16/10/08

O amor, quando se revela...




          O amor, quando se revela,
          Não se sabe revelar.
          Sabe bem olhar p'ra ela,
          Mas não lhe sabe falar.

          Quem quer dizer o que sente
          Não sabe o que há de dizer.
          Fala: parece que mente
          Cala: parece esquecer

          Ah, mas se ela adivinhasse,
          Se pudesse ouvir o olhar,
          E se um olhar lhe bastasse
          Pra saber que a estão a amar!
          Mas quem sente muito, cala;
          Quem quer dizer quanto sente
          Fica sem alma nem fala,
          Fica só, inteiramente!

          Mas se isto puder contar-lhe
          O que não lhe ouso contar,
          Já não terei que falar-lhe
          Porque lhe estou a falar...

          Fernando Pessoa

5 comentários:

  1. Fernando Pessoa é assim... mágico!

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  2. É incrível como qdo se trata de amor até o ser humano mais desinibido torna-se acanhado. Porque será?

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  3. Fernando Pessoa é mesmo Mágico
    mas deixo-lhe um que também escreveu coisas lindas acerca do Amor:

    Busque Amor novas artes, novo engenho

    Busque Amor novas artes, novo engenho
    Pera matar-me, e novas esquivanças,
    Que não pode tirar-me as esperanças,
    Que mal me tirará o que eu não tenho.

    Olhai de que esperanças me mantenho!
    Vede que perigosas seguranças!
    Que não temo contrastes nem mudanças,
    Andando em bravo mar, perdido o lenho.

    Mas, enquanto não pode haver desgosto
    Onde esperança falta, lá me esconde
    Amor um mal, que mata e não se vê,

    Que dias há que na alma me tem posto
    Um não sei quê, que nasce não sei onde,
    Vem não sei como e dói não sei porquê.

    Luís de Camões

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  4. Ate me apetece apaixonar so para dedicar este poema. :)

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  5. Lumadian, sem dúvida...

    Sisi, porque o amor, juntamente com a morte, é o que torna os humanos mais iguais... Calha a todos!

    Obrigado, Gi!

    Também é para isso que serve a poesia, Mya.

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