João.

Djinho Barbosa”

Série Café Margoso 1º Aniversário





Não esperes por Dezembro
para que sejam felizes as festas
e prósperos os anos
que dezembro pode ser tarde
para quem se guarda até tão tarde.

Quero pertencer a um país de alegria
para que dezembro não seja hipocrisia
mas o que tiver que ser, chuva e vento
gelo e neve pelas ruas desertas,
mas não frio agreste a habitar
o desamparado coração dos homens.

Não esperes por Dezembro
dezembro pode ser‿longe
dezembro pode ser‿tarde
dezembro, dizem, só é longe
para quem tarda o coração.

Alex Zé Cunha


Ao que parece o texto do Mário Fonseca no último número do Expresso das Ilhas deu o mote para que se fale de corrupção. Falemos então disso. Mas sem papas na língua. Sem medo de processos nos tribunais por difamação. Sem medo de ter dezenas de anónimos verdes ou amarelos a carpir banalidades avulsas sem nos conhecerem de lado nenhum. Porque provavelmente pior que a corrupção - talvez ligada a ela - é esse cancro social banalizado no nosso país chamado riola (tradução mais ou menos literal da expressão má língua). E depois, mistura-se uma e outra e ninguém se entende. Não há denúncias, há bocas. Não há relatos de ilegalidades, há curtos artigos nos radares do nosso contentamento. Não há processos-crime ou investigações contra poderosos, há jogos político partidários que não convencem nada nem ninguém. Não há jornalismo de investigação, doa a quem doer. A verdade é que parece não haver quem esteja disposto a dar com a boca no trombone. Toda a gente teme as consequências. Muito provavelmente porque metade do país é primo, amigo, conhecido ou familiar da outra metade e não fica bem estar a lavar roupa suja em público.

Falemos, pois, de corrupção. Vamos lá. Como é possível que a grande maioria da população não confie, por razões "ninguém sabe ninguém diz", nas alfândegas deste país? Como é possível que circulem viaturas de milhares de contos e sejam erigidos certos palacetes que vemos por aí? De onde vem o dinheiro que sustente certos estilos de vida e formas de estar de pessoas que fazem da ostentação o seu dia-a-dia? Que salários pagam os luxos que circulam debaixo dos nossos narizes? Alguém sabe? Silêncio. Alguém actua? Imobilidade. Ninguém fala do que toda a gente vê. Porque razão não chegam a entendimento os deputados da Nação sobre tudo o que diga respeito à reforma da Justiça, sem a qual tudo o que se possa dizer ou mesmo fazer não passa de água em balaio furado? É assim tão difícil de entender, porra?

Isto tem a sua lógica. Todos somos inocentes até prova em contrário, não é? Viu-se no caso do roubo da electricidade por certos barões do Palmarejo. Denunciar? Não! Todos somos inocentes até prova em contrário. Pronto. Ponto. Mas como a justiça não funciona ou funciona mal, é um pouco complicado, para não dizer improvável, que alguém com carteira recheada e sentado nalguma cadeira confortável do poder, seja ele qual for, possa vir a ser confrontado em Tribunal. Não é novidade. Foi dito publicamente por gente identificada que há juristas com nome e responsabilidade a defender gente suspeita por crimes muito pouco católicos. Há por aí muita promiscuidade e não é de admirar que uma personalidade como Vital Moeda provoque tanta reacção na população. Olhem! Um gajo que fala, que faz, que não se deixa comprar! Há algo que me perturba bastante na forma entusiástica como se olha para o jovem procurador. Aliás, ele sabe disso melhor do que ninguém, parece-me. Se este fosse o país das maravilhas no campo da justiça, o Vital Moeda era a regra e não a excepção.

Há um grande equívoco em relação a este estado de coisas. É que não parece haver nenhum desentendimento em relação a este assunto. O que parece é, pelo contrário, haver um entendimento tácito, claro, não assumido porque inadmissível publicamente, em relação a uma não-reforma. Que tudo fique como está. Não mexer. Não tocar. Senão ainda vão andar por aí esqueletos saídos dos armários de alguns poderosos a circular impunemente pelas ruas da cidade. Shiuuuuu, kalam ess boka.


Ilustração de Pedro Madeira Pinto


Ver também: blogue geração 20j73



Imagens de sempre, que marcam como a luz...





