Não percam o lançamento do livro “O Trampolim” de Abraão Vicente. O lançamento terá lugar na livraria Nhô Eugénio, no dia 2 de Dezembro pelas 18h30.

A apresentação terá a participação especial do músico e compositor Princezito que fará uma leitura dramatizado de um texto. O lançamento terá um ambiente totalmente informal e contará também com leituras encenadas de alguns diálogos do livro pelos actores Dulce Sequeira, José Pedro Bettencourt, Paulo Silva e Raquel Monteiro.





O Governo britânico quer aferir a felicidade dos seus cidadãos, a satisfação com a vida que levam, criando um índice da felicidade interna bruta (FIB), em oposição ao PIB. A ideia tem adeptos no Banco Mundial e na ONU e alguns países começam a aplicá-la.

Esta ideia de terminar com a ditadura dos índices económicos para averiguar do estado de saúde de uma Nação já vem tarde demais. Muitos economistas defendem esta ideia, incluindo alguns premiados com o Nobel. A ver no que isto dá. Parece-me um bom princípio.

Notícia completa aqui




«Entretém-te meu anjinho, entretém-te, que eles são inteligentes, eles ajudam, eles emprestam, eles decidem por ti, decidem tudo por ti, se hás-de construir barcos para a Polónia ou cabeças de alfinete para a Suécia, se hás-de plantar tomate para o Canada ou eucaliptos para o Japão, descansa que eles tratam disso, se hás-de comer bacalhau só nos anos bissextos ou hás-de beber vinho sintético de Alguidares-de-Baixo! Descansa, não penses em mais nada, que até neste país de pelintras se acho normal haver mãos desempregadas e se acha inevitável haver terras por cultivar! Descontrai baby, come on descontrai, arrefinfa-lhe o Bruce Lee, arrefinfa-lhe a macrobiótica, o biorritmo, o euroscópio, dois ou três ofeneologistas, um gigante da ilha de Páscoa e uma Grace do Mónaco de vez em quando para dar as boas festas às criancinhas! Piramiza filho, piramiza, antes que os chatos fujam todos para o Egipto, que assim é que tu te fazes um homenzinho e até já pagas multa se não fores ao recenseamento. Pois pá, isto é um país de analfabetos, pá! Dá-lhe no Travolta, dá-lhe no disco-sound, dá-lhe no pop-xula, pop-xula pop-xula, iehh iehh, J. Pimenta forever! Quanto menos souberes a quantas andas melhor para ti, não te chega para o bife? Antes no talho do que na farmácia; não te chega para a farmácia? Antes na farmácia do que no tribunal; não te chega para o tribunal? Antes a multa do que a morte; não te chega para o cangalheiro? Antes para a cova do que para não sei quem que há-de vir, cabrões de vindouros, ah? Sempre a merda do futuro, a merda do futuro, e eu ah? Que é que eu ando aqui a fazer? Digam lá, e eu?

(...)

O FMI é uma finta vossa!»

José Mário Branco - FMI






Como vai ser possível sobreviver com o imperativo resultante da lei eleitoral, que proíbe qualquer forma de propaganda pública 60 dias antes das eleições?

À melhor resposta, ofereço um café











Hipócrita

Em casa, marido fiel; no quarto da amante, um devasso. Em público, funcionário honesto; às escondidas, um corrupto. Para sociedade, um homem direito; para si mesmo, o rei da malandragem.
A todos se mostrava afeito à verdade; a ninguém confessava suas mentiras.
Mentia principalmente para o filho.

---

Livro aberto. O menino estuda, enquanto o pai lê o jornal em sua poltrona. De repente, o filho dispara a pergunta:
– Pai, o que é hipocrisia?
O homem fecha o jornal. A resposta sai pronta:
– Hipocrisia, meu filho, é quando a pessoa finge ser algo que não é.
O menino continua:
– Conhece alguém assim, pai?
– Ô se conheço! Tem muita gente hipócrita por aí.
E pondera:
– Nem todos são como o seu pai... Verdadeiro.
O garoto coça a cabeça. A curiosidade insatisfeita:
– Pai, dá para saber quando uma pessoa é hipócrita?
– Dá, sim. Mas não é fácil. Eu mesmo demorei muito para aprender.
– Então me ensina, pai. Quero saber quem é hipócrita.
– No momento certo, filho. Ainda é cedo para você aprender essas coisas. Volte a estudar. E fique tranquilo. Quando você crescer, eu estarei aqui, pronto para lhe ensinar tudo o que aprendi.

Wilson Gorj




«Quem tem consciência do 
vazio nunca viverá nele.»

António Simão - actor

Fotografia de Jaeda De Walt







Agora que nos aproximamos das eleições e já estamos desde há muito em pré-camapanha eleitoral, seria bom revermos alguns dos conceitos que, por estarem de tal forma sedimentados na nossa cabeça, acabam por originar os tais preconceitos (ou seja, o conceito já é antes de o ser) que tantos criticam, incluindo eu próprio. Um deles, que sempre vem à baila nestas ocasiões, é o conceito do que é - ou não é - politicamente correcto. 

