11/06/10

Cafeína





«Filologicamente amador é o que ama. Na linguagem corrente também, e opõe-se a profissional. Amor e profissão, quando se juntam, dão consequentemente “profissão de amador” ou “amor de profissional”. A primeira confusão dá de comer aos críticos e às galerias de arte, quando as há: a segunda faz nascer os homens de letras, os artistas profissionais e as prostitutas. Nas confusões parece que é sempre tudo a ganhar... Mas entre as muitas coisas erradas e do meu gosto que me têm chamado, é a mais certa, e do meu gosto terem-me chamado “amador”.»

António Pedro - poeta, encenador, artista plástico

2 comentários:

  1. Eu, sempre me considerei um "amador profissional"...

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  2. E porque não transformar o amador na coisa amada?

    "Transforma-se o amador na cousa amada,
    Por virtude do muito imaginar;
    Não tenho logo mais que desejar,
    Pois em mim tenho a parte desejada.

    Se nela está minha alma transformada,
    Que mais deseja o corpo de alcançar?
    Em si somente pode descansar,
    Pois consigo tal alma está liada.

    Mas esta linda e pura semideia,
    Que, como o acidente em seu sujeito,
    Assim co'a alma minha se conforma,

    Está no pensamento como ideia;
    O vivo e puro amor de que sou feito,
    Como matéria simples busca a forma".

    (Camões)

    Ou, mais prosaicamente, ser apenas amador da existência?

    "Resolvi andar na rua
    com os olhos postos no chão.
    Quem me quiser que me chame
    ou que me toque com a mão.

    Quando a angústia embaciar
    de tédio os olhos vidrados,
    olharei para os prédios altos,
    para as telhas dos telhados.

    Amador sem coisa amada,
    aprendiz colegial.
    Sou amador da existência,
    não chego a profissional".

    (António Gedeão)

    a) RB

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