Pablo Picasso fotografado por Gjon Mili, para a revista LIFE Magazine





Um casal resolve ir passar um fim de semana num parque natural. Ele adora pescar; ela adora ler. Como se tinha levantado de madrugada, o homem resolveu ir dormir uma sesta para dentro da caravana e deixou a mulher sozinha na beira do lago a ler e a tomar conta do equipamento de pesca. Não passou muito tempo até que apareceu um guarda do parque.

    - Bom dia, minha senhora. - cumprimentou ele. - Posso saber o que está a fazer?
    - Estou a ler um livro, como pode ver.
    - A senhora está numa zona em que a pesca é proibida.
    - Mas eu estou a ler e não a pescar...
    - Mas tem todo o equipamento necessário e pode começar a qualquer momento. Vou ter que a multar.
    - Se o senhor fizer isso eu terei de apresentar queixa de si por assédio sexual.
    - Assédio? Mas eu nem sequer lhe toquei!
    - Sim, mas tem todo o equipamento necessário e pode começar a qualquer momento...
    - Tenha um bom dia minha senhora.


    Moral da História: nunca te metas com uma mulher que goste de ler...


    Fonte: aqui




    Texto: Zé Cunha / Alex, Poeta

    Diz-se que o “criminoso” não deve regressar ao local do crime. Cá estou para testar este improvável vaticínio. Faço-o porque Café Margoso (CM) foi também um lugar ‘meu’, inaugural na minha blogosferina estreia blogosferiana, esta casa, dito café, que adoptei e onde fui adoptado, que fiz meu sem licença e sem censura, onde muito recebi no pouco que dava (sem falsa modéstia), lugar onde a partilha, e a palavra partilhada, foram semente que frutificaram, onde o diálogo traz nomes, rostos, e imagens, sob a forma de selos de afecto que se nos colam à memória, e onde o nó das discussões e o calor dos debates deram à costa amigos que expandiram esta precária geografia da ingratidão, matéria de que é feita estes nossos tristes cinzentos dias de hoje.

    Café, dizia, margoso, por supuesto. Simples ou pingado, com ou se açúcar (comme il faut), em chávena fria ou escaldada, bica, cimbalino ou simplesmente café, carioca ou italiana, cheio ou curto, com ou sem cafeína (CM é, decididamente, COM CAFEÍNA). Assim foi, (tem sido?) o Margoso. Margós, mar-grossu, mar(di)gozu. De tudo um pouco, um pouco de tudo, quem sabe este o segredo do seu sucesso, mas também o seu lastro. Desafio ganho a vários títulos.

    Incondicional, que sou, da(s) nossa(s) Blogosfera(s), espaço onde as muitas virtudes compensam de longe os muitos defeitos. Hoje, pede-se talvez menos, mas melhor. Que é como quem diz, mais com menos, ou, pelo menos, com o mesmo. A receita do CM funciona(ou). Imaginação precisa-se para renovar. Tanto mais que o café, e as delícias deletérias da molécula cafeínica, diz-se, não devia deixar dormir. Não adormecer entenda-se, à sombra do sucesso (cuidado João!). Nestas coisas (coisas da criativa+idade e das ideias), ao contrário do futebol (e o João, como bom Portista que é, sabe disso pelas nossas sucessivas sangrias de fim de época), em equipa que ganha … MEXE-SE! Saudar o João, e o Margoso, sem lembrar essa invenção com selo de qualidade que é a marca Caboverdiana do Ano, CABO VERDE BLOG, seria injusto. Só por ela já teria valido a pena o Café.

    Talvez seja oportuno falar do meu afastamento definitivamente provisório, ou provisoriamente definitivo da blogosfera. Afastei-me por uma única razão maior. Estava a ficar “apanhado pela coisa”. Os blogues são, acreditem, viciantes. Assim, decidi ir dar uma volta, arejar, recuperar as minhas horas de sono, reivindicar o meu direito à preguiça. A razão menor, e a mais funesta, é a velocidade e a rapidez com que tudo acontece (deve ser da idade), o corre-corre, o atropelo neurótico de ir a todas e de se falar de quase tudo, uma espécie de hiperactividade autista (que nos cria a ilusão de debate mas de facto não passa disso – salvo raras excepções), que desagua num hiperconsumo de Post’s que nos submerge, atropela, e não nos deixa tempo nem para reagir quanto mais para digerir. Convenhamos, é esta a filosofia da maioria dos Blogues, assente na ideia de descartável! Talvez por isso mesmo Poucos contrariem a regra do “fast-food”, do “prait-a-porter”. Chamei-lhe efeito “Buble-Gum”. Dura enquanto durara o “açúcar” da primeira página. O resto é mastigação. O que não está à vista morreu. Pior, nunca existiu, mesmo que esteja a um clique de distância algures num link aí mesmo ao lado. Poucos, dizia, contrariam esta regra, e, estranhamente (ou não), são esses poucos blogues os menos comentados. Cá está um bom tema, e, quem sabe, uma boa oportunidade para se falar/debater o papel dos blogues. Para quando um encontro dos nossos bloguer’s? Quem tem medo da Blogosfera?

