29/02/08
Café Concerto
A não perder!
«Vasco Martins - Concerto Piano Solo»
Vamos ver, ouvir & comentar!
Horário: a partir das 21:30 horas
Local: Auditório do Centro Cultural do Mindelo
Entrada Livre
28/02/08
Heróis Nacionais 11

Café Comemorativo

A FNAC comemorou 10 anos de lojas abertas em Portugal. 10 anos que revolucionaram os hábitos culturais dos portugueses tradicionalmente pouco dados ao consumo cultural. Apesar disso, e paradoxalmente, a Fnac em Portugal regista records europeus de vendas e de receitas. O conceito de loja Fnac, em que o cliente pode usufruir de alguns produtos sem o comprar (como o livro) e circular as horas que quiser pelo espaço), assentou arraiais em Portugal e em muitos países da Europa.
Essa foi uma das razões porque festejei o acordo de Parceria Especial entre Cabo Verde e a União Europeia. Quem sabe, os senhores que mandam na FNAC não se lembram de nós, da pobreza que é a nossa oferta cultural a todos os níveis, e montam uma lojinha, uma FNACzinha, como quem não quer a coisa. Não há mercado? Aposto que há, até porque sempre que vou à FNAC por lá, o que mais vejo é pessoal de cá, todos contentes, a comprar (ou a ler, ou a ouvir) discos, livros, material informático.
Se depender da FNAC, escolho a inveja como pecado capital do dia, porque eu queria estar a passear numa daqueles templos. Seja como for, parabéns.
Imagem: fabulosa campanha publicitária da FNAC espanhola, intitulada «Vinil never dies»
Declaração Cafeana

Hoje, depois de seguir mais atentamente do que é habitual o que se passa nas campanhas eleitorais primárias dos Estados Unidos da América, quero marcar posição. Uma posição política. Escolho e partilho.
Aqui, quero dizer, alto e bom som, que quase chegados ao final do mandato daquele que terá sido o pior presidente americano de toda a história daquele país, entre Hillary Clinton e Barack Obama, a minha escolha vai para o segundo. Ontem, ao ver no noticiário imagens de um debate entre os dois, facilmente constatei que a senhora não sabe perder e quando perde, perde as estribeiras com demasiada facilidade. Muito perigoso para um país tão poderoso como os EUA:
Eu escolho Barack Hussein Obama. Pessoalmente: "Change we can believe in!".
Como escreveu o humorista Ricardo Araújo Pereira: "Depois de tudo o que aconteceu, não deixa de ser extraordinário que um povo tenha a coragem de pôr um avião daquele tamanho [nota: o autor refere-se ao Air Force One] à disposição de um homem chamado Hussein."
27/02/08
Sondagem 05

Digam lá, qual é o pecado capital mais apetecível?
2. Preguiça
3. Ira
5. Inveja
Sondagem 04 Resultados
Eis os resultados da quarta sondagem do Café Margoso
Pergunta: De quem é a culpa quando algo corre mal?
Número total de votantes: 45
Resultados:
Parceira(o) - 0 (0%)
Patrão - 2 (4%)
Computador - 1 (2%)
Governo - 8 (17%)
Comunistas - 1 (2%)
Aquecimento Global - 3 (6%)
Tecnologia em Geral - 2 (4%)
Presidente Bush - 17 (37%)
Deus - 11 (24%)
1. Nenhum dos visitantes, supõe-se que maioritariamente cabo-verdianos, põe a culpa das suas desgraças no parceiro(a). Ou o pessoal não percebeu o signifcado da palavra «parceiro(a)», ou anda por aí a acontecer uma revolução social e eu ainda não me tinha dado conta! Sinceramente, quando fiz esta sondagem esta era a hipóetese favorita a ganhar, com grande margem. Depois não se venham queixar delas(es)!
2. Também se constata que o clima laboral em Cabo Verde está semelhante ao clima metereológico. Muito Sol todo o ano, uma ou outra ventania de vez em quando. Os nossos patrões andam mesmo bonzinhos com o pessoal.
3. A pouca culpabilidade dos computadores ou da tecnologia, em geral, também soa a falso. Bem, sempre temos a CV Telecom para culpar, não é?
4. O governo sai-se muito bem nesta contenda. A meio do mandato esta sondagem indica que os nossos problemas andam aí, mas o nosso José Maria não tem nada a ver com isso.
5. As culpas são pois divididas em grande parte pelo Presidente Bush e por Deus. Tendo em conta que o primeiro, graças ao segundo (graças a Deus!) vai entrar para a reforma, das duas uma, ou entra um Presidente ainda pior (o que está cientificamente comprovado ser impossível) ou Deus está em muitos maus lençóis nos próximos tempos.
A pergunta: quem raio é que vamos culpar pelos nossos males, quando o Bush se for embora?
26/02/08
Plágio 08: GTA Mindelo
Ao que consta, a animação e a disputa prevista entre os três pesos pesados para as próximas eleições autárquicas em S. Vicente, Gualberto do Rosário, Isaura Gomes e Onésimo Silveira, vai ser tanta, que até a multinacional Playstion prevê uma versão do mundialmente conhecido jogo Grand Theft Auto, especialmente dedicado ao tema. E ainda falta António Monteiro, que vale bem mais do que se costuma dar por ele, como tem sido demonstrado nos últimos périplos eleitorais sanvicentinos.

