
Amigos, não consultem os relógios
quando um dia eu me for de vossas vidas
em seus fúteis problemas tão perdidas
que até parecem mais uns necrológios...
Porque o tempo é uma invenção da morte:
não o conhece a vida – a verdadeira –
em que basta um momento de poesia
para nos dar a eternidade inteira.
Inteira, sim, porque essa vida eterna
somente por si mesma é dividida:
não cabe, a cada qual, uma porção.
E os Anjos entreolham-se espantados
quando alguém – ao voltar a si da vida –
acaso lhes indaga que horas são...
Mário Quintana
O tempo por define a nossa vida em vez de ser a vida a definir o tempo...
ResponderEliminar"Só os mortos não morrem"
ResponderEliminarSó eles a mim me restam, são tranquilos e leais
os que a morte não pode matar mais com seus punhais.
Ao declinar da estrada, no final do dia
em silêncio se acercam, em sossego seguem a minha via.
Verdadeiro pacto é nosso, nó que o tempo não desmente.
Só aquilo que perdi é meu eternamente.
Rachel Bluwstein numa tradução de Nuno Guerreiro Josué
Quando leio isto penso no meu pai.
Um abraço.
Entre outras artes, meu pai foi relojoeiro pelo que eu estou habituado a ver relógios desde que me conheço, a ouvir tic-taques, campaínhas e carrilhões, num sinfonia de sons e tons que sempre me encantaram...Temía pela vida de relógios esventrados, peça a peça, parafuso a parafuso, tudo muito pequenino, manejado à pinça de luneta presa ao olho direito, devagar, muito devagar, quase com carinho até retomar a aparencia inicial, para meu descanso...Eram objectos mágicos, de pulso, de bolso, de parede, de coluna. até de pendurar ao peito ou encrustado num anel de tamanho invulgar...Eram mágicos porque medíam o tempo que era coisa que eu não sabía bem o que era e, mesmo hoje, tenho as minhas dúvidas!
ResponderEliminarZito Azevedo
Mario Quintana in English
ResponderEliminarAh, Watches! (Ah, os Relógios!)
Friends, to consult your watches will be useless
when, someday, I am gone from your lives
so lost in solving futile problems to survive
they seem to be obituaries in progress.
For time is an invention of death;
it is unknown to life, true life, that is,
when a single moment of poetry
is enough to give us all of eternity.
All of it, yes, because eternal life
can only by itself be divided;
it cannot be apportioned, bit by bit.
And the Angels trade looks of bewilderment
when someone —himself again, in the afterlife—
happens to ask them: “What time is it?”…
(translated by John D. Godinho)
Ah, Watches! in The Color of the Invisible