    Em tempo próprio, muito antes destas coisas de datas especiais (lá estou eu a embirrar com as datas, João) carregadas de confetties e chantilly, disse o que pensava do Margosos e do João (que então não conhecia pessoalmente). Não vou repetir os elogios, porque como me ensinou o grande (o enorme) poeta Luso-Angolano Ruy Duarte Carvalho, “O adjectivo corrompe”. Perguntou-me o João, com outros modos, outros meios, e outra fala, “virás por uma palavra?” (verso de Carlos Alberto Machado, in Talismã). Sim irei, respondi. Chego tarde? 27 foi (só) ontem. Não! Nunca tarda quem tem de chegar. Por isso, cá estou.

    Uma última palavra. Por acaso a primeira de um belíssimo livro de um dos meus mestres, Eduardo Prado Coelho (in, O cálculo das sombras):

    “A primeira palavra é: obrigado. É a mais fácil, é a mais justa, é a mais espontânea.”. Acrescentarei: a mais sincera!

    Obrigado João, e um grande abraço.


    Série Café Margoso Primeiro Aniversário




    A entrevista já tem mais de um mês, mas só ontem, quase por acaso, vi o programa da CBS "60 minutos", onde Barack Obama é entrevistado sobre os seus primeiros dias como Presidente eleito da nação mais poderosa do mundo. A segunda parte desta notável entrevista, que bateu recordes de audiência da estação americana, feita em conjunto com a sua mulher Michelle, foi sobre assuntos pessoais, a vida do casal, as filhas, o prometido cão, a importância da sogra, entre outras trivialidades, tudo isto num tom descontraído mas ao mesmo tempo directo, sem rodeios, com firmeza e notável sentido de humor. Nunca como agora, os Estados Unidos da América terão um presidente tão humano vivendo na Casa Branca. Um homem que antes de ser o mais influente do planeta, é uma pessoa normal, como todos nós. E isso faz toda a diferença.

    Barack Obama, definitivamente o homem do ano.





    Faz hoje um ano que iniciei a aventura do Café Margoso. Para falar a verdade quando comecei não fazia nenhuma ideia do que pretendia nem qual rumo tomar. Fundamentalmente, procurei que este fosse um lugar para estar, para falar, para opinar, para rir, para emocionar, para ouvir, para ver, para escolher, para perguntar, para declarar, para cronicar, para desabafar, para me zangar, para desaforar, para convidar, para procurar, para legendar, para construir pontes, enfim, para partilhar.

    Durante este período, e após mais de 50 mil visitas, 1200 artigos e 5 mil comentários, aprendi imenso, ganhei novos amigos, aproximei-me do Sul e terei ganho algumas inimizades. Certamente errei algumas vezes, exagerei outras, fui imprudente e até injusto. Mas procurei não calar, não censurar, não desqualificar, não desvalorizar, não temer e não cegar nada nem ninguém.

    Agradeço pois a todos os que aqui vieram e opinaram, aos clientes mais assíduos e aos mais esporádicos, aos cabo-verdianos para quem este blogue é feito, e a todos os outros que se interessam pelas coisas do arquipélago, aos artistas, músicos, actores, cronistas e poetas que quase sempre me deram matéria de que falar, comentar, elogiar, criticar, desfrutar.

    O Café Margoso procurou ser um local com personalidade, como é inevitável que seja um blogue, mas aberto a todos. Dá enorme importância aos Anónimos que aqui vem e opinam e são muitos. A verdade é que isto teria metade da piada sem eles. Mesmo aqueles que mandam calar, que insinuam, que insultam, que provocam ou que pensam que isto faz parte duma espécie de Maçonaria que protege, promove e adula meia dúzia de umbigos. Como se a nossa basofaria crioula precisasse de ser alimentada. Mas enfim, siga a dança.