Nesta altura do campeonato fica sempre mal a quem se afirma desalinhado dos movimentos partidários que dominam quase por completo o panorama político crioulo dizer que não quer ser politicamente correcto. Mas o que raio significa isso? Em primeiro lugar, é não cair na tentação de ter medo ou receio de escrever ou falar o que se pensa só porque essa opinião ou tomada de posição possa desagradar a este ou aquele, ao poder ou à oposição, ao Zé Maria ou ao Carlos Veiga. 

Frontalidade, coragem e coerência. Para mim é quanto baste para não se cair na armadilha do politicamente correcto. Porque às vezes o que dá a impressão é que quem não gosta de escrever utilizando palavras/expressões como "(estou-me a) cagar", "merda", "filhos da puta", "cabrões", "chupistas", "punhetas", "ser (ou não ser) enrabado", "pró caralho", "badamerda", "prá puta que os pariu", "fodidos (e mal pagos)" e todos os outros vernáculos mais do que conhecidos, é logo tachado de politicamente correcto. Como se não não fosse possível colocar o dedo na ferida com um pouco de ironia, por exemplo. Com um poema. Com arte. E, claro, de vez em quando, dar um grito e entrar na onda do politicamente incorrecto de forma politicamente correcta (ou seja, utilizando, pelo menos três ou quatro palavrões.)

Por exemplo, a bela imagem que encontrei na Internet e que ilustra este texto mostra dois tipos nus, dois rabos, duas polpas, duas bundas, e é plena de beleza e poesia, não é? O que quer dizer que há sempre formas mais interessantes de mandar um tipo pastar, se for caso disso, sem ter que mostrar que se consegue gritar mais do que todos os outros. Seja como for, e tendo em conta as expressões utilizadas neste texto, o número de visitas ao Café Margoso originário das pesquisas do Google, vai subir potencialmente durante os próximos dias. Portanto, viva o politicamente incorrecto!






«Imagine desprender-se da conjunctura actual que lhe exige dureza, máscaras, agressividade... e admita que gosta das coisas leves, por isso se emociona com uma música, um poema, o voo de uma borboleta, uma criança e a sua inocência, as estrelas, o mar, o céu... admita que é mais fácil ter coragem de ser leve. Não implica se tornar hippie, freira ou monge tibetano... é simplesmente admitir que é leve e vivê-lo no seu dia-a-dia. Ouse.»


Lúcia Cardoso - Sunhador (aqui)






Viagens interiores

1. O mundo ficou mais pequeno mas nem por isso mais fascinante. Continua a ser impressionante que haja habitantes da cidade do Mindelo, por exemplo, que em décadas nunca tenham, sequer, atravessado o mar de canal para uma curta visita à ilha vizinha de Santo Antão, até porque quando se passa das paisagens castanhas, secas e lunares de S. Vicente para o mundo verdejante e arrebatador das montanhas de S. Antão, é como se tivéssemos passado de um pais para o outro, de um mundo para o outro. E a história repete-se sempre se a comparação for feita entre outras ilhas vizinhas. Cabo Verde tem a enorme vantagem competitiva de ser um pais com, pelo menos, nove países dentro dele.

2. Tudo isto para vos falar o quanto penso ser importante nos darmos essa possibilidade de viajar, sair das nossas quatro paredes habituais, das rotinas diárias que nos consomem e adormecem, nas mais variadas formas. Podemos viajar para fora, claro, mas com a crise há sempre muito boa gente que só de colocar essa hipótese fica com a conta bancária a tremer. Mas há o tão célebre viajar para fora cá dentro, não só entre as diversas ilhas do arquipélago cabo-verdiano, mas também dentro da própria ilha, cada uma delas sempre com lugares fantásticos por descobrir. Há mundos incríveis aí mesmo à mão de semear, sabiam? Ambientes fantásticos e poderosos à distância de uma passeata de trinta minutos ou mais. Há sim, acreditem, universos novos por descobrir mesmo aqui ao lado.

3. Sempre tive este gosto pela aventura, e não havendo hipóteses de viajar, a gente inventava. Assim fui e conheci, várias vezes, ainda criança, diversos planetas, em naves espaciais instaladas debaixo da cama. A minha mãe sempre entendeu isso e me deixava voar, uma das muitas razões porque sempre a considerarei um exemplo de educadora, com um apurado sentido pedagógico, muito à frente do seu tempo. Por vezes, com estranhas consequências. Por exemplo, em plena cidade do Porto, invadia, com um grupo restrito, quem sabe se inspirado pelas aventuras dos cinco de Enid Blyton – que naquela época se devorava como primeiras leituras – casas e jardins abandonados, explorando tudo o que para nós era digno explorar.

4. Nas casas mais antigas, invadíamos caves e subsolos à procura de tesouros improváveis, sótãos poeirentos em busca de algum objecto mágico, quintais mal amanhados que se transformavam automaticamente em densas florestas com as mais temíveis criaturas, buracos e fendas que eram transfiguradas em grutas com esqueletos de gatos, galinheiros fedorentos adoptados em centrais secretas de comunicação, árvores e ramos usados como locais privilegiados de observação de movimentações inimigas e, claro, os telhados das casas contíguas, que eram as nossas estradas predilectas, porque plenas de perigos, bandidos, assaltos, estranhas actividades, umas reais, outras saídas das nossas cabeças plenas de fantasia (a maioria, claro).

