09/03/10

Cafeína





«Têm dias. Têm noites. Conseguem ser tão calculistas e maldosas como qualquer homem, só que com muito mais nível. Inventaram o telemóvel ao volante. São corajosas e quando se lhes mete uma coisa na cabeça levam tudo à frente. Fazem-se de parvas porque o seguro morreu de velho e estão muito escaldadas. Fazem-se de inocentes e (milagre!) por esse acto de vontade tornam-se mesmo inocentes. Nunca perdem a capacidade de se deslumbrarem. Riem quando estão tristes, choram quando estão felizes. Não compreendem nada. Compreendem tudo. Sabem que o corpo é passageiro e que o amor é um bom fio condutor. Não são de confiança mas até a mais infiel das mulheres é mais leal que o mais fiel dos homens. São tramadas. Comem-nos as papas na cabeça, mas depois levam-nos a colher à boca. A única coisa em nós que é para elas um mistério é a jantarada de amigos - elas quando jogam é para ganhar. E é tudo. Ah, não, há ainda mais uma coisa. Acreditam no Amor com A grande mas, para nossa sorte, contentam-se com pouco.»

Rui Zink, a propósito do Dia Internacional da Mulher

 

4 comentários:

  1. O Rui Zink foi mulher numa outra encarnação!
    - Antes que resolvas banir os posts do Facebook. ;)

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  2. "Esta é a forma fêmea:
    dos pés à cabeça dela exala um halo divino,
    ela atrai com ardente
    e irrecusável poder de atracção,
    eu me sinto sugado pelo seu respirar
    como se eu não fosse mais
    que um indefeso vapor
    e, a não ser ela e eu, tudo se põe de lado
    — artes, letras, tempos, religiões,
    o que na terra é sólido e visível,
    e o que do céu se esperava
    e do inferno se temia,
    tudo termina:
    estranhos filamentos e renovos
    incontroláveis vêm à tona dela,
    e a acção correspondente
    é igualmente incontrolável;
    cabelos, peitos, quadris,
    curvas de pernas, displicentes mãos caindo
    todas difusas, e as minhas também difusas,
    maré de influxo e influxo de maré,
    carne de amor a inturgescer de dor
    deliciosamente,
    inesgotáveis jactos límpidos de amor
    quentes e enormes, trémula geleia
    de amor, alucinado
    sopro e sumo em delírio;
    noite de amor de noivo
    certa e maciamente laborando
    no amanhecer prostrado,
    a ondular para o presto e proveitoso dia,
    perdida na separação do dia
    de carne doce e envolvente.

    Eis o núcleo — depois vem a criança
    nascida de mulher,
    vem o homem nascido de mulher;
    eis o banho de origem,
    a emergência do pequeno e do grande,
    e de novo a saída.

    Não se envergonhem, mulheres:
    é de vocês o privilégio de conterem
    os outros e darem saída aos outros
    — vocês são os portões do corpo
    e são os portões da alma.

    A fêmea contém todas
    as qualidades e a graça de as temperar,
    está no lugar dela e movimenta-se
    em perfeito equilíbrio,
    ela é todas as coisas devidamente veladas,
    é ao mesmo tempo passiva e activa,
    e está no mundo para dar ao mundo
    tanto filhos como filhas,
    tanto filhas como filhos.
    Assim como na Natureza eu vejo
    minha alma reflectida,
    assim como através de um nevoeiro,
    eu vejo Uma de indizível plenitude
    e beleza e saúde,
    com a cabeça inclinada e os braços
    cruzados sobre o peito
    — a Fêmea eu vejo.

    (Walt Whitman, "Leaves of Grass")

    a) RB

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  3. Lol... muito bom.

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  4. Hum... como conhece ele tão bem as mulheres?

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