    Manter este espaço vivo e dinâmico foi uma das formas que encontrei para, enquanto cidadão, artista, criador, amigo, amante, pai e educador, contribuir para uma sociedade um pouco menos cinzenta e mais inquieta. Há um défice grave de inquietação entre nós. O que faz falta é agitar a malta, cantou-se por altura da revolução portuguesa. A cantiga é uma arma, era um dos hinos mais repetidos de então. Por aqui, agita-se através da partilha, conscientes que um bom blogue, como este tenta ser, pode muito bem ser uma arma contra a mediocridade reinante.

    Abraço fraterno e, claro, obrigado.

    A gerência



    Harold Pinter
    (10 de Outubro de 1930 — 24 de dezembro de 2008)


    "A linguagem política, tal como a empregam os homens políticos, não se aventura sobre este género de terreno, pois a maioria dos homens políticos, a crer pelos elementos de que dispomos, não se interessa pela verdade mas pelo poder ou pela manutenção do poder. Para manter esse poder é essencial que as gentes continuem na ignorância, que vivam na ignorância da verdade, até da verdade da sua própria vida. O que nos rodeia é um vasto tecido de mentiras, do qual nos alimentamos."

    "Eu creio que apesar dos enormes obstáculos que existem, ser intelectualmente resoluto, com uma determinação feroz, estoica e inquebrantável, e definir, enquanto cidadãos, a real verdade das nossas vidas e das nossas sociedades é uma obrigação crucial que nos incumbe a todos. Ela é mesmo imperativa. Se uma tal determinação não se incarna na nossa visão política, nós não teremos mais nenhuma esperança de restaurar o que nós estamos tão perto de perder - nossa dignidade de Homem."

    Mensagem de Harold Pinter na recepção do Prémio Nobel da Literatura.





    "Uma primeira linha mestra que atravessa de ponta-a-ponta o primeiro ano de existência do Café Margoso: trazer para o debate, apontar o dedo, escalpelizar, incentivar à participação, partilhar com o seu contributo para a sua ‘menina dos olhos’ que transborda o ‘teatro da sua paixão’ e se centra nas artes todas, que enformam o que podemos chamar de cultura cabo-verdiana. E batalhou, ‘queimou pestanas’, contribuiu e fez com que vozes mil também o fizessem através de Espaço."

    Fonseca Soares, mensagem recebida a propósito do 1º aniversário do Café Margoso




    Se o grogue fosse um derivado do petróleo, a probabilidade de haver protestos e manifestações públicas ao estilo grego, contra a lentidão na descida dos combustíveis, apesar dos preços internacionais serem um terço do que eram há alguns meses, não seria potencialmente muito maior?


    À melhor resposta, ofereço um café



    Uma história de amor que acaba mal...











    ... fotografada por Kizó Oliveira



    Peça: Gato Malhado e Andorinha Sinhá (2008)
    Grupo de Teatro do Centro Cultural Português - IC



    "Crash" um dos filmes mais surpreendentes dos últimos anos, vai ser transformado em série de televisão e conta como um dos protagonistas, nada mais nada menos, do que o actor Dennis Hopper. Quatro anos depois de provocar polémica entre os norte-americanos pela sua abordagem sobre o racismo e os estereótipos, o filme, que fez críticos e público se questionarem sobre as relações raciais problemáticas na multi-étnica cidade de Los Angeles, e vencedor inesperado do Oscar de melhor filme do ano em 2004, foi convertido agora numa série de televisão que também dividiu os críticos.

    A recepção dúbia da série, que também aborda o racismo nas cidades, não surpreendeu o director e argumentista Paul Haggis. "Quando eu tive esta ideia, pensei automaticamente numa série para televisão, mas Crash aparentemente não dava uma série. Quando eu tentei fazer esta proposta, as pessoas riram-se de mim", disse Haggis à Reuters. Depois que o filme ganhou três Oscars, incluindo o de melhor filme, tudo mudou. Haggis, de 55 anos, é o produtor-executivo e a equipa que escreveu o argumento criou um grupo de policias corruptos de todas as etnias, além de um membro de gangue coreano que acaba se endireitando e uma dona de casa branca que é rica, mas frustrada.

    Se a série for tão boa quanto o filme, espero que não demore muito a chegar por aqui.


    2008 foi um ano extraordinário para a blogosfera cabo-verdiana. A dinâmica mantida ao longo do ano, a quantidade de novos blogues criados, o aumento exponencial dos comentários, a noção clara da força que pode ter este movimento, a adopção do selo "Cabo Verde Blog" pela grande maioria dos blogues crioulos, o aparecimento das expressões "blogosfera", "blogocratas", "blogueiros berdianos", entre outros, demonstra a vitalidade deste fenómeno que, apesar de tudo, ainda é pouco explorado em Cabo Verde, se compararmos com o que acontece noutros países. O avanço para o conceito de Blog Joint foi apenas mais um passo do que poderá vir a ser um movimento de opinião, com uma palavra a dizer.