5. Um episódio ficou célebre na família, quando algum vizinho mais ou menos afastado, entretido num prédio longínquo com uns binóculos de grande precisão, se apercebeu de uma estranha circulação nos telhados, cinco indivíduos, não se poderia dizer se de alta ou baixa estatura, se machos se fêmeas, se muito ou pouco armados, se haveria ou não alguns outros em zonas fora da visibilidade daquele cicerone improvável, mas somados os prós e os contras, os possíveis e os inverosímeis, seguindo o ditado popular que nos faz ser como S. Tomé e crer naquilo que a nossa vista pensa estar a observar em determinado momento, a conclusão só podia ser uma: estava a decorrer, naquele pacato bairro, naquele preciso instante, um assalto às residências daquele quarteirão.

6. Só assim se explicaria que, estando nós, cinco ou seis crianças ainda em plena puberdade, entretidos com as nossas mais que inocentes brincadeiras, entre quintais nossos e telhados vizinhos, tivesse aparecido, num repente e tal qual filme de acção tipo Rambo, um número indeterminado de policias de intervenção armados até aos dentes, surgidos por artes de mágica dos quatro cantos norte sul este oeste, aparecimento esse acompanhado de um sonoro e implacável “mãos ao ar!”. Sorte nossa que a madrinha estava por ali a tratar das galinhas e jurou de pés juntos ao comandante da operação que aqueles meninos eram todos de boas famílias e em troca de uma promessa de entrega de relatório o mais completo possível aos respectivos encarregados de educação a partir do qual surgiriam as inevitáveis e merecidas punições, lá se deu o episódio por encerrado, o que não impediu que este acontecido passasse a fazer parte da galeria dos acontecimentos mais inusitados da família.

7. Viajar, pois. Imaginem o que crianças com a imaginação no auge da sua potencialidade não poderia fazer com os cantos e recantos das nossas ilhas, com as montanhas, os vulcões, os areais, as dunas, os pequenos oásis, os caminhos de cabra, os faróis abandonados, as carcaças de navios à beira-mar, os cutelos, as cascatas, as grutas, as estradas secundárias, terciárias ou esquecidas, as praias desertas, as plantações de bananas, os resort’s ainda em construção, as ruínas de edifícios podres, com ou sem importância patrimonial, as casas de tambor, as avenidas alcatroadas sem uso, os armazéns abandonados, os quintais discretos, os terraços das cidades, os tanques de água secos, os cantos e recantos das ilhas maravilhosas. O que não faltam são alternativas para dar asas e sair por aí sem norte.

8. Portanto, por muito que a vida esteja difícil para todos, há sempre formas de viajar e dessa forma dar uma sapatada num quotidiano adormecido pela repetição de gestos, horários e compromissos de trabalho ou familiares. Infelizmente, neste momento sem cinema, foi retirado aos cabo-verdianos essa possibilidade de viajar através das aventuras das maiores estrelas de cinema e nunca é demais lembrar como o funcionamento do cine-teatro Éden Park, como tem sido escrito e referenciado até à exaustão, promoveu não só a formação pessoal e social de várias gerações, como foi válvula de escape e motor de um veículo imparável que nos permitia viajar, voar, explorar novos mundos dantes nunca vistos por qualquer alma viva ou morta.

9. Também por isso nunca me esqueço das primeiras semanas que passei no Mindelo, onde tive um dos maiores apaixonados pelos cantos e recantos da ilha de S. Vicente, o músico Vasco Martins. Com ele, ou por causa dele, era praticamente arrastado para grandes passeios por entre montanhas e caminhos quase secretos, descobri lugares onde se vê a ilha de ponta a ponta, praias secretas de difícil acesso, num encontro inesquecível com a alma da ilha, com a alma que também me fugia sabe-se lá para onde. Deixar de ter essa capacidade para viajar, dentro do nosso país, da nossa ilha ou dentro de nós mesmos é também uma forma de matar por dentro aquilo que faz do ser humano um milagre da natureza. Hoje, mais do que nunca, é fundamental olhar em volta, voar e relembrar da nossa pequenez.


Crónica publicada no jornal A Nação, de 21/11/2010




Café dedicado às falas mais marcantes da história do cinema. Comentários sobre memórias do filme, onde foi visto, com quem e o que este trouxe às vossas vidas. Quem aceita o desafio?




"I see dead people."


[Fala do filme Sexto Sentido, dita pela personagem do jovem rapaz, interpretada de forma sublime por Haley Joel Osment]







Recebi este comentário a propósito dos nossos estudantes universitários (e do ensino técnico) na diáspora:

«A situação dos bolseiros é preocupante sim, não só os bolseiros mas de todos os estudantes que estão fora do país. Sabes o que é mais preocupante do que isso? É ter testemunhos de muitos estudantes que estão doentes de alma. Muitos deles, por mil e um motivos, estão depressivos, solitários, angustiados e sem esperança. A depressão vem sendo uma realidade cruel na vida de muitos dos nossos estudantes por esse mundo fora.

