11/09/09

Com fúria e raiva




          Com fúria e raiva acuso o demagogo
          E o seu capitalismo das palavras

          Pois é preciso saber que a palavra é sagrada
          Que de longe muito longe um povo a trouxe
          E nela pôs sua alma confiada

          De longe muito longe desde o início
          O homem soube de si pela palavra
          E nomeou a pedra a flor a água
          E tudo emergiu porque ele disse

          Com fúria e raiva acuso o demagogo
          Que se promove à sombra da palavra
          E da palavra faz poder e jogo
          E transforma as palavras em moeda
          Como se fez com o trigo e com a terra

          Sophia de Mello Breyner Andresen


          Ilustração Abraão Vicente, da série "Rompendo o silêncio"

6 comentários:

  1. Poema Agnetikon: forte que encaixa como uma luva neste circo e noutros por este Mundo fora.

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  2. o demagogo que se promove à sombra da palavra...! Hum, faz-me definitivamente lembrar alguém!

    a) RB

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  3. Tchalé, sem dúvida.

    RB, há muitos, há muitos!

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  4. " a incompletude e' a nossa imperfeixao"

    ManuMoreno
    Kel abxom di kuraxom!!

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  5. Muito obrigada pelo poema.

    moreia

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  6. Palavra, dom singular...
    Do que somos, a metade!
    É forçoso decretar
    Que só a use a verdade!
    Zito

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