17/06/09

Como eu não possuo



Como eu desejo a que ali vai na rua,
tão ágil, tão agreste, tão de amor...
Como eu quisera emaranhá-la nua,
bebê-la em espasmos de harmonia e cor!...

Desejo errado... Se eu a tivera um dia,
toda sem véus, a carne estilizada
sob o meu corpo arfando transbordada,
nem mesmo assim, ó ânsia!, eu a teria...

Eu vibraria só agonizante
sobre o seu corpo de êxtases dourados,
se fosse aqueles seios transtornados,
se fosse aquele sexo aglutinante...

De embate ao meu amor todo me ruo,
e vejo-me em destroço até vencendo:
é que eu teria só, sentindo e sendo
aquilo que estrebucho e não possuo.

Mário de Sá-Carneiro

5 comentários:

  1. Manu Moreno17 junho, 2009

    liiindoooo!!!!

    dexam manda um palavriadu:

    Lagrimás di lembrança
    vóz di sodadi na murmuria
    bebo de um trago
    que a morte é o assocego

    Stranhu dor é sólidón
    é badja morna á um
    é desejar sem provar
    é querer, não poder

    Korpu di méu
    alma di kré-tchéu
    nas asas de um passarinho
    la se flutua o meu espirito

    kel abçom di kuraçom!!!
    ManuMoreno

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  2. Quente! No tema e na sua expressão! Dá para uma pessoa reconhecer-se nestes versos pois desejamos sempre o que não possuímos....

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  3. Manu, Mdsol e Tina, obrigado pelas marcas deixadas nesta fantástica poesia.

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  4. Oh João, ler Sá-Carneiro pelas mãos dos outros que, como eu, se deliciam com as suas palavras, enternece-me tanto. Grande momento, grande poema e, porque não, grande imagem!

    Abraços*

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