Que fazer, que dizer perante isso: “…mi é um lixo, n ka ta sirvi pa nada, n kre morri…vida ka tem graça…n ka sta ta bem konsigi fazi isso… n teni fomi” – quem consegue ter sucesso escolar com esse pensamento. Quero que escreva sobre isso. Quero que alertas o nosso povo que alguns dos seus estudantes estão depressivos e que assim eles não vão ter sucesso escolar e até podemos perder alguns para a droga ou para a morte.

Investiga e vais ver que isso é uma realidade.

Alerta vermelho,
Já tenho medo de ouvir “n tenta mata nha cabeça”»

Merece reflexão, não acham?



Café dedicado às falas mais marcantes da história do cinema. Comentários sobre memórias do filme, onde foi visto, com quem e o que este trouxe às vossas vidas. Quem aceita o desafio?



"Louie, I think this is the beginning 
of a beautiful friendship."


[Última fala do filme Casablanca, dita pela personagem interpretada por Bogart]






Viagens

Quando criança queria ser ASTRONAUTA.

Chegando à adolescência, conheceu uma companhia de teatro, por meio da qual sonhava se consagrar ASTRO de cinema.

Abandonou o palco. Quisera BRILHAR, mas só lhe davam papeis apagados.

Na música haveria de ter mais êxito. Tantos alcançavam um sucesso METEÓRICO, por que não ele?
Por muitos anos investiu no sonho de se transformar em ESTRELA do rock.

Infelizmente, a carreira de pop STAR não DECOLOU.

Cansado de viver no mundo da LUA, resolveu firmar os pés no chão e tirar sua vida do BURACO NEGRO em que se metera.

Fase NEBULOSA. Encarou cada trabalho, cada RABO-DE-FOGUETE.

Ao fim das contas, estabilizou-se em um emprego decente.

Nada de EXORBITANTE. Hoje é motorista da viação COMETA.

gORj (aqui)






No Mindelo, na bela galeria Zero Point Art, sexta-feira, dia 12, abertura às 21h. Passem a palavra por favor. Vale a pena ver este trabalho do César Schofield Cardoso.


Concepção e Realização: César Schofield Cardoso
Direcção Artística: César Schofield Cardoso
Co-Criação: César Schofield Cardoso, Lúcia Cardoso, Ndú, Nuno Barreto, Djinho Barbosa,

Produção: Fundação Amílcar Cabral
Produção Executiva: Samira Pereira
Secretária de Produção: Leonor Rodrigues

Acolhimento e Apoio: Palácio da Cultura Ildo Lobo

Agradecimentos: João Paradela, Padre Campos, Sylvie Guellé, Dudu (Djuntarti), Associação Movimento Hip-Hop e aos grupos: B.Boss, Black Side, Central Side, Karaka, Kingston, Nito.G, Nunous, Shade.B, Va.Boss


Para mais informações, consultar aqui






O nível dos debates que vimos assistindo nos fóruns online sobre a actualidade cabo-verdiana demonstram o quê, para sermos bem precisos?

À melhor resposta, ofereço um café













«Não somos um movimento político e não estamos ligados a qualquer partido. Somos apenas um movimento cívico que busca despertar a população de São Vicente para a luta pelo bem estar da sua ilha»

Milanka Vera-Cruz, Movimento Cordá Monte Cara (fonte: aqui)



Comentário Cafeano: já manifestei o meu apoio público ao movimento na última Crónica Desaforada mas considero um erro fugir da palavra "político" embora se perceba porque é que isso acontece, numa sociedade totalmente partidarizada. Não confundir político com partidário. Como afirmou um comentador no fórum d'A Semana, todo o acto do homem é politico. Todo movimento social é politico. Está cheio de razão.





Tenho achado uma piada tremenda ao cliente que por aqui anda com as suas frases cinematográficas. Começou com o Clark Gable e o famoso "Frankly, my dear, I don't give a damn", uma espécie de "estou-me a cagar" aristocrático, com um pouco de mais classe, que vem repetindo até à exaustão. A frase é retirada do filme E Tudo o Vento Levou, onde o personagem interpretado pelo galã dá uma vassourada tremenda à pobre Scarlett que, perdida de amores, se humilha praticamente se ajoelhando aos pés do seu adorado, perguntando desesperada "if you go, where shall I go, what shall I do?" Bem, como acontece na maioria das vezes em que as mulheres acham por bem se humilhar desta forma, acabou ouvindo o que não queria.

Agora mesmo, arranjou outra, também bem clássica, a do Robert de Niro, no filme Taxi Driver, que no auge da sua loucura revoltada, treina o uso de uma arma em frente ao espelho, falando consigo próprio, numa deliciosa sequência que já me inspirou uma cena na peça O Doido e a Morte, protagonizada pelo Luis Morais: "You talkin' to me? You talkin' to me? You talkin' to me? Then who the hell else are you talkin' to? You talkin' to me? Well I'm the only one here. Who the fuck do you think you're talking to?" Neste caso, o que o cliente deverá querer dizer, de forma criativa, é quem é que eu me julgo para estar a dirigir-lhe a palavra, que o melhor seria ficar no meu canto se não quero levar com um tiro na testa. Mesmo que seja um tiro metafórico.

