26/01/09

Café Visual




Pintura "Sonho de Poeta", de Tchalé Figueira

3 comentários:

  1. Ah, pois, o sonho...!

    Mas,

    "Eles não sabem que o sonho

    é uma constante da vida

    tão concreta e definida

    como outra coisa qualquer,

    como esta pedra cinzenta

    em que me sento e descanso,

    como este ribeiro manso

    em serenos sobressaltos,

    como estes pinheiros altos

    que em verde e oiro se agitam,

    como estas aves que gritam

    em bebedeiras de azul.


    eles não sabem que o sonho

    é vinho, é espuma, é fermento,

    bichinho álacre e sedento,

    de focinho pontiagudo,

    que fossa através de tudo

    num perpétuo movimento.



    Eles não sabem que o sonho

    é tela, é cor, é pincel,

    base, fuste, capitel,

    arco em ogiva, vitral,

    pináculo de catedral,

    contraponto, sinfonia,

    máscara grega, magia,

    que é retorta de alquimista,

    mapa do mundo distante,

    rosa-dos-ventos, Infante,

    caravela quinhentista,

    que é cabo da Boa Esperança,

    ouro, canela, marfim,

    florete de espadachim,

    bastidor, passo de dança,

    Colombina e Arlequim,

    passarola voadora,

    pára-raios, locomotiva,

    barco de proa festiva,

    alto-forno, geradora,

    cisão do átomo, radar,

    ultra-som, televisão,

    desembarque em foguetão

    na superfície lunar.



    Eles não sabem, nem sonham,

    que o sonho comanda a vida,

    que sempre que um homem sonha

    o mundo pula e avança

    como bola colorida

    entre as mãos de uma criança".

    (António Gedeão, Pedra Filosofal,
    in Movimento Perpétuo)

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  2. Um dos poemas mais bonitos da lingua portuguesa. E combina bem com esta bela pintua do Tchalé, não é?!

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  3. Foi também o que pensei!
    Desculpa não ter assinado o comentário. Mero esquecimento.

    a) RB, anónimo por obrigação

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