    Quanto ao Café Margoso, procuramos estar atentos a esta realidade com este "Blogómetro Cabo Verde" e chegou a altura de atribuir algumas distinções, para fechar o ano.

    Blogómetro 2008 - Prémios & Distinções Margosas

    Blogue Nacional do Ano


    Blogue Internacional do Ano




    Outras Distinções

    Blogue Revelação do Ano (novo blogue em destaque) - Bianda (aqui)
    Blogue Fodas do Ano (blogue mais cáustico) - Ala Marginal (aqui)
    Blogue Regresso ao Futuro do Ano (blogue renascido das cinzas) - Tempo dos Lobos (aqui)
    Blogue Quase Erótico do Ano (blogue com melhor tempero) - Retalhos de Vida (aqui)
    Blogue Desaparecido em Combate do Ano (activista em hibernação) - Pedra Bika (aqui)
    Blogue Sempre a Postar do Ano (blogue com maior regularidade) - Terra Longe (aqui)
    Blogue Grafismo do Ano (blogue com grafismo mais original) - Boca de Lobo (aqui)
    Blogue Cadáver Esquisito do Ano (blogue morto e enterrado pelo autor) - Blogue do Paulino (aqui)
    Blogue Promessa do Ano (blogue que promete animar 2009) - Ku Frontalidade (aqui)

    Comentador do Ano - Anónimo


    Quanto ao Café Margoso, ganha definitivamente o prémio de Blogue Basofo do Ano. Um grande 2009 para todos os leitores, blogueiros, crioulos e crioulas, em particular e população mundial, em geral




    Não acredito no Pai Natal. Mas que há gajos com sorte, lá isso há...


    Ah. e para quem liga para estas coisas, aqui vai: Feliz Natal!

    Se os animais fizessem os filmes...








    Fonte: aqui




    Umas das coisas que mais detesto nesta época é presenciar à quantidade quase apocalíptica de brinquedos de péssima qualidade e gosto mais do que duvidoso que invade as lojas dos chineses (e não só) durante estes dias. Acompanhado pela respectiva febre consumidora que toma conta da população do Mindelo, facilmente comprovada pelas filas nas caixas 24 e pela impaciência da grande maioria, como se oferecer prendas não devesse ser um prazer que se faz por amor e amizade, e não como uma desagradável obrigação que se cumpre porque tem que ser, já que foi esta a data e não qualquer outra, a definida como aquela em que todos devem dar prendas a todos, correndo o perigo de ir parar ao fogo do Inferno, se não cumprir esta santa obrigação nesta santa data.

    Entretanto, hoje aparecem-me em casa duas crianças familiares, com duas pistolas de brinquedo, mas tão bem feitas que ninguém diria serem falsas. Duas pistolas que facilmente poderiam ser utilizadas na rua para aplicar uns caçus bodys aos mais incautos. Mas a parecença não é a única característica destes objectos: tem balas, carregadores, forma de serem carregadas, são duros, resistentes e disparam a alta velocidade, umas bolinhas de plástico duras, capazes de cegar, com a maior facilidade, olho que se coloque no seu caminho. Ah e a maior qualidade de todas: custa a módica quantia de 150 escudos em qualquer loja dos chineses.

    Sinceramente, não gosto de me armar em puritano, mas estes brinquedos são uma lástima e um perigo real, a curto e médio prazo. E alerta-nos para uma preocupante realidade: não há qualquer controlo em Cabo Verde sobre os perigos destes produtos, nem quando entram no país e muito menos quando são colocados a preços de saldo nas montras coloridas das lojas citadinas, para serem adquiridos por qualquer criança que queira andar por aí aos tiros imitando as séries e filmes da televisão. E ninguém se parece importar com isso. Nem Governo, nem Câmaras, nem Polícias, nem Adeco, muito menos os cidadãos.

    Até ao dia em que o filho de alguém importante ficar com um olho inutilizado por uma porcaria destas. Aí talvez acordem para esta triste realidade natalícia.




    Segundo a The Associated Press, no ano de 2007, os bancos que hoje pedem ajuda ao governo americano para não falirem, pagaram aos seus administradores de topo 1,6 mil milhões de dólares em salário, bónus e outros benefícios. Um ano em que já se pressentia a crise e as dificuldades que daí iriam surgir.