Devo dizer que, como cinéfilo que sou, estou a adorar a brincadeira. Não sei quem é, mas desconfio. Aliás, tenho quase a certeza quem é o artista. Sugiro-lhe que continue, sempre anima aqui o estabelecimento. Há muitas frases fantásticas na história do cinema prontas para usar, ditas em cenas marcantes por personagens não menos famosos. Como aquela do Marlon Brando n'O Padrinho, quando afirma: "I'm going to make him an offer he can't refuse." Portanto, estejam à vontade. Na falta de cinema no Mindelo, sempre nos vamos entretendo. E pelo menos ninguém se arrisca a acordar com a cabeça de um cavalo empapada em sangue em cima da própria cama.






«Os muitos darks que me perdoem, mas Maria Bethânia é fundamental. Sei, vocês vão dizer que ela é brega, careta, exagerada, melodramática. Pode ser. Mas essa coisa chamada vida onde estamos metidos até o pescoço, às vezes não é brega, careta, melodramática? A Vida é mais Nelson Rodrigues ou mais Clarice Lispector? Mais Augusto dos Anjos ou Emily Dickinson? Fassbinder ou Jacques Demy? Philip Glass ou Dead Kennedys? Mais Sex Pistols ou mais Cecília Meireles? Bukowski ou Bergman?

Tudo isso, sim, e muito mais.»


Cao Fernando Abreu





[Monólogo de Orpheu, de Vinicius de Moraes dito por Bethânia]






Venham mais cinco!









Esta grafia, Xico Buark, foi inventada por Millôr Fernandes, numa noite no Antônio’s. Gostei como quando brincava com palavras de crianças. Quanto ao Chico, apenas sorriu um sorriso duplo: um por achar engraçado, outro mecânico e tristonho de quem foi aniquilado pela fama. Se Xico Buark não combina com a figura pura e um pouco melancólica de Chico, combina com a qualidade que ele tem de deixar os outros o chamarem e lê vir, com a capacidade que tem de sorrir conservando muitas vezes os olhos verdes abertos e sem riso.

Ele não é de modo algum um garoto, mas se existisse no reino animal um bicho pensativo e belo e sempre jovem que se chamasse Garoto, Francisco Buarque de Holanda seria da raça montanhesa dos garotos.

Marcamos encontro às quatro horas porque às cinco Chico tinha uma lição de música com Vilma Graça. Há um ano está estudando teoria musical e agora começará com o piano. Estávamos os dois na minha casa e a conversa transcorreu sem desentendimentos, com uma paz de quem enfim volta da rua.

Clarice Lispector: Você viveu ainda tão pouco que talvez seja prematuro perguntar-lhe se você teve algum momento decisivo na vida e qual foi?

Chico Buarque de Hollanda: Eu sou ruim para responder. Na verdade tive muitos momentos decisivos, mas creio que ainda sou moço demais para saber se eram de fato decisivos esses momentos. No final de contas não sei se eles contaram ou não.

CL: Tenho a impressão que você nasceu com a estrela na testa: tudo lhe correu fácil e natural como um riacho de roça. Estou certa se para você não é muito laborioso criar?

CBH: E não é. Porque às vezes estou procurando criar alguma coisa e durmo pensando nisso, acordo pensando nisso – e nada. Em geral eu canso e desisto. No outro dia a coisa estoura e qualquer pessoa pensaria que era gratuita, nascida naquele momento. Mas essa explosão vem do trabalho anterior inconsciente e aparentemente negativo. E como é seu trabalho?

CL: Vem às vezes em nebulosa sem que eu possa caracterizá-lo de algum modo. Também como você, passo dias ou até anos, meu Deus, esperando. E, quando chega, já vem em forma de inspiração. Eu só trabalho em forma de inspiração.

CBH: Até aí eu entendo, Clarice. Mas a mim, quando a música ou a letra vem, parece muito mais fácil de concretizar porque é uma coisa pequena. Tenho impressão de que se me desse idéia de construir uma sinfonia ou um romance, a coisa ia se despedaçar antes de estar completa.

CL: Mas Chico, aí é que entra o sofrimento do artista: despedaça-se tudo e a gente pensa que a inspiração que passou nunca mais há de vir.

CBH: Se você tem uma idéia para um romance, você sempre pode reduzi-lo a um conto?

CL: Não é bem assim, mas, se eu falar mais, a entrevistada fica sendo eu. Você, apesar de rapaz que veio de uma grande cidade e de uma família erudita, dá a impressão que se deslumbrou, deslumbrando os outros com sua fala particular. O que quero dizer é que você, ao ter crescido e adquirido maior maturidade, deslumbrou-se com as próprias capacidades, entrou numa roda-viva e ainda não pôs os pés no chão. Que é que você acha: já se habituou ao sucesso.

CBH: Tenho cara de bobo porque minhas reações são muito lentas, mas sou um vivo. Só que por os pés no chão no sentido prático me atrapalha um pouco. Tenho, por exemplo, uma pessoa que me explica um contrato e não consigo prestar atenção em certas coisas. O sucesso faz parte dessas coisas exteriores que não contribuem nada para mim. A gente tem a vaidade da gente, a gente se alegra, mas isso não é importante. Importante é aquele sofrimento com que a gente procura buscar e achar. Hoje, por exemplo, acordei com um sentimento de vazio danado porque ontem terminei um trabalho.

