25/08/08

Eros é a água



    Entre as tuas pernas
    o mar revela-me estranhos recifes
    rochas erguidas corais altaneiros
    contra a minha gruta de búzios concha nácar
    o teu molusco de sal persegue a corrente
    a pequena água inventa-me barbatanas
    mar da noite com luas submersas
    tua ondulação brusca de polvo congestionado
    acelera nas minhas guelras um latejar de esponja
    e os cavalos minúsculos flutuam entre gemidos
    enredados em longos pistilos de medusa.

    Amor entre golfinhos
    aos saltos lanças-te sobre o meu flanco leve
    recebo-te sem ruído olho-te entre bolhas
    cerco o teu riso com a minha espuma
    ligeireza da água oxigénio da tua vegetação de clorofila
    a coroa de lua abre espaço ao oceano.

    Dos olhos prateados
    flui longo olhar final

    e erguemo-nos do corpo aquático
    somos carne outra vez
    uma mulher e um homem
    entre as rochas.

    Gioconda Belli, in "O mar na poesia da América Latina"


5 comentários:

  1. A mistura do ammor com o mar só poderia originar um poema lindo como esse. O poema lembrou-me muito uma letra de uma linda música da cantora Ana Carolina que é "Eu que não sei quase nada do mar" (http://vagalume.uol.com.br/ana-carolina/eu-que-nao-sei-quase-nada-do-mar.html)

    ResponderEliminar
  2. Vou investigar! Já sabes como eu sou... hehe

    ResponderEliminar
  3. É, João,
    Sem palavras...
    Nude

    ResponderEliminar
  4. Amiga sisi, eu fui lá no site da Ana Carolina e já me inscrevi grátis ( adoro essa palavra - GRÁTIS ) nas novidades, pois o site dela é no Universo On Line, o UOL, do qual sou cliente desde 1999...Ela, apesar de ser quase desconhecida, é uma boa cantora.

    ResponderEliminar