    Nunca o slogan da esquerda radical dos anos 80 fez tanto sentido como hoje: "os ricos que paguem a crise!" Cabrões.


    FonteNotas ao Café





    Quem és tu?


    À melhor resposta, ofereço um café





    Uma monja russa ortodoxa na gruta da Igreja da Natividade em Belém


    Fonte: 24minutos




    Ainda ontem pensava que não era
    mais do que um fragmento trémulo sem ritmo
    na esfera da vida.
    Hoje sei que sou eu a esfera,
    e a vida inteira em fragmentos rítmicos move-se em mim.

    Eles dizem-me no seu despertar:
    "Tu e o mundo em que vives não passais de um grão de areia
    sobre a margem infinita
    de um mar infinito."

    E no meu sonho eu respondo-lhes:
    "Eu sou o mar infinito,
    e todos os mundos não passam de grãos de areia
    sobre a minha margem."

    Só uma vez fiquei mudo.
    Foi quando um homem me perguntou:
    "Quem és tu?"

    Kahlil Gibran
    Ilustração "he is who" de Calascione


    As passagens de ano são ideais para grandes promessas. A minha promessa número 1 é simples. É só seguir o conselho do artista John Baldessari:


    I will not make any more boring art



    Prometo que vou tentar...


    Página do artista: aqui




    Texto: Káká Barbosa


    Não tenho dúvidas de que há muitas paixões pelo café.
    E não são poucos os que aceitam viver amando o cio do grão torrado.
    Sempre as pessoas por ele se apaixonam por uma questão de prática.

    Porque dá jeito. Porque se dão bem e não se chateiam um com o outro. Porque faz sentido. Porque é barato. Por ser um produto da terra. Por causa da paródia. Por causa do entretenimento. Hoje em dia as pessoas fazem dele uma forma de desinibição. O amor passou a ser passível de ser combinado num café. Os amantes tornaram-se sócios do café.

    Reúne-se, discutem-se problemas, tomam-se decisões no café. O café transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. Um bom café é na medida do possível, quente, amargo, meio adocicado.

    O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam praticamente dele dependentes. Eu quero fazer o elogio ao café puro, ao café cego, ao café estúpido e amargo. Ao café doente do último fumo do cigarro, ao café tossido em conversas de café, farto de incompreensões, farto de conveniências e farto de baboseiras. Nunca vi café tão embrutecido, tão cobarde e tão comodista como o café amargoso. O café é capaz de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, tem raça, tem abrigo em cantinas, onde a malta tá tudo bem, onde há tomadores de bicas, faladores, discutidores de tudo e mais alguma coisa. Ninguém se rala e se escusa do amargo do café uma paixão pura sem cura, uma saudade sem fim, tristeza, desequilíbrio, medo, nervosismo, tensão alta a comer-nos o coração e que nos dita no peito o vício de ir ao café de manhã, meio-dia, à tarde e á tardinha, aos fins de semana, de segunda à sexta novamente. O café é uma coisa, a vida é outra. O café não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida. O café é para ser lido e sentido nas entrelinhas. Um vão, talvez, entre chão e João.

    De Kaka Barboza para o Café Margoso


    Série Café Margoso Primeiro Aniversário



    1. Eric Hanushek, um economista em Staford, estima que os alunos de um mau professor aprendem, em média, num ano escolar, o que valeria metade do programa. Os alunos nas classes de um professor excelente aprendem o valor de um programa e meio. A diferença corresponde ao que seria suposto aprender num ano inteiro. Os efeitos dos professores sobre a aprendizagem dos alunos são enormes quando comparados com os efeitos da escola: a sua criança está melhor numa escola "má" com um professor excelente do que numa escola excelente com um mau professor. [via]

    Leiam o artigo original aqui

    2. Existem actualmente mais escravos no planeta do que em qualquer outra época da História. Comprar um escravo no Haiti demora apenas uns minutos e rapidamente são enviados para os Estados Unidos como mão-de-obra ou para favores sexuais. Um artigo da revista Foreign Policy, de leitura imprescindível, mostra os bastidores do tráfico humano que continua vergonhosamente a acontecer em pleno século XXI. [via]

    Leiam o artigo original aqui


    Ilustração: «The Lonely Doll I» de David LaChapelle






    É já no próximo Sábado, o grande convívio do 1º aniversário do Café Margoso. E não pensem nestes vários avisos como excesso de zelo. Também é uma oportunidade de ir mostrando os vários flyers que foram sendo criados para a ocasião. O convite continua aberto a todos os interessados.