CL: Eu também me sinto perdida depois que acabo um trabalho mais sério.

CBH: Tenho uma inveja: meu trabalho de música está exposto a um consumo rápido e eu praticamente não tenho o direito de ficar pensando numa idéia muito tempo.

CL: Talvez você ainda mude. Como é que Villa-Lobos criava? Seria interessante para você saber.

CBH: Sei alguma coisa. Por exemplo, uma frase dele que Tom Jobim me contou: diz que Villa-Lobos estava um dia trabalhando na casa dele e havia uma balbúrdia danada em volta. Então o tom perguntou: como é, maestro, isso não atrapalha? Ele respondeu: o ouvido de fora não tem nada a ver com o ouvido de dentro. É isso que invejo nele. Gostaria muito de não ter prazo para entrega das músicas, e não fazer sucesso: você gostaria, por exemplo, de sair para a rua e começar a dar autógrafo no meio da rua mesmo?

CL: Detestaria, Chico. Eu não tenho, nem de longe, o sucesso que você tem, mas mesmo o pequeno que eu tenho às vezes me perturba o ouvido interno.

CBH: Então estamos quites

CL: Todas as mães com filhas em idade de casar consentiriam que casassem com você. De onde vem esse ar de bom rapaz? Acho, pessoalmente, que vem da bondade misturada com bom-humor, melancolia e honestidade. Você também tem o ar de quem é facilmente enganado: é verdade que você é crédulo, ou está de olhos abertos para os charlatões?

CBH: Não é que eu seja crédulo, sou é muito preguiçoso.

CL: O que é que você sentiu quando o maestro Karabtchevsky dirigiu “A Banda” no Teatro Municipal?

CBH: Claro que gostei, mas o que me interessa mesmo é criar. A intenção de Karabtchevsky foi das melhores, inclusive corajosa. Eu quero ver ainda a coisa se repetir com outros compositores populares.


CL: Você foi precoce em outras manifestações da vida? Fale sem modéstia.

CBH: Não, tudo que fiz como garoto é de algum modo ligado com o que eu faço hoje, isto é, versinhos.

CL: Você quer fazer um versinho agora mesmo? Para você não se sentir vigiado, esperarei na copa até você me chamar.

Chico riu, eu saí, esperei uns minutos até ele me chamar e ambos lemos sorrindo:

Como Clarice pedisse
Um versinho que eu não disse
Me dei mal
Ficou lá dentro esperando
Mas deixou seu olho olhando
Com cara de Juízo Final.

CL: A banda lembra música de nossos avós cantarem: tem um ar saudoso e gostoso de se abrir um livro grosso e encontrar dentro uma flor seca guardada exatamente para durar. De onde você tirou essa modinha tão brasileira? Qual a fonte de inspiração?

CBH: Não sei não, é uma coisa difícil de conscientizar. Lembro da banda mesmo não tendo vivido no interior, mas atrás da minha casa tinha um terreno baldio onde às vezes havia circo, parque de diversões, essas coisas.

CL: Vi você na primeira passeata pela liberdade dos estudantes. Que é que você pensa dos estudantes do mundo e do Brasil em particular?

CBH: No mundo é para mim difícil falar, mas aqui no Brasil eu sinto em todos os setores um apodrecimento e a impossibilidade de substituição senão por mentalidade completamente jovens e ainda inatingidas por essa podridão. Aqui no Brasil só vejo esta liderança. Um rapaz do “New York Times” entrevistou-me e perguntou: está bem, vocês não querem censura nem repressão nem os métodos arcaicos de educação: mas se vocês ganharem, quem vai substituir as autoridades? Por incrível que pareça, o mundo político está envolvido por essa decadência e acomodação. E você? Eu também te vi na passeata.

CL: Fui pelos mesmos motivos que você. Mudando de assunto, Chico, você já experimentou sentir-se em solidão? Ou sua vida tem sido sempre esse brilho tão justificado? Chico, um conselho para você: fique de vez em quando sozinho, senão você será submergido. Até o amor excessivo dos outros pode submergir uma pessoa.

CBH: Também acho e sempre que posso faço a minha retirada.

CL: Na música chamada clássica, apesar dela englobar compositores aos quais o classicismo não poderia ser aplicado, nessa música o que você prefere?

CBH: Aí não é questão de preferência, é costume para mim. Tenho sempre à mão um Beethoven.

CL: Sua família preferia que você seguisse a vocação de outros talentos seus que em aparência, pelo menos, são mais asseguradores de um futuro estável?

CBH: No começo sim. Logo que entrei para a arquitetura, quando comecei a trocar a régua “T” pelo violão, a coisa parecia vagabundagem. Agora (sorri) acho que já se conformaram.

CL: Você está compondo agora alguma coisa e com letra sua mesma? Sua letra é linda.

CBH: Estou na fase de procura. Ontem acabei um trabalho que era só de música, que exigia prazo. Para uma canção nova, eu estou sempre disponível.

