Cântico do Homem

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        Apetece cantar, mas ninguém canta.
        Apetece chorar, mas ninguém chora.
        Um fantasma levanta
        A mão do medo sobre a nossa hora.

        Apetece gritar, mas ninguém grita.
        Apetece fugir, mas ninguém foge.
        Um fantasma limita
        Todo o futuro a este dia de hoje.

        Apetece morrer, mas ninguém morre.
        Apetece matar, mas ninguém mata.
        Um fantasma percorre
        Os motins onde a alma se arrebata.

        Oh! maldição do tempo em que vivemos,
        Sepultura de grades cinzeladas,
        Que deixam ver a vida que não temos
        E as angústias paradas!

        Miguel Torga



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1 comentário:

Anónimo disse...

Há que cantar, e chorar, e gritar, fugir, e, quantas vezes, também morrer.
Viver o fantasma, matar o fantasma, morrer, e voltar a cantar, chorar, gritar e, de novo, ter vontade de fugir. Antes de matar o fantasma...