    O Fantástico Mundo de Colbert Gregory









    Veja a galeria completa aqui



    Mas errado do que certo

    Na primeira crónica desaforada do Café Margoso, publicada no final do ano passado, foram feitas algumas previsões sobre "o que provavelmente irá acontecer em 2008". Esta é uma boa altura para ir verificar se as minhas previsões foram ou não as mais correctas. Então vejamos.

    Previsão 1: O Éden Park será destruído, meia dúzia de vozes se levantarão indignadas, mas de pouco adiantará. O progresso e o desafio de Cabo Verde enquanto Pais de Desenvolvimento Médio não são compatíveis com nostalgias antiquadas. O país e a cidade precisam, com muito maior urgência de mais um complexo hoteleiro e/ou Centro Comercial;

    Previsão Errada: o Éden Park lá está, inteiro. A apodrecer, mas inteiro. Quem sabe estão à espera que caia sozinho e talvez assim não se possa culpar ninguém pelo crime contra o património histórico, arquitectónico e cultural de Cabo Verde que, inevitavelmente, vai ser cometido. Mas o pior crime é o silêncio cúmplice da maioria da população em relação a esta e a outras barbaridades urbanísticas que vimos assistindo impavidamente nos últimos tempos.

    Previsão 2: o Governo de Cabo Verde continuará a atribuir uma verba praticamente simbólica ao Ministério da Cultura, e portanto, as infra-estruturas culturais continuarão a ser alvo de processos de privatização, ou melhor, de auto-sustentação concessionária;

    Previsão Errada: pelo menos a primeira parte dela. Olhem que 3% do bolo orçamental não é nada de se deitar fora e faz inveja a muitos Ministros da Cultura por esse mundo fora. Mas infelizmente esse facto não impediu que a segunda parte da previsão fosse verdadeira, o que nos faz pensar que algo não bate certo na forma como essa verba vem sendo gerida.

    Previsão 3: continuaremos a assistir, com grau de assiduidade variável, a discussões sem conteúdo, sem interesse e sem nexo, sobre badios e sampadjudos e a importância ou desimportância de cada faceta para o desenvolvimento de Cabo Verde. Dois ou três amigos de longa data ficarão alguns meses sem se falar;

    Previsão Errada: embora haja sempre alguns resquícios desta polémica estéril, sinais positivos marcaram o presente ano neste aspecto. O espectáculo "Máscaras", co-produzido pelo Grupo de Teatro do Centro Cultural Português do Mindelo e pela Companhia Raiz di Polon foi um bom exemplo. Mas como me disse um amigo, por enquanto que um facto como esse continuar a ser digno de realce é porque o bairrismo ainda é algo muito presente na nossa sociedade. Pior é querer meter a cabeça na areia e fingir que não existe.

    Previsão 4: continuaremos a ver muitos agentes culturais a bater de porta em porta, a gastar fortunas nos telefones, a tentar falar com o «senhor Administrador», a propósito de um apoio para uma actividade cultural concreta. Continuaremos a depender da boa vontade e bom senso de uns quantos gestores bem intencionados;

    Previsão Incerta: a Lei do Mecenato é ainda muito pouco conhecida e divulgada, e continua a ser uma complicação terrível conseguir confirmar algum acordo que tenha o mínimo de sustentação. Mas como ficou comprovado no episódio do concurso público para a bolsa de criação, relatado numa das nossas últimas crónicas, e que teve apenas um concorrente, por vezes também dá a sensação que muitos artistas estão à espera que os apoios e patrocínios lhes caiam no colo, por obra e graça de Espírito Santo.

    Previsão 5: um representante do instituto responsável visitará a cidade do Mindelo, e anunciará com grande satisfação e gáudio geral, em conferência de imprensa realizada para o efeito, a inauguração do novo Centro Nacional de Artesanato, para data a anunciar brevemente.

    Previsão Errada: apressadamente lá conseguiram inaugurar um auto-proclamado Museu de Arte Tradicional, cujo conteúdo revela uma total confusão de conceitos e uma pobreza de conteúdos confrangedora. De realçar a boa recuperação do imóvel, decorada mais como Casa de Memória - com um quarto dedicado a cada período histórico do edifício doado pelo Senador Vera Cruz - do que como museu. A pressa é inimiga da perfeição, mas isso nem é grande problema. A dúvida que fica é a seguinte: o que é isso de Arte Tradicional? Alguém sabe? Alguém entendeu porque não se recuperou não só o nome, mas também o espírito e a obra do instinto Centro Nacional de Artesanato?

