
O filme "Quem quer ser Bilionário?", o favorito ao triunfo, domingo, em Los Angeles, nos Óscares, não atraiu os espectadores na Índia e irritou um país que detesta que os holofotes apontem para a sua imensa pobreza. "'Quem quer ser Bilionário?' deve ser considerado como um das maiores fantasias gratuitas imaginadas sobre a Índia no século XXI", critica o realizador K. Hariharan, num artigo chamado "Orientalismo para um mercado mundial", publicado esta semana no jornal "The Hindu". "Para a maioria dos espectadores ocidentais esmagados pelo peso da crise económica mundial, o conto de fadas sobre a face mais sórdida da Índia deve certamente servir como uma orgia de purificação", continuou.
A longa-metragem do britânico Danny Boyle recebeu os principais prémios nos EUA e no Reino Unido, e poderá receber domingo o Óscar de melhor filme, enquanto as receitas americanas se aproximam dos 100 milhões de dólares. Mas a Índia - com a ambição de se tornar uma superpotência e com orgulho no seu crescimento - não gosta do filme que a imprensa local qualifica como "pornografia da pobreza" - num país onde 455 milhões de habitantes sobrevivem com menos de 1,25 dólares por dia.
A super estrela do cinema Bollywood Amitabh Bachchan denunciou o filme por revelar a "face sombria" de uma "Índia que brilha": miséria, violência, máfia, droga ou corrupção. Pelo contrário - defendeu-se Vikras Swarup, o autor do romance "Q&A" em que "Quem quer ser Bilionário?" se baseia, em entrevista à AFP - "[o filme e o romance] é a história do triunfo de um herói, um Zé Ninguém dos bairros de lata que triunfa contra todas as expectativas."
O representante de uma associação de habitantes de um bairro da lata do estado indiano Bihar, Tapeshwar Vishwakarma, apresentou queixa, em final de Janeiro, contra o actor indiano Anil Kapoor e contra o compositor da banda sonora, A. R. Rahman, por considerar que o filme "viola" os direitos do homem e a "dignidade" dos pobres. "O senhor Vishwakarma não espera nada de bom vindo de um realizador britânico, já que os seus antepassados já nos qualificavam de ‘cães'", explicou o seu advogado, Shruti Singh, referindo-se à colonização britânica que terminou em 1947.
As centenas de milhar de habitantes de Dharavi, em Bombaim, o maior bairro de lata da Ásia, onde decorreu a rodagem do filme, vê "Slumdog Millionaire" com indiferença. "Um filme é um filme. É para fazer sonhar", respondeu Raju Walla, 38 anos, junto ao abrigo onde vive com 21 pessoas. "'Quem quer ser Bilionário?' é muito diferente da realidade", afirmou.
Cá está. A velha questão do olhar de dentro e do olhar de fora. Qual olhar? Ainda não vi o filme, mas a contradição entre o sucesso fora da Índia e a contestação dentro do país que pretende retractar, incentiva um debate que vai muito além do cinema.
E é muito provável que domingo receba mesmo o Óscar para o Melhor Filme de 2009.
Fonte: Público
Na minha humilde opinião Slumdog Millionaire merece mesmo o Óscar.
ResponderEliminarCONCORDO!!!já vi 2 vezes e é um dos melhores filmes que eu já vi e adorei os "sons" :-p!!!
ResponderEliminarsk
A forma como a critica Indiana reagiu ao filme reflecte nada mais nada menos que a verdadeira Índia, nacionalista , extremista, violenta e pouco tolerante. Onde existe um sistema de casta medieval ( roça quase um apartheid não oficial ) onde os ataques violentos às minorias muçulmana, siques e outras é constante... A Índia é muito diferente da Índia dos postais, toda zen.
ResponderEliminarO filme é muito bom. E chamar a colação o colonialismo, é “apelar “...aliás a co-relizadora é indiana, o autor da obra que deu origem ao filme tb ,apesar do realizador ser britânico, da grande Inglaterra colonial.
Excelente filme JB. Vais gostar.
ResponderEliminarAbrass
Não foi só a critica indiana que reagiu mal ao filme, os pseudointelectuais do jornal Público também. Mas dão cinco estrelas ao Milk!!!
ResponderEliminarJoão, à parte destas questões aqui faladas, o "Slumdog Millionaire" é sem dúvida uma obra prima no que diz respeito à essência do cinema:
ResponderEliminarOs sons são muito bons, com uma banda sonora fantástica;
A FOTOGRAFIA é, a meu ver, GENIAL;
A montagem é alucinante ao bom estilo de outro filme do Danny Boyle-o Trainspotting;
A história é como qualquer outra no cinema: de sonhos, de lutas, de realidades cruas e no fim de tudo: de amor.
Vale sem dúvida nenhuma o Oscar.