CL: No domínio da música popular, quem seria por sua vez o seu ídolo?

CBH: Muitos, e é por isso que é difícil citar.

CL: Seu pai é um grande pai. Quem mais na sua família eu chamaria de grande, se conhecesse?

CBH: Minha mãe, apesar de ter um metro e cinqüenta e poucos de altura. Eu li muito e papai sempre me estimulava nesse sentido.

CL: Qual é a coisa mais importante do mundo?

CBH: Trabalho e amor.

CL: Qual é a coisa mais importante para você, como indivíduo?

CBH: A liberdade para trabalhar e amar.

CL: O que é o amor?

CBH: Não sei definir, e você?

CL: Nem eu.

Clarice Lispector. Entrevistas. Rio de Janeiro: Rocco, 2007, pp.99-104.





"Ser feliz é uma responsabilidade muito grande. Pouca gente tem coragem. Tenho coragem mas com um pouco de medo. Pessoa feliz é quem aceitou a morte. Tenho medo de estar viva porque quem tem vida um dia morre. Mas é capaz de eu nunca morrer. É capaz de eu ser eterna e tu também, meu amor."

Clarice Lispector in "Um Sopro de Vida"


Imagem: fotografia de Gregory Colbert




Produção nacional. Ousada. Atrevida? A ver, sem pre-conceitos. É já amanhã, na Academia Jotamonte. A menina dos olhos grandes é a Laura. Orgulho de pai, de coração grande, claro.







"A política não é a arte do possível. Consiste em escolher entre o desastroso e o intragável."

John Kenneth Galbraith - economista






Cordá Monte Cara

1. Que andam a brincar com S. Vicente não é de hoje. Os deputados eleitos por este círculo eleitoral, de um e do outro lado, nunca se vêem, não se lhes conhece uma única iniciativa que tenha tido um pingo de repercussão na melhoria das condições de vida desta população. O famoso partido charneira aproveita-se desta ilha ser a única com capacidade de atenuar a doença crónica do bipartidarimo que este país sofre, para convencer os mais coitados de que eles, sim, são os verdadeiros defensores dos interesses de S. Vicente, quando até agora o que se viu foi um mal amanhado conjunto de lugares comuns atirados para a comunicação social, que não são carne nem são peixe, não tomam partido, não dão o murro na mesa que se impõe.

2. Concorre-se, muitas vezes com a mesma cara, à Assembleia Nacional, ao Governo, à Câmara Municipal, à Presidência da República, consegue-se um tacho aqui e outro ali, mas ainda ninguém nos conseguiu mostrar como é possível estar-se em dois lugares ao mesmo tempo, como se podem defender os interesses desta ilha e deste povo quando a sensação que nos dá é que cada um está mas é a tratar da sua vidinha, que isto não está fácil para ninguém, há que aproveitar enquanto se consegue enganar os filhos de cada um e os netos de cada qual.

3. Na Câmara Municipal, a situação não é melhor. A vergonhosa trapalhada da venda de terrenos, o aproveitamento político que esta situação tem originado, o vazio de poder, a bandalheira que grassa por aquelas bandas, só nos permite temer o pior. O Governo, por outro lado, também não entendeu ainda do que S. Vicente precisa e reclama. Só para dar um exemplo que me toca particularmente, considero que anunciar um Palácio da Cultura novo com o cine-teatro Éden Park, o maior símbolo patrimonial da história desta ilha, a apodrecer aos olhos de todos na principal praça da cidade, só pode ser uma piada de mau gosto.

4. Ou seja, como diria o povo, estamos entregues à bicharada. Ou para ser ainda mais directo, estamos fodidos e mal pagos.  Portanto, quando vejo um movimento cívico a surgir para dar um grito contra este estado lastimável de coisas só podia me manifestar a favor. Porque nesta história ninguém é inocente, ninguém. Nem os ministros amarelos, nem os vereadores verdes, nem os ditos defensores dos pobres que nunca defendem coisa nenhuma a não ser os seus próprios interesses pessoais, muito menos a própria população que parece querer acordar só quando há festa da boa. Acorda Monte Cara sim. Já é tempo de darmos o nosso grito e não é de hoje.

5, A primeira ideia é organizar «uma manifestação para acordar São Vicente contra o abandono do Governo e traição por parte da Câmara Municipal de São Vicente». Mas uma manifestação que fique na história desta ilha. Uma coisa em grande. Porque é triste se pensarmos que a maior manifestação a que tivemos oportunidade de assistir durante os últimos 15 anos foi aquela motivada pela proibição da emissão da televisão do Pulu, porque por causa dessa proibição esse mesmo povo deixou de poder ver novelas, filmes e futebol. E de vez em quando uma reportagem sobre baleias a morrer na praia da Lajinha. Portanto, urge, e já de faz tarde, uma profunda mudança de mentalidades.  Porque estamos a ser comidos à grande e à francesa e ainda fazemos a festa com isso. Não pode ser.

6. Nascido na rede social Facebook, o movimento cívico Cordá Monte Cara anuncia: “decidiu-se que vamos à luta com força e contamos com o apoio positivo de todos os que amam São Vicente, vamos à luta em forma de protesto sim, mas sobretudo vamos à luta em forma de contribuição positiva, apresentar soluções, fazer valer a nossa presença como povo desta ilha!” A opção por uma manifestação de rua é explicada da seguinte forma: “decidimos que iremos começar a nossa caminhada convocando uma manifestação de rua, uma manifestação essa que contamos com o apoio de todos, vamos ter de sair do espaço cibernético e materializar o nosso protesto, e ir levando as nossas preocupações a todos quantos nos puderem ouvir.”

7.Apoio incondicionalmente este movimento e as pessoas que o promovem. É uma vergonha o que se passa na nossa ilha, na nossa cidade. Não podemos pensar que somos um povo que apenas sabe festejar. Não podemos pensar que só conseguimos sair à rua no Carnaval ou na passagem do ano aos gritos que somos uma ilha sabe pa cagá. É preciso mais, muito mais. E eu iria mais longe: que este movimento seja transformado num partido e concorra às próximas eleições, que consiga colocar pelo menos um deputado na Assembleia Nacional que faça ouvir a sua voz e que seja uma pedrada no charco neste imenso lodo em que se transformou a política na ilha do Porto Grande. 

8. A próxima reunião é já amanhã, no dia 03 de Novembro, na sede da ADECO. Acordem! Participem, não se deixem ficar. Mostrem que ainda podemos ter alguma palavra a dizer. Para aderir ao movimento via Facebook, é só vir aqui. Acabar com a inércia, apresentar soluções. Está bom de comer e calar. Eu já aderi, e vocês?





«Ã‰ forte: enfrentou tortura e um cancro. Tem fama de intelectual: Zola, Proust, Sófocles. Como guerrilheira, foi política: nunca disparou um tiro a sério. Como política, foi técnica. Isto chega para governar o Brasil?»

O perfil completo da primeira mulher Presidente do Brasil, aqui.





Os Amantes de Novembro

Ruas e ruas dos amantes
Sem um quarto para o amor
Amantes são sempre extravagantes
E ao frio também faz calor

Pobres amantes escorraçados
Dum tempo sem amor nenhum
Coitados tão engalfinhados
Que sendo dois parecem um

De pé imóveis transportados
Como uma estátua erguida num
Jardim votado ao abandono
De amor juncado e de outono.


Alexandre O'Neill 






[Estava a ver que nunca mais chegava, o mês de Novembro!]






Já o disse várias vezes e muitos sabem do que falo: quem utiliza o termo "palhaço" para insultar alguém não tem consciência de quão nobre é a arte do palhaço, diria mesmo que é uma das actividades mais humanas e ricas que uma pessoa pode experimentar, descobrir o palhaço que há em si. O meu grande amigo Enano, que tem vindo para nos alegrar todos os anos durante o Mindelact, é a prova provada e viva disso mesmo. Por isso, se alguém nos chama de "palhaço" pensando que nos está a ofender muito, está apenas a demonstrar a sua própria ignorância.

Foi o que aconteceu recentemente com Luis Filipe Scolari, personagem por quem sinto profunda antipatia, desde os tempos em que este foi seleccionador de Portugal, tendo conseguido sair do país como um herói apesar da fantástica proeza de ter perdido uma final de um campeonato da Europa a jogar em casa contra essa super poderosa potência do futebol mundial chamada Grécia, com quem já havia perdido o jogo de abertura desse mesmo campeonato.

Pois bem, o sargento Filipão já tem mais uma história para contar aos netos: dois dias depois de ter chamado os jornalistas de "palhaços", por estes estarem a fazer o seu trabalho normalmente, foi confrontado, no jogo seguinte, com uma inusitada manifestação de protesto: todos os repórteres e jornalistas presentes apareceram na conferência depois do jogo usando narizes vermelhos e um aberto sorriso, como qualquer palhaço que se preze. Claro que o treinador olhou e não encarou o protesto na desportiva. Saiu, porta fora, sem prestar qualquer declaração.

O que me chamou atenção aqui, mais do que a má-criação habitual do actual treinador do Palmeiras foi a forma rápida, unida e criativa como os jornalistas resolveram protestar da situação criada. Um belo exemplo para a classe, este episódio, não acham?


Maravilhosa esta exposição de Patrícia Poção sobre Cabo Verde, que já esteve na cidade do Mindelo. Alma di Terra, pode ser vista em Lisboa,que pode ser apreciada na Galeria 100 Remédio em Alfama, até ao final de Novembro.

Inspirado por estas belas imagens, José Luís Peixoto escreveu: «Nascemos de um vulcão e caminhamos pela nossa ilha durante todo o tempo que nos é permitido. Nessa estrada que atravessa a nossa ilha, o mundo inteiro, existe o branco, branco do vestido de uma menina e existe aquilo que não conhecemos completamente e que está coberto pelas somnras. Temos as nossas mãos, marcadas por tudo o que seguramos e que, por momentos, nos pertenceu. Temos os nossos pés, descalços, marcados pelo caminho que, tantas vezes, nos parece longo e que, tantas vezes, nos parece breve. E temos o pilão constante, todos os dias, a transformar o milho em farinha, a transformar a vida em vida, temos sobreviver.*








Ver mais, aqui