A primeira vez que entendi

alguma coisa
foi quando na infância
cortei o rabo de uma lagartixa
e ele continuou mexendo.
De lá para cá
fui percebendo que as coisas permanecem
vivas e tortas
que o amor não acaba assim
que é difícil extirpar o mal pela raiz.
A segunda vez que entendi do mundo
alguma coisa
foi quando na adolescência me arrancaram
do lado esquerdo três certezas
e eu tive que seguir em frente.
De lá pra cá
aprendi a achar no escuro o rumo
e sou capaz de decifrar mensagens
seja nas nuvens
ou no grafite de qualquer muro.
Affonso Romano de Sant'Anna
Imagem: Raphael, o pensativo
Tertúlia dos Mentirosos 02

Um homem de extrema pobreza, que não tinha mais que uma côdea de pão, aproximou-se da janela de uma cozinha e deixou embeber a sua côdea de pão no aroma requintado que subia dos fornos. Depois comeu-o.
O cozinheiro, que o tinha observado, mandou dois ajudantes agarrá-lo e pediu o preço do cheiro. Como o infeliz não podia pagar, os outros preparavam-se para o maltratar quando ele pediu:
— Algum de vós tem uma moeda? Que ma empreste por um momento.
Emprestaram-lhe uma moeda. Ele atirou-a para o chão de mosaico e disse ao cozinheiro:
— Escuta este barulho. Estás pago.
Jean-Claude Carrière in «Tertúlia dos Mentirosos»
Imagem: fotografia de Raul Alexandre, «Olhar Quadrado»
Crónica desaforada

1. A propósito da última remodelação governamental, que originou uma troca de Ministro da Cultura no governo português, o JL, Jornal de Letras, Artes e Ideias, publica um inquérito, onde questiona vários agentes culturais daquele país, dos mais diversos quadrantes artísticos, sobre quais as prioridades para a Cultura.
2. Nós, deste lado do Atlântico, que tanto gosto fazemos em imitar os confrades portugueses nas mais variadas aplicações políticas, sociais e económicas, bem que poderíamos seguir também alguns dos conselhos que ali estão publicados. É que, ao ler o que por ali se diz, não poucas vezes dei por mim a sorrir e a pensar cá com os meus botões: «olha que aplicado aqui, nem seria descabido de todo.»
3. Claro que deixo bem vincado que qualquer semelhança com o que se passa nestas ilhas da morabeza não passa da mais pura coincidência. A partir daqui, cada um que tire as conclusões que quiser, pois eu também já tirei as minhas. A partir do ponto 4, é como os tempos de antena: o espaço que se segue é da exclusiva responsabilidade dos agentes culturais que se predispuseram a responder ao referido inquérito.
Então é assim:
4. «Dotaram-se os distritos de equipamentos culturais, mas nunca existiu uma rede com uma programação efectiva. Os teatros foram abandonados à sua sorte e o Estado demitiu-se de proporcionar o mínimo de garantias para que a rede funcionasse». Américo Rodrigues, director do Teatro Municipal da Guarda.
5. «Fundamental é descobrir como as coisas podem funcionar com um orçamento tão baixo. E também não cair na tentação de fazer obras isentas de regime. Ou seja, iniciativas efémeras e inconsequentes que funcionam como uma espécie de fogo de artifício.» António Pinho Vargas, compositor.
6. «A cultura deve ser feita pelos artistas e pessoas do meio e não por ministros. E é absurdo dizer: “vamos fazer mais com menos dinheiro”. Ainda falta a revolução cultural em Portugal. E é necessário dinheiro para que a Cultura não se torne um peditório, mas sim um desígnio.» Carlos Martins, músico.
7. «Considero ser mais necessário reconquistar a confiança dos operadores culturais e explicar qual a linha de rumo do Ministério. Considero ser necessário explicitar aos decisores políticos a ligação intrínseca entre Cultura e desenvolvimento do País, entre cultura e identidade, entre cultura e redes comunitárias. Considero necessário a criação de linhas estratégicas duráveis que dêem estabilidade ao crescimento e sedimentação de projectos e instituições. Que se perceba que o Governo, sendo um protagonista e um motor decisivo, não é um Sol em torno do qual a Sociedade gravita. E que se dê mais atenção ao sentido de serviço público que ao da ditadura do gosto.» Jorge Barreto Xavier, gestor cultural.
8. «Queixas (que há sempre) valem o que valem cada uma delas, corporativa e individualmente, mas só é possível apreciá-las em função de uma definição teórica e prática (ou seja política) do Ministério (…). Em 2008, é casa sem pão, onde todos ralham e têm razão.» José Augusto França, historiador de arte e escritor.
9. «Primeiro há que fazer uma distinção entre arte e cultura. O que deve haver é um maior acesso da comunidade à cultura, criando condições para a criação. E para isso impõem-se introduzir – e logo no básico – os mais variados cursos de ensino artístico, porque a nossa cultura tradicional está a desfazer-se, invadida pela cultura de massas de que fala Adorno. Claro que isto implica que o orçamento da Cultura seja aumentado, isto se o Governo considerar prioritária a arte e a cultura do cidadão.» José Gil, filósofo.
10. «A nível global deve haver aquilo que não sei se alguma vez existiu entre nós: uma politica de fomento cultural, à semelhança do que existe na Economia, no Turismo, etc. Deve haver também aquilo que está completamente por fazer em Portugal: um diálogo activo e profícuo entre o Ministério da Cultura e o Ministério da Educação, capaz de criar públicos no futuro.» Luís Filipe Rocha, cineasta.
11. «É necessário que as políticas culturais sejam implementadas com serenidade, rigor, coerência e visão estratégica, de modo a potenciar os recursos e tirar partido das múltiplas sinergias que o sector comporta.» Maria Calado, especialista em Património.
12. «É fundamental revivificar o tecido cultural. É preciso proteger e acarinhar os criadores. O olhar do ministério para o mundo cultural tem que ser flexível e criar condições para acolher visões de pluralidade. Tem que haver uma política cultural de largo espectro que precisa de ser sustentada e criada com pluralidade, inteligência e criatividade. E os políticos devem ser criativos. É necessário um projecto de cultura para o Ministério da Cultura.» Nuno Cardoso, encenador e actor.
13. E muito mais haveria por dizer, pois são tantos os desafios. Mas quantas destas opiniões do lado de lá não merecem ser lidas pelos nossos governantes do lado de cá? Há, pois, pano para mangas e portanto, mãos à obra. Vamos, de forma construtiva, dar também a nossa colaboração, aproveitando aquilo que é, e deve continuar a ser, o espaço blogueiro: um espaço de liberdade (e muita criatividade, que o nosso MC bem agradece).
25/02/08
Café à Medida

Um Café à Medida, pois. Ou como diria o outro, «very typical»...
Café Insólito

Esta associação, que diz estar a «colaborar para a paz mundial» e a «conservar o meio ambiente», organiza eventos, para que os maridos possam expressar a sua devoção em público.
A associação estabeleceu algumas regras que o marido pode facilmente seguir em casa: «contentar a esposa assumindo pelo menos uma das tarefas de casa; expressar gratidão; ouvir as novidades que a mulher tem para contar do seu dia-a-dia; livrar-se do sentimento de vaidade masculina e de excessiva preocupação com as aparências e olhar directamente nos olhos da esposa ao falar com ela.»
Além disso, e esta é a parte mais interessante da notícia, a associação designou a data de 31 de Janeiro como o «Dia da Esposa Amada», altura em que o marido deve «mostrar na prática seu amor e voltar para casa às 8 horas da noite, jantar com a família e dizer à mulher o quanto ele gosta dela por tudo que ela faz para ele próprio e para a família».
Como, entretanto, o dia 31 de Janeiro já passou, não resta outra solução às esposas crioulas que esperar um ano para que este dia possa ser celebrado como deve de ser em Cabo Verde! Será que a moda pega por aqui?
Post dedicado ao cliente habitual Alex, que adora esta coisa dos «dias de».
23/02/08
Primeiro levaram os negros

Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro
Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário
Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável
Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei
Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.
22/02/08
Tertúlia dos Mentirosos 01

Uma história sem origem conhecida, mas que se encontra um pouco por toda a parte, diz que um demónio encontrou outro demónio a rebolar-se pelo chão, gritando e chorando, como tomado por uma dor incomparável.
- De que sofres? - perguntou o primeiro demónio.
Entre dois soluços, o outro respondeu:
- Tenho em mim um anjo. E ele atormenta-me.
Jean-Claude Carrière in «Tertúlia dos Mentirosos»
21/02/08
Heróis Nacionais 10

"Não, ca tem piada, ranjá farnél
Metê na côrre e largá pa tcháda
Sabe é bô sentá te cmê
Quél midje assóde má quel pápa q’lête
Ô, quél rabim d’tchúc
E quêl fejôn pédra malaguetóde...
Cabá, datárde, metê na rebéra
T'uvi aga ma pardal cantá
Ô subi na tôpe d’algum ladêra,
pa bá descubri mar
Ô oiá sôl ta cambá."
«Dia de Féria» de Sérgio Frusoni
Imagem: desenho de Sérgio Frusoni, concebido por Manuel Lopes
Por falá na Salvason

20/02/08
Café Lunar
A não perder!
«Eclipse Lunar»
Vamos ver, ouvir & apreciar!
Horário: a partir das 01:43 GMT ou -1 hora em CV
Local: será visível na Europa e África nas primeiras horas de 5a feira
Segundo nos informa o Tide, no seu espaço bloguiano, desta somos nós os privilegiados, mas o detalhe, segundo a mesma fonte é bom apreciar esse porque será o último visível para esta região do globo nos próximos 2 anos. Aproveitem amigos, além do mar, outra grande riqueza de Cabo Verde é o céu de estrelas, que é na grande parte do ano limpo de nuvens e com visibilidade excelente.
Cafeína

«Todos os homens escondem segredos. E tu? Escondes algum segredo? Não precisas de responder. Conhecemos a tua história. Vimos-te mesmo quando não nos vias. Vemos-te agora. Escondes algum segredo? Responde quando te olhares ao espelho. O teu rosto duplicado: o teu rosto e o teu rosto. Quando vires os teus olhos a verem-te, quando não souberes se tu és tu ou se o teu reflexo no espelho és tu, quando não conseguires distinguir-te de ti, olha para o fundo dessa pessoa que és e imagina o que acontecia se todos soubessem aquilo que só tu sabes sobre ti. Nesse momento, estaremos contigo. Envolver-te-emos e estarás sozinho…»
José Luís Peixoto in «Antídoto»
Imagem: pintura de Magritte
19/02/08
12 Palavras

No site do Bagaço Amarelo, que visito regularmente aparece a sugestão: doze palavras, mesmo para quem não considere que precisa de ser salvo.
As minhas são:
arte partilha
criação momento
pedra grinhassim sonho
noite beijo
Café Sonoro

É que actriz norte-americana Scarlett Johansson estreia-se na edição discográfica em Maio quando sair o álbum «Anywhere I lay my head», no qual interpreta temas de Tom Waits.
De acordo com a revista Billboard, o álbum de estreia da actriz sairá a 20 de Maio e apresenta dez versões de temas do músico norte-americano e uma canção original, embora não tenha ainda sido revelado o alinhamento.
"Anywhere I lay my head" é o título de um tema de Waits, incluído no álbum "Rain Dogs", de 1985.
Um café com... Mayra Andrade

Aqui ficam algumas frases, ditas na primeira pessoa:

18/02/08
Escuridão Solidária

Recebi este mail e achei interessante que possamos também aderir a esta iniciativa planetária. Vamos colaborar e divulgar?
Escuridão mundial
Se a resposta for massiva, a poupança energética pode ser brutal.
Só 5 minutos, para ver o que acontece.
Sim, estaremos 5 minutos às escuras, podemos acender uma vela e simplesmente ficar a olhar para ela, estaremos a respirar nós e o planeta.
Lembrem-se que a união faz a força e a Internet pode ter muito poder e podemos mesmo fazer algo em grande. Passem a notícia, se tiverem amigos a viver noutros países enviem-lhes uma mensagem para que façam a tradução e adaptem as horas.
Imagem: «O Doido e a Morte». fotografia de João Barbosa
Plágio 07: Porque sim, porra!
«Caros, João e trupe do Grupo de Teatro do Centro Cultural Português:
Continuai o bom trabalho, sempre com golpes de audácia, sem pedir licença ou desculpas a ninguém. No entanto atentai, que muitas palmadas nas costas podem esconder furtivas adagas. Sejais mensageiros de boas novas, e muitas cenas. Sendo a nossa terra de muito vento e não pouca poeira, ignorai os grãos de areia com que buscam os ‘Fortinbrás’ turvar ‘a vista da alma’ de alguns incautos. Como disse Ricardo Reis “Para ser grande, sê inteiro: nada teu exagera ou exclui. Sê todo em cada coisa. Põe quanto és no mínimo que fazes.”
Esta é para mim “uma alegria de certo modo incompleta”. Não por ter lágrimas ou cânticos fúnebres, como era o caso em Elsinor, mas por estar apartado do vosso convívio, e da vossa obra apenas me chegar a doce tortura dos rumores e o silêncio dos aplausos, que aos felizes Mindelenses invejo. Saibam que a lei comum que une os homens é as suas múltiplas fraquezas, e sabendo isto, que não é pouco, sabemo-nos perdoados.
Sabeis melhor do que eu, que apenas sofro de melancolia, que não há ingratidão que vença a força de quem, por andar descalço, escolheu o conforto dos caminhos mais difíceis e rigorosos. Que as poucas recompensas, para além do caminhar orgulhosamente a ombro, e no plural, são as feridas, as nódoas negras, e as cicatrizes que sabemos nossas, e por o serem, nos fortalecem e nos lavam a alma.
Que o mundo é feito de coisas vis, sabemo-lo todos. O que poucos sabem ainda é que esse defeito original é apenas um desafio, uma oportunidade que a natureza nos concedeu para a contrariarmos.
Escrevo-vos, sem nunca vos ter visto em cena, sem nunca vos ter conhecido, sem que entre nós tenha havido outro negócio que não o desta unilateral admiração. Prefiro que assim seja. Acerco-me pois de vós, como diria Horácio, por “capricho de vagabundo”. Mas também por fraqueza de coração e por amor, que tudo o que toca a Cabo Verde me obriga, por dever de gratidão, por capricho de amizade, e por alegria do espírito, ao reconhecimento e à partilha, sem Obrigado’s de circunstância.
Entendei, pois, como quiserdes este gesto. Saboreai este café como vos aprouver, com açúcar de lei, ou simplesmente “margoso” como manda a regra da casa.
Deixo-vos, a ti, João, e à tua trupe, um conselho, e um pedido aos vossos gentis corações vagabundos e saltimbancos.
O conselho, que não é meu (como podia o atrevimento?), ireis colhê-lo à Cena III, do Acto Primeiro, de Hamlet, o de Polónio a Laertes, na despedida, dispensando a mão paternal na cabeça, ou a haver uma, seja ela a vossa sobre a minha. “Fixa na tua memória estes conselhos: Não dês língua…” o resto está lá, lê-o com eles, e como é óbvio, é tanto para ouvir quanto para sentir.
O pedido é bem mais breve. Partilhai. Perseverai. Perseverai sempre na partilha.
“Palavras, palavras, palavras!”? Em tempos de ingratidão, é de justiça que duvideis. Mas, “Ser ou não ser, eis a questão.”
E, eu acredito!
E na cal recrudesce a luz
com o fulgor de uma aurora dourada.
No fundo do teu coração habita um céu imenso.
O que trago na ponta dos meus dedos
é ainda o calor da tua face.
O poema vem de longe com as palavras.
No dorso do tempo a precária memória
abrindo sulcos na geografia das pedras.
É para a luz que o verbo sangra
inevitável ferida, sopro e voz,
raiz de fogo subindo à língua.
Na boca arde ainda o grito
das cinzas do primeiro canto.
Alexandre Cunha
16/02/08
Cafeína

«Não se devem levar as críticas demasiado a sério. O meu primeiro conto foi asperamente atacado por um crítico em particular. Fiquei chocado e fiz algumas considerações cáusticas a seu respeito. Um dia, porém, reli a história e concluí que ele tinha razão. Era mal construída, superficial.
Nunca mais esqueci o incidente e, anos depois, quando a Luftwaffe bombardeava Londres, pus uma luz apontada à casa do crítico.»
Woody Allen, in «Efeitos Secundários»
Imagem: gravura de Lichtenstein «Whaam»
