    Previsão 6: não se prevê a inauguração de nenhum teatro, ou cinema, ou sala de espectáculos, ou sala de ensaios para grupos locais, em nenhum concelho do arquipélago. Não está previsto, sequer, o lançamento de primeiras pedras para o efeito (sempre era uma esperança);

    Previsão Errada: errada, se considerarmos a reabertura do Cine-Teatro da Praia e a promessa da Câmara Municipal da capital em equipar convenientemente o local e promover espectáculos de dança, teatro, música e, claro, o indispensável cinema. Aplausos mil, pois! Mas ao contrário do que acontece no Desporto, a aposta na infra-estruturação cultural em Cabo Verde é quase sempre esquecida. Não se trata assim um diamante, pois não?

    Previsão 7: provavelmente, vamos continuar que ter que esperar por uma ida ao estrangeiro – e à FNAC – para encontrar o tal livro, ou quando muito, aguardar pela Feira do Livro, e esperar que esse título esteja no grupo dos seleccionados. Livrarias continuarão sendo muito raras e havendo-as, tem os livros a preços absurdos, comparativamente com os do local de origem;

    Previsão Errada: palmas para a livraria Eugênio Tavares, na Praia, e para a Semente, no Mindelo, uma mais recente do que a outra, mas que sempre dão alguma alternativa a quem procura algum título mais recente e não quer esperar pela Feira do Livro. Além disso, os esforços para venderem livros a preços competitivos também são de aplaudir. Mas as duas tem algo em comum: são iniciativas privadas, sem qualquer apoio do Estado. Qual a política do Estado para o livro em Cabo Verde?

    Previsão 8: vamos continuar a ir a exposições de artes plásticas – interessantes, algumas; apenas bem intencionadas, outras – mas com obras expostas sem qualquer critério e/ou preocupação estética. A esperança de ver uma exposição colectiva com a participação de alguns dos nossos melhores artistas plásticos, é bastante remota;

    Previsão Errada: esta previsão foi totalmente trucidada pela magnífica exposição de Luisa Queirós na réplica da Torre de Belém, na cidade do Mindelo, e que nos mostrou, entre outras coisas, que é possível montar uma exposição de artes plásticas digna, pensada, bem iluminada, com um percurso definido, entre outras características importantes mas quase sempre negligenciadas, como se viu na forma patética como foi apresentada a mostra de Arte por altura do Fórum da Economia da Cultura. Ficamos também a saber que existe em Cabo Verde um fantástico edifício, com excelentes características para ser uma galeria de arte moderna, cuja recuperação custou uma pipa de massa, paga pelo Estado português e oferecida ao Ministério da Cultura, mas que embora esteja pronto, está fechado vai para quatro anos! Ficou claro que o edifício recuperado - espectaculares interiores e fantástica localização - já precisa de uma nova recuperação, por falta de uso...

    Previsão 9: o tipo de música passada nas rádios continuará a ser o mesmo de sempre; se, por acaso, ouvirmos música clássica na rádio, com certeza que é porque alguém importante morreu;

    Previsão Incerta: não ouvi assim tanta rádio este ano para poder avalizar sobre o nível geral das escolhas musicais nas nossas estações emissoras. Mas desconfio que não terei andado muito longe da realidade. Seja como for, este foi um excelente ano a nível musical, com destaque para Hernani Almeida e Princezito.

    Previsão 10: vamos continuar a ter alunos do ensino secundário e/ou superior a procurar artistas ou intelectuais para entrevistas, onde, entre outras banalidades, se pergunta o que é o teatro ou a música e como apareceram certas manifestações culturais em Cabo Verde. Felizmente, já existe bibliografia especializada sobre o assunto, o que torna tudo mais fácil.

    Previsão Errada: este ano foi, no meu caso particular, um ano calmo. Um bom sinal.


    Como se vê, as minhas previsões foram quase todas erradas. Melhor assim! Embora em alguns casos, foram-no porque a realidade ainda conseguiu ser pior do que o pesadelo; noutros porque algo aconteceu que veio comprovar que ainda há razões para ter esperança, que é possível fazer bem, que há talento e vontades para que não tenhamos que nos cruzar tantas vezes com sinais de preocupante mediocridade.


    Mindelo, 22 de